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A NOVA ARCA DE NOÉ: O GUARDA ROUPA

Questiono cada palavra não dita e entendo como dita, ouço gritos “DEIXE-ME SAIR DO ARMÁRIO, DO GUARDA ROUPA”. Calma!, aqui a expressão “SAIR DO ARMÁRIO” não descreve o anúncio público da orientação sexual ou identidade de gênero de alguém, ou de si próprio, mas ainda sim, é um grito de liberdade.

Sair do “ARMÁRIO” é descrito como um processo psicológico; uma tomada de decisão ou a assunção de riscos; uma estratégia ou plano; uma massa ou evento público; um ato de fala e uma questão de identidade pessoal; um rito de passagem; libertação ou emancipação.

Ouço questionando, “LIBERTE-ME”, um grito que ecoa e incita minhas memórias, tão minhas que quando compartilho, se tornam nossas. Ao longo destes 4 anos criei memórias coletivas através das roupas e do slogam:” VISTAM ROUPAS QUE CONTAM HISTÓRIAS”, de modo que novas protagonistas tecem teias e prolongam o ciclo de vida das roupas. É comum durante nossas vidas acumularmos peças que remetam pessoas e momentos, peças de roupas que muitas vezes ultrapassam gerações familiares, que mesmo perdendo sua utilidade inicial, são guardadas com afeição, nascem assim as arcas de Noé.

A Arca de Noé, era um grande navio construído por Noé, a mando de Deus, para salvar a si mesmo, sua família e um casal de cada espécie de animais do mundo, antes que viesse o Grande Dilúvio da Bíblia. E o guarda roupa em plena pandemia demonstrou-se a nova arca, construída por várias mulheres, num desejo assíduo de identidade, pertencimento e diferenciação. A Arca, o guarda roupa, deixou de ser um biblioteca de memórias para tornar-se um estoque de vestimentas, uma de cada “espécie”.

No Programa Sobre Tudo, @sobretudo.programa, abordo através das lives, a moda e o consumo criando conexões com produtoras, consultoras e editoras de moda, estilistas, influencers, modelos e personal stylist. O processo da consultoria de estilo, o desapego e os conceitos de moda sustentável, consumo consciente, moda de reuso (segunda mão – brechó), varal da troca, guarda roupa inteligente, ciclo de vida da roupa, dentre outros, são ferramentas que há 4 anos tenho lhe fornecido para que aprende, quais são os seus “SIM’S para conseguir identificar, quais são os “Não’s”. Dialogar com elas, (Maiwsi (@maiwsi), Cris Marques (@crismbadu), Joyce Carolina (@joycaroll), Nayara Reis (@sovemquemcurte), Carla Stela (@carlastela), Mariana Portela ( @marianaportelaconsultoriamoda) e Marleyh Selo (@marleyhselo_consultoraeautora)), corroborou com esse dialogo, que estabelecemos a cada matéria redigida por mim, aqui no Jornal Empoderado (@jornalempoderado). Falamos de ideal, atitude, personalidade, manifesto, ancestralidade, desconstrução de padrões, resgate/construção e reconstrução da auto estima e memórias.

O que me leva até a série, “As Crônicas de Nárnia”, conta a história de quatro crianças que se refugiaram na casa de um professor para fugir da segunda guerra mundial. Essas crianças, que se chamam: Lúcia, Edmundo, Susana e Pedro, encontram um GUARDA ROUPA que serve como um portal, para Nárnia.  Ouvi inúmeras vezes que possuo esse portal, cada vez que adentro meu quarto e retorno com uma peça mais baphônica que a anterior, no evento Varal da Troca. Onde as convido para uma terra misteriosa e desconhecida, um encontro consigo mesma através do ato de despir-se, encarar o espelho e vestir-se.

MÚSICAS INSPIRADAS EM "AS CRÔNICAS DE NÁRNIA: O LEÃO, A FEITICEIRA ...

Em algum momento da sua infância alguém lhe contou a fábula de João e Maria, fala sobre dois irmãos que foram levados para serem abandonados na mata, mas ao ouvirem sobre esse plano, deixaram nacos ou migalhas de pão no caminho para poderem voltar para casa. A fábula traça uma narrativa sobre o sentimento de desamparo, a busca por independência, a satisfação, frustração e, por fim, a coragem. Sentimentos, estes, que alimentam o consumo. Quando tomados pelas emoções, compramos; quando obtemos a independência financeira ou não, compramos; quando queremos nos satisfazer, compramos alegando “eu mereço” e quando nos resgatamos, assim como João e Maria encontramos um momento de satisfação extrema, compramos. Gritamos ao mundo quem somos através do nosso consumo e perdemos a inocência, assim como João e Maria que se tornaram caçadores de bruxas.

João e Maria: Caçadores de Bruxas - Filme 2013 - AdoroCinema

Seguindo as migalhas, deparo-me com a nova versão do enigma “Decifra-Me ou Te Devoro”, muitas são as mulheres devoradas na tentativa de se decifrar através do consumo, de cada peça adquirida por impulso, pela compulsão do “ter” e pelo status. A cada nova compra já estão pensando na próxima.

Jean Baudrillard em Sociedade de Consumo (1981) diz: “Somos todos, então, atores no “teatro” do consumo”. Afinal QUEM NUNCA abriu o armário lotado e falou, quase sem pensar, “NÃO TENHO ROUPA!”, a famosa síndrome do “não tenho roupa”. O mundo nos bombardeia de informações o tempo todo, “compre isso”, “compre aquilo”, “must have” “tem que ter”, “use agora!”, somos sobrecarregados e soterrados com tantas informações. E quando não fazemos as escolhas, a indústria acaba decidindo por nós.

O consumismo não é totalmente racional, mexe com sentimentos, desejos e vontades que não tem explicações, além de gerar certo conflito na vida da pessoa.  As pessoas escolhem suas roupas por necessidade, para estar na moda, para marcar a sua personalidade e até para demonstrar status.

O cordão umbilical entre a mulher e a moda, e a demanda pelo imediatismo, nos leva as variações de códigos que a moda veicula, ora indicando status, sexualidade outrora revolução, na insubordinação, um levantar através de um grito que sai das entranhas de cada mulher que reproduz “Meu Corpo, Minhas Regras”. Uma luta que travamos por viveremos numa sociedade patriarcal e capitalista, que a todo instante dita como devemos nos comportar, seremos fisicamente e até emocionalmente.

Jornal MEU CORPO, MINHAS REGRAS. - Spirit Fanfics e Histórias

Tecem comentários sobre a relação da mulher com a moda, quanto ao nosso comportamento e qual o papel social que exercemos. Ser mãe, esposa e dona de casa ainda é considerado o destino natural, onde a maternidade, casamento e dedicação ao lar fazem parte da essência feminina. Mulheres sem história e sem possibilidade de contestação. Uma vocação prioritária, impregnada no nosso processo de educação, regada de conselhos, como nos comportar, presentes nas conversas entre mãe e filha, nos romances, nos sermões, nas opiniões e de tantos outros que usam a boca para falar.

Seguindo as migalhas de pão, escolho a trilha sonora para essa matéria, a música “Triste, Louca ou Má” de Francisco, El Hombre, que descreve a emancipação feminina, questiona a submissão da mulher em relação ao homem e os padrões sociais impostos na sociedade brasileira. Muitos lançaram a analisar essa música e a resumem da seguinte maneira – “a música se direciona para uma mulher que não quer ter filhos, deseja viver sozinha, não pretende ter uma vida que se resume basicamente em limpar a casa, cuidar dos filhos e servir seu marido, que acredita ter um empoderamento sobre ela”.

Trechos da música:

“Um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar

Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só…”

Somos socializadas, ensinadas a seguir regras para conquistar os homens, para casar, constituir uma família, ser mãe. Sem problema para muitas de nossas, mas outras, se libertaram dessas amarras. Mas ninguém nos ensinou a enfrentar as consequências dessa libertação — e ser chamada de LOUCA, é uma delas.

Trechos da música:

“Triste, louca ou má
Será qualificada ela
Quem recusar
Seguir receita tal

A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina…”

Ouço questionando, para não romantizar a palavra “louca”, visto que a medida que grito “saia do “ARMÁRIO”, já sou rotulada de “LOUCA”. Chamar uma mulher de louca, seja na poesia ou não, é, no mínimo, um descuido com uma luta diária para desconstruir esse conceito pejorativo, ofensivo e superficial no qual nós mulheres somos colocadas diariamente. Mas, quer saber, a palavra louca, também não nós define.

Mas, e as roupas?

Dia 01/09/2020 ás 20:00hs, o Programa Sobre Tudo (@sobretudo.programa)abordará: Identidade e Estilo na Moda,. Eu, (@fabianasilva.jornalista) e vocês, estaremos dialogando com a estilista e artista visual,  Adriana Meira (@adrianameiraatelier); com a consultora de moda e estilo, Letícia Becker (@leticiabecker.consultoria); com a designer de moda e idealizador do brechó Bem Te Quer (@brecho_bemtequer), Maricleia Camargo Cassiano (@soull_negrytta) e  com o estilista e idealizador do brechó Isaac Silva (@isaacsilvabrand), Isaac Silva (@isaacsilva_br).

A transmissão da live ocorrerá pelo facebook da produtora cultural e musical DJEMBÊ (@djembeproducoes)e por meio da transmissão cruzada, no facebook do Jornal Empoderado (@jornalempoderado).

Em BREVE, link na Bio https://www.facebook.com/djembe.aleixo/

NOTA

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2 respostas

  1. Querida Fabiana, estou sem palavras para descrever oq eu senti ao ler seu texto; estou impressionada! Não por pensar q vc não seria capaz, pois sendo mestre em jornalismo, isso era de se separar, mas pela maneira singela, seria, profunda e verdadeira q vc descreveu todo o seu trabalho. Parabéns!!! Amei o texto! Keep up the great work! ??????

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