Por Max Mu
Há possibilidade dessa ser a primeira vez que obras renomadas, premiadas, com mais de cinquenta anos de existência, já expostas em museus do mundo, em hospitais e ONG´s de crianças são reconceituadas por LEIGOS sem poder de Estado ou religioso e cessam o acesso as obras do grande público.
O obscurantismo desse fato na era digital é assustador. Em uma época onde a pornografia é grátis, ator pornô discute educação com o Ministro; é estranha a reação que beira o fascismo. Onde um transeunte despreparado consegue impor e sobrepor seu achismo sobre uma obra, ignorando a intenção, pesquisa e vontade do artista em se exprimir na linguagem da arte visual, sem haver um único diálogo.
Alguns movimentos políticos aludiram à violência sexual contra uma Presidente da república em exercício. Uma imagem de estupro usando uma bomba de gasolina para protestar contra os aumentos do combustível foi amplamente difundida.
É curioso os histriônicos contra “ditaduras” romperem com a democracia, com a liberdade de expressão, o direito de escolher entrar ou não em uma galeria de arte privada, e de cada um ter sua própria interpretação livre de uma obra.
É proibido pensar!
Talvez pensem; mas não abstraem. E tudo que a ´não política’ quer, é extirpar sua capacidade de abstração.
Abstração é: isolar mentalmente um elemento ou uma propriedade de um todo, para considerar individualmente… Separar uma coisa da outra, refletir, compreender além…
Porquê a ‘não política’ cassa seu direito de abstrair?
Ao abstrairmos nasce à consciência que: sua pobreza não é culpa sua. Que a sua condição escrava não é uma condição, e sim fruto de decisões políticas, cumprindo satisfazer a vontade e o desejo de alguém, sabendo disso podemos ameaçar muitos privilégios.
Em “Queermuseu” a obra mais recente tem 4 anos, muitas são premiadas, e inúmeras obras tem mais de 50 anos circulando o mundo. Bastava sensatez para saber que a arte também é uma forma de denuncia, é crítica e é retrato também de nossas chagas e mazelas.
Antes de abstrair era necessário ler e entender o nome da exposição. ‘Queer’ significa: pessoas que não seguem o padrão daheterossexualidade. É uma palavra mais ampla que a sigla LGBT.
Era preciso traduzir “Queer” para “LGBT +” e depois decidir entrar ou não, pois “ENTRA QUEM QUER no QUEER”.
Quem entra em uma galeria precisa olhar uma obra de arte diferente de um cartaz de venda de carro ou tênis os quais só fazem imagens para enaltecer a marca e o produto de forma direta e objetiva. Na arte fazer alusão nem sempre é fazer apologia ou incitação. Na maioria das vezes são provocações e metáforas para gerar uma reflexão mais ampla. Ler o catálogo e as placas ajudam o visitante a entender a exposição.
Ao se sentir indignado, ofendido é prudente analisar a biografia das pessoas, e tentar entender como algo tão grandioso passou por tantos crivos jurídicos públicos e mercadológicos por tantos anos, em tantos países. E promover um debate democrático para apurar se você está certo ou errado, e tomar as decisões justas e precisas. Se houver erro tiramos uma ou outra obra de arte. Vamos garantir que o público tenha sempre a mais ampla e completa liberdade de interpretação, mas isso nunca, jamais dará ao público o poder de determinar a intenção do autor na criação de uma obra.
Foram 270 obras de 85 artistas agredidxs, ofendidxs e humilhadxs, inclusive artistas já mortxs com obras premiadas no exterior. Por causa de 5 ou 10 obras, grande imprudência.
Ao abstrair começa-se a pensar… Cuidado!
Alguém ou um grupo começam a compartilhar nas redes sociais a sua incapacidade de interpretação artística. Ao ver uma alusão a algo confundem com apologia e incitação.
O grupo conhecido por grandes mobilizações politicas para depor uma Presidente, e por realizar atividades ligadas à construção da ética e contra a corrupção começa a focar sua atenção e seus seguidores contra uma exposição de obras consagradas ????
Enquanto o Presidente do Brasil é processado por privilégios em obras do Porto de Santos.
É preciso abstrair para entender, porque uma obra em um espaço fechado, é mais importante que as manobras do Planalto para indicar o líder da tropa de choque de Cunha, agora líder da tropa de choque de Temer, para ser relator em uma CPI da JBS que poderá atingir o atual Presidente?
É preciso abstrair porque uma exposição em espaço privado, que entra quem quer, com um nome que já diz ao que veio, é mais importante em ética política do que 51 milhões no apartamento de um Ministro, que também foi pró-deposição da mesma presidente?
Por prudência teremos que pensar porque um movimento de natureza política passa de uma hora para outra, sem preparo, a “críticos” de arte?
Será elevado politicamente um movimento de natureza “anticorrupção”, calar-se ao cenário brutal atual em todas as instituições e intervir sem dialogar com qualquer interlocutor no trabalho alheio? Enquanto a gasolina aumenta muito, e a bomba do posto não faz alusão a estuprar o atual presidente.
E agora sem a exposição eu e você perdemos a oportunidade e o direito de tirar nossas próprias conclusões. Beirando o terrorismo islâmico, que destruíram Museus, destruíram o nosso acesso. Nos resta, coletar os cacos das informações para gerar nossa própria opinião. Pois quando o fascismo se instala a opinião pode ser um delito. E constituir uma razão pode ser um perigo.
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Respostas de 9
Politicamente falando vc esplanou bem tudo o que vem acontecendo em nossa sociedade. Amei.
Religiosamente falando nenhum tipo de religião gosta de se ver desrespeitada seja ela cristã ou espírita.
Mas a Arte está aí para trazer reflexões seja positiva ou negativa , basta de como você olha ela.
Resumo: Parabéns Max. O papel de mostrar a sociedade a realidade é um trabalho de formiguinha , aonde temos uma mídia suja e manipuladora ligado aos interesses da elite. Continue sendo um canal dos interesses sociais sempre.
Um abraço.
Texto muito lúcido! Belas reflexões
Que Bom que gostou. Sua opinião orientará nosso trabalho. Gratidão pela opinião.
Toda sexta estamos aí.
Meu querido, explanou brilhantemente. A arte é a expressão máxima de liberdade. Liberdade de pensamento, de alma, de escolhas. A hipocrisia beira a insanidade num país que possui Nelson Rodrigues e suas obras que exploram descaradamente a sexualidade, como, talvez, o maior dramaturgo que esse país já teve, e, fascistamente, censura outras expressões de sexualidade. Talvez essas pessoas nem saibam quem é Nelson Rodrigues, mesmo que, até um tempo atrás, suas crônicas em “A vida como ela é” eram quadros de um muito famoso programa de televisão de domingo a noite. Horário mais que nobre. Novelas que exploram a sexualidade de uma maneira vazia são consideradas como normal. Talvez a arte aqui seja eletista, não no sentido de pertencer apenas a elite (pois nunca fui da elite e sempre fiz questão de ter em minha jornada a arte), mas no sentido de censura. Talvez, essa oposição a manifestações artísticas legítimas (sem entrar no mérito de prêmios, pois nem todo artista é premiado, mas não deixa de ser arte) seja um filho desgarrado dos tempos de ditadura, quando manifestações artísticas necessitavam da aprovação de pessoas que nunca se quer estiveram em um museu, em uma exposição, em um concerto. Vivemos uma época de cegueira meu amigo. Cegueira para tudo que represente a alma. Para tudo que represente o humano. A falta de tolerância é a maior expressão do grau da doença em que vivemos no momento.
Com relação a política, digo que a hipocrisia é a mesma, se não pior. Toda resistência a governos déspotas (ainda que não declaradamente) se manifestou através da arte. Seja diretamente, como bandas inglesas que cantavam contra a monarquia absolutista daquela nação, como pintores renascentistas que pintavam contra filosofia escolástica que imperou na Idade Média e fez tantos mortos. Talvez ainda estejamos vivendo na Idade Média, quando líderes religiosos ditavam a forma de pensar das pessoas. Arte? Apenas sacra. Segundo os pensamentos deles, Deus não gosta da arte, mesmo que por arte represente a mais pura expressão da alma, onde reside a famigerada faísca divina. Não é de se admirar que a bancada mais representativa no Congresso, que diga-se de passagem é o retrato do povo inculto, é a bancada evangélica.
Enfim…triste tempo. Porém, acredito que isso apenas fortalece manifestações artísticas de resistência, ainda que em pequenas exposições, no underground, sem, sequer, a ciência desses líderes de cabresto.
Mentes pensantes que se manifestamente livremente sempre foram consideradas hostis a opinião pública. Sempre foi assim…e sempre será.
Diego ótimo comentário.
Gratidão por ler e compartilhar.
Importante ressaltar que o prêmio não faz o artista. É verdade.
E é bom destacar que quando repito o status das obras é para se perceber que o curador não as escolheu sem critério, sem história e de forma experimental.
E sim aquilo que já era consensuado qualificado por outros profissionais do ramo. Uma análise técnica que foi atropelada por não análises.
Oi Marines gratidão.
Algumas imagens religiosas quando compreendem a visão do artista até passam a admirar o quê supôs desrespeito.
Embora particularmente não sou fã ao uso do símbolo religioso, fora da religião ou do debate religioso em si.
Que Bom que gostou. Sua opinião orientará nosso trabalho. Gratidão pela opinião.
Toda sexta estamos aí.
Sensacional,vc fala tudo que nós pensamos.Muito inteligente.Parabéns e bora lá,são pessoas assim que precisamos hoje e sempre.Quem sabe o amanhã será melhor!!!
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