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Desrespeito e afronta à memória negra de São Paulo.

Por Tadeu Kaçula – Sambista e sociólogo

Sempre que recorremos à história da formação social, econômica e arquitetônica da maior cidade do país, a cidade de São Paulo, nos deparamos com uma série de deformações sociais e repetidas políticas de apagamento e silenciamento da população preta que construiu a história e a estrutura tanto arquitetônica, quanto social dessa cidade.

Ao longo da história moderna, sobretudo no Brasil, a população preta vem sofrendo duras tentativas de apagamento e segregação social por uma agenda política extremamente racista, elitista e supremacista branca. Essa violência sistêmica contra a população preta se dá não apenas no espectro político-social, mas também por uma violência simbólica, epistêmica e institucional, pois o Estado legitima, estimula e, em muitas vezes, promove políticas violentas de apagamentos, invisibilização e desrespeito pela história e pela memória da população preta, em especial na maior cidade do nosso país.

Na tarde deste domingo, 17 de setembro, aconteceu um episódio repugnante na Praça da Liberdade, bairro que tem uma origem histórica de presença massiva da população preta até o início do século XX. A prefeitura de São Paulo, através da secretaria de cultura e da subprefeitura da Sé, autorizou a realização de um evento, organizado pela associação nipo-brasileira, e a organização montou um palco sobre a escultura da matriarca do samba paulista, a sambista Madrinha Eunice.

Para as pessoas que ainda não conhecem a trajetória exitosa dessa mulher preta e vanguardista, sugiro que procure conhecer e compreender a relevância histórica dessa matriarca do samba. Deolinda Madre, Madrinha Eunice, foi a primeira mulher a presidir uma escola de samba, a Lavapés fundada no ano de 1937 no Bairro da Liberdade, região central de São Paulo. Começou na música no batuque de umbigada na cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, onde nasceu, e mudou-se aos 12 anos para a capital paulista, onde construiu seu reinado no samba.

A prefeitura de São Paulo que, depois de muito debate e análises técnicas propostas pela sociedade civil organizada, instalou 5 novas estatuas de pessoas negras na cidade como forma de promover a igualdade racial e valorização da diversidade étnica na capital. Entretanto, a postura de descaso e desrespeito ao patrimônio e à memória da população preta é uma triste e preocupante realidade da gestão pública vigente.

O departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da secretaria de cultura de São Paulo tem o papel de promover, zelar e fazer o acompanhamento de todas as estátuas e monumentos da cidade e isso inclui a escultura da sambista Madrinha Eunice.

A prefeitura de São Paulo, através da Secretaria de Cultura, divulgou uma nota alegando que o evento que violou a escultura da sambista Madrinha Eunice foi realizado através de uma emenda parlamentar e justifica que a SMC não tem responsabilidade pela organização do evento.

É importante salientar que é responsabilidade da gestão pública todas as manifestações em áreas públicas, inclusive praças, avenidas e equipamentos públicos, bem como é de responsabilidade da gestão pública acolher, autorizar, acompanhar, fiscalizar eventos na cidade através das subprefeituras e da secretaria de cultura.

Sendo assim, é necessário que a prefeitura de São Paulo apure este episódio lamentável de desrespeito à memória preta da nossa cidade e assuma a sua parcela de responsabilidade cobrando e responsabilizando os organizadores desse evento custeado com emenda parlamentar do vereador tucano Aurélio Nomura.

A população preta de São Paulo precisa e merece uma explicação plausível e uma retratação pública para que episódios inaceitáveis como esse jamais aconteça. Caso contrário, será inviável a tentativa de manter um diálogo qualitativo com uma gestão que não respeita e não salvaguarda a memória de uma população cuja história de lutas e resistências permeia por todos os territórios periféricos e centrais da nossa cidade. Não seremos mais silenciadas(os), apagadas(os) e nem tão pouco invisibilizadas(os).

Viva Deolinda Madre, a nossa matripotente sambista Madrinha Eunice, uma das personalidades mais importantes da cultura preta paulistana!

Matéria: LEGADO DA SAMBISTA MADRINHA EUNICE E ESCOLA LAVAPÉS REVELAM POTÊNCIA DA PRESENÇA NEGRA NA EDIFICAÇÃO DA CIDADE DE SP

Foto de capa: Palco foi montado ocultando a estátua de uma das matriarcas do samba de São Paulo – Foto: Reprodução/Redes Sociais.


NOTA

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