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Mulheres Negras e a Música: As Iyálódes

Comum o registro de fatos, acontecimentos e grandes eventos na cena musical registrados por homens, para homens e enaltecendo os homens.  Incomum é a manutenção e o registro de dados oficiais envolvendo a mulher. Quando o recorte é feito entre mulheres brancas e negras, a situação é ainda mais desigual.

A primeira questão é entender que as mulheres negras e brancas não partem do mesmo lugar. Além de enfrentarem o machismo, as mulheres negras também têm que lidar com o racismo e o tokenismo (inclusão simbólica).

Numerosas são as utopias criadas ao longo da história, assim como a criação de um entre-lugar de outridade para a mulher negra, na cena musical. E ainda que inserida questiono, como é apresentada, estudada e por quem.

Mulheres negras são expostas ao tokenismo dentro e fora da cena musical, para gerar a sensação de que o espaço é  diverso. Inúmeras, são as empresas/instituições que não fazem nenhum tipo de ação ao longo do ano, mas que no primeiro dia do mês da Mulher Negra Latino- Americana e Caribenha, as convidam para cantar, produzem textos e escolhem suas— tokens — para aparecer mais.

Nos chamam para criar espaços diversos, mas não nos conhecem. Esquecem que somos mulheres negras o ano todo e não apenas em março,  maio, julho e novembro. Nos demais, não existimos e, quando presentes, somos as smurfettes, uma figura feminina dentre tantas masculinas . Uma variação do padrão, uma pseudodiversidade.

Entendo a cena para além do pertencimento sonoro, mas como um espaço de pertencimento a uma coletividade em relação à raça e ao gênero. Que através da história, dos itans e rituais restaura o poder feminino na construção da música preta brasileira (MPB), termo que abrange qualquer gênero musical com uma grande proporção de artistas negros ou música “gueto”. 

Para quem gosta de música, os bastidores são um terreno fértil para colher informações, confrontar versões e desfazer mitos, tudo é ouro puro. Nesse terreno, mesmo sendo constantemente invalidadas, as mulheres negras são banhadas pela ancestralidade e direcionam o holofote para quem são e o que geram. 

Desde novembro de 2021, o espetáculo cênico e musical BRASILIDADE – MUITO PRAZER, AS IYÁLÓDES ( https://www.instagram.com/brasilidade_iyalodes/ ), produto da Djembe Produções e Entretenimentos,  coloca no mesmo patamar o trabalho musical e o discurso ativista em prol do feminismo negro. Torna-se um ponto riscado de reflexões entre os temas centrais: não ser uma produção religiosa e a autoafirmação da tríade “sujeito-mulher-negra” no escopo “corpo-voz”. E as várias temáticas secundárias que ornam com a narrativa principal, onde a religiosidade adentra no contexto cultural, evidenciada em várias frentes como o racismo e a intolerância religiosa que colocam a cultura em xeque.

O espetáculo ostenta a música para além do entretenimento, de extensão e timbre. Traz a COR. Não se discute a cor da voz, mas a cor do corpo, que abriga a voz, o corpo NEGRO. Corpo manifesto e território de resistência,  refletido no abebé, presente na performance de Sofia Serafim, confeccionado pelo artista Alexandre Zulu. Este, ora reflete o eu individual, outrora, a potência coletiva de outros rostos.  Materializando a fala de Sued Nunes presente na música Povoada, “Sou uma mas não sou só”.

Não há recorte de público, entretanto o espetáculo dialoga com a menina-mulher negra, abarcando uma faixa etária que transitou dos 4 aos 15/16 anos nos Ceus e dos10 aos 60 anos nas Casas de Cultura, Fábrica de Cultura e outros espaços culturais, durante a turnê de 2022. Numa linha de tempo, entre a música e a Itan. O passado na música – Ya Ya Massemba, Maria Bethênia – , o presente nas músicas – Não Precisa Ser Amélia, Bia Ferreira e Descolonizada, Larissa Luz – e o futuro na música – Mulher do Fim do Mundo, Elza Soares.

Repertório composto por músicas de compositoras negras, músicas que fizeram sucesso nas vozes de mulheres negras e músicas que enaltecem a mulher negra. Existe uma costura exercida através da oralidade, rompendo a quarta parede (parede imaginária que separa o público da ação), promovendo interação do e com o público.  O convite é feito a todos os ouvintes, mas o Google não mostra, que o ouvinte capaz de romper a invisibilidade criada pela objetivação da mulher negra é outra mulher negra. 

Propõe um verdadeiro “feminismo afrolatinoamericano”, defendido por Lélia Gonzales (1988), em que a exclusão se dá por uma questão racial, além do gênero. O apagamento da mulher negra na MPB está atrelado à precariedade de estudo quanto a  sua participação. É o que acontece na construção editorial de playlists e na forma como consumimos música. Cadê as mulheres negras?

Não à toa, o Spotify tem mais de 70 milhões de faixas, uma plataforma que tem tudo para se tornar um aquilombamento virtual, um epicentro cultural, conduzido por vozes femininas e negras. 

Nesse epicentro surge a intolerância religiosa, diante do título que carrega o projeto, “Ás Iyálódes” e a adoção do termo “Música Preta Brasileira”. Transcrevo Vivian Whiteman: ” A questão é que questões de raça e classe fazem com que as religiões afro-brasileiras sejam alvo”.

A proposta do espetáculo não é lançar tendências, dizer o que deve ser ouvido, ditar as novidades ou os sucessos. Mas reproduzir na íntegra uma playlist que curiosamente corrobora com a  multiplicação da presentificação da mulher negra na cena musical. Essa multiplicação acontece este mês, Mês da Mulher, de 10 a 26 de março, com a realização de 4 shows sociais, das Iyálódes, produzidos pela Djembe, contemplando espaços culturais alternativos: Merkadim e Morada Jaraguá e as Fábricas de Cultura: São Bernardo e Pq Belém, atrelados à campanha MIOLO DE PÃO, NÃO!, combatendo a pobreza menstrual. Afinal, mais de 50% da população menstrua.

Muitas meninas e mulheres ainda usam métodos alternativos para estancar o fluxo menstrual. Cerca de 11,3 milhões de brasileiras utilizam produtos inadequados como miolo de pão, meias, jornais, sacolas plásticas, roupas velhas, algodão, filtro de café e papel higiênico para reter o fluxo. Esses colocam em risco a saúde e/ou podem ficar presos no canal vaginal e propiciar problemas de saúde. 

O projeto visa alcançar jovens, adolescentes e mulheres presentes na Fundação Casa e na Penitenciária Feminina, por meio da entrega (doações) de kits de higiene menstrual (absorventes) e pessoal e calcinhas. A distribuição será realizada pela ONG GIRASSOL. Mais informações: (11) 992105700.

Enegreço que somos nomeados e entendidos como corpo manifesto. O qual nos pertence, nos faz sentirmos pertencidas e dialoga com o entorno através da musica.

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