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Conheça a trajetória de Inaiá Araújo a idealizadora do Cordão Tereza de Benguela

O jornal empoderado nos trás a incrível  história de Inaiá Araújo, mulher, preta  periférica, poetisa, compositora, artesã e contadora de histórias. Aprendeu a tocar e fazer o instrumento de percussão, chamado xequerê e ensinou em diversas oficinas para outras mulheres, também  idealizadora  e articuladora do Cordão Tereza de Benguela. 

Com um sorriso largo que cabe o mundo de sabedoria ancestral, que compartilha através da sua arte, nossa entrevistada conta que seu último trabalho registrado foi como vigilante de uma agência bancária em São Paulo e que usava arma e colete, sentia diariamente  a tensão de colocar sua vida em risco  e sabia que precisaria primeiro levar um tiro antes de poder se defender, algo que nunca precisou fazer. 

Então no ano de 1996, quando estava sem trabalho remunerado,  uma amiga a  chamou para conhecer um grupo afro de mulheres ,chamado Oriaxé. O local, as roupas, o ritmo trouxe a ela uma sensação de estar em casa, um êxtase de encantamento se deu quando ouviu uma canção:

Que povo lindo, esse povo negro que se diz moreno,

que traz na pele a marca de seus avós,

negros somos todos nós, negros somos todos nós

tata a luta continua…Aonde quer que o negro vá, aonde quer que o negro está…

Compositor: Lumumba

Cantora: Girlei Miranda 

Quando o ensaio terminou, percebeu  que era ali seu lugar, foi convidada para tocar o xequerê,ela queria muito tocar, estar ali e participar, aquele dia mudou sua trajetória. Sentia uma raiva da vida, do seu corpo, se percebia até agressiva no jeito de ser, entretanto, a cada ensaio aquilo mudava dentro de si. Começou a aceitar seu corpo, sua vivência, sua ancestralidade, naquele local de afeto e acolhimento, porém  o grupo acabou em 2000.

Participou de outros grupos parecidos posteriormente,mais acabou saindo ,então atravessou o período de tristeza, sofrimento e dor por estes rompimentos. Nesta mesma época , passou na Fuvest no RJ, contudo, por causa do dinheiro,  desistiu de mudar de cidade e dar continuidade aos estudos. 

Então, resolveu entrar em um curso de contador de histórias chamado: As meninas do Conto no ano de 2006. As mediadoras dizem, que Ináia  já  era uma contadora de  histórias e ali só aprenderia as técnicas. Neste período começou a escrever suas narrativas autorais com a sua grande amiga, a cabaça. 

A sua inspiração vem das vivências com os orixás,  do povo de Jeje Mahi. No século XIV que chegaram os primeiros na Bahia e por isso se debruça mais os seus estudos nos países que as pessoas se utilizavam da cabaça, como África do Sul, Angola, dentro da música  do Mali ,pelas mulheres de Nação Angolana e Nagô no candomblé, com o povo iorubá, com o povo banto e muitos outros.  Sempre pensa sobre as funcionalidades de estudar para depois fazer a história, com profundidade e propósito, sendo também um deles a ajudar a fazer valer a lei 10. 639, através da disseminação da sua arte. 

Usa uma frase interessante ,que no Brasil a Cabaça é praticamente uma caiçara e esclarece que ela nascia nas margens das águas e sobrevivia sem nenhum auxílio da humanidade. E continua dizendo que sendo Orun o céu e Aiê a terra, em conjunto, eles fazem dentro da cabaça, que tem o formato de um útero, o universo, as galáxias, o mundo  e todo o ser vivente e que nós seríamos, dentro desta analogia, às sementes que nunca geram uma cabaça igual a outra.  

Nos falou de um período que começou a contar histórias nos parques, como por exemplo no Ibirapuera e no final passava a cabaça para pedir a colaboração em dinheiro, essa iniciativa gerou muitos convites em casas de culturas de São Paulo. 

 No ano de 2017, viaja para o seu primeiro encontro de tradição oral de contadores pretos, o Ayó e no   Rio de Janeiro ,se dá conta de que o que  ela fazia era oralidade , que isso era um trabalho, por isso considera que  foi o divisor de águas, assistir todas aqueles narradores cheios de vivacidade, encantamento e amor. Na sua segunda participação, no ano seguinte ,em  Minas Gerais, ela conta a sua história autoral naquele espaço com vários narradores conhecidos, apesar do nervosismo, conseguiu envolver o público que a  assistia quando a mesma    participava  da narração, como também uma presença ilustre, Conceição Evaristo, que  fazia parte da platéia.

Em 2015, na Casa das Rosas, fez parte da elaboração do cronograma, com mais três mulheres: Lúcia Makena, Esmeralda Ribeiro, Kika de Dessen, entre período de março à novembro, onde contou histórias e ensinou muitas mulheres a tocar xequerê e também houve diversas atividades.  A ideia era trazer atrações com mulheres negras, como os saraus, que cada mês tinha um tema de mulheres  de representatividade. 

Esse coletivo,  com outras pessoas , participaram da primeira Marcha das Mulheres Negras, em 18 de novembro em Brasília, a partir daí, que  nasceu no outro ano a Marcha das Mulheres Negras em São paulo. 

Já no ano de 2016, Ináia fazia parte do coletivo de Oyá agora com as manas: Leila Rocha, Aiani Estevão, Sara Monaco, Liliane Souza, Livia Milena, Jenifer Augusto,  Ana Paula.Esse  conjunto faz ações na periferia do Robru, por 2 anos. Com o fim deste coletivo, nossa entrevistada funda o Cordão Tereza de Benguela, no mesmo local, ou melhor, na sua casa com o lema:  Toda quebrada é um quilombo e Tereza somos todas nós. Em 2018, sai com o  Cordão com o Coletivo Preta Juntas. Atualmente se concentram em duas atividades centrais: o Cordão Tereza de Benguela, em junho e o evento denominado Balas e travessuras, em outubro que seria reunir a crianças da própria comunidade e suas famílias para um dia de confraternização. Com a parceria de todos, onde cada um colabora com o que pode, distribuição de brinquedos para crianças e interação. Essa iniciativa começou com a sua mãe na década de 80, que até hoje é responsável  por fazer o bolo para toda a comunidade. 

O Cordão Tereza de Benguela este ano “saiu” com seu cortejo online.  Que passou por três etapas: a concentração (como começou este cordão); a formação (quem são as pessoas que participam deste cordão); a saída (quem são estes parceiros que fazem acontecer). Teve as entrevistas gravadas, os clipes, as cantoras e as mediações e ficou salvo na rede social do Cordão. 

No ano passado, sua apresentação como contadora , começa com o Bumba meu boi torna-se o patrimônio mundial da humanidade, então ela, pede autorização para seu mestre de boi Henrique Menezes, do Maranhão, para poder apresentar ao público a história chamada Tirando o São João de casa, ela relata: Cada vez que o mestre te ensina a tocar, ele conta uma história, surge a história…Essa é uma narrativa cheia de reviravoltas, música (com todos os instrumentos, tocadas pela narradora) e aprendizado sobre a cultura popular brasileira. Neste momento está empenhada na escrita de um novo texto autoral de uma menina chamada Sarará, que vai abordar sobre relação matrilinear e a periferia e continuar com o Cordão Tereza de Benguela. 

 Inaiá Araújo deixa como recado final: Toda quebrada é um Quilombo, o Jardim Robru é um Quilombo e Tereza de Benguela, Somos todos nós.O lugar de fala é das mulheres negras, todas juntas somos tretas. 

REDES SOCIAIS

instagram @inaia_araujo @cordaoterezadebenguela

facebook: Inaiá Araújo  e Cordão Tereza de Benguela

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