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DÁ PONTE PRA CÁ: AFRICA FASHION WEEK BRASIL

Somando 12 anos de história, o AFW é um dos mais importantes eventos de moda do Reino Unido e do Centro-Oeste da África. Em 2018, assinou com o Instituto Internacional Feafro a transferência de know-how e tecnologia para realização no Brasil.

No último dia 28 de fevereiro, ocorreu no Espaço Cultural Mônica Anjos a coletiva de imprensa promovida pelo Feafro, organizador da Africa Fashion Week Brasil, e presidida pela empresária Silvana Saraiva, presidente mundial do Instituto Internacional Feafro e da Câmara de Comércio Brasil África CEDEAO e realizadora da Feafro International Business Fair, que está na 6ª edição. Salve as datas 25, 26 e 27 de maio, quando o Expo Center Norte será o palco da primeira edição da Africa Fashion Week Brasil.

Nos três dias de evento, acontecerão 8 desfiles de designers africanos e 8 de brasileiros, 50 reuniões de B2B por dia (os três dias somam 150), 10 espaços para ativação de marca, 2 salas para workshops e palestras (simultâneas), 2.000m² para stands e ativações e 1 praça de alimentação, 1 cowork, 1 sala VIP, 1 sala de imprensa, Caex e camarins.

Silvana Saraiva, Presidente da Feafro

Geralmente, a moda carrega erroneamente, embutida em seu termo, a ideia de artificialidade, de frivolidade, de futilidade e pura estética comercial. Mas, vestir-se trata-se de um ato político. O guarda-roupa, enquanto paradigma, oferece o pretexto de inclusão ou exclusão dele.

Durante o período da escravidão no Brasil, nós, negros, não possuíamos opção de escolher nossas vestes. Segundo o antropólogo e historiador Darcy Ribeiro, esta época durou mais de três séculos – de 1550 até 1888.

Ao longo dos anos, a moda tornou-se um instrumento para contestar o racismo e as práticas discriminatórias, assumindo seu papel na construção da expressão cultural e identitária. Sobretudo das identidades do corpo negro, salientando a existência de uma política das diferenças.

A AFWB traz à tona a moda ativista. Compreende que criar, confeccionar e vestir uma roupa trata-se de atos sociopolíticos e passa-se então a perceber a necessidade de um pensamento crítico acerca disso, analisando o modo como as roupas são feitas, como elas são distribuídas, concebidas e propagadas. Como será o seu uso e o seu descarte.

Múltiplos desmembramentos alimentaram diálogos entre os presentes, durante a coletiva de imprensa, em torno da construção do design africano e da diáspora africana; o resgate da identidade nacional através da indumentária; o turismo afrocentrado na “Rota da Liberdade”; políticas públicas inclusivas junto ao afro e empreendedorismo negro; a ESG; o tokenismo; o hibridismo e a inclusão da moda no metaverso: looks digitais para avatares e itens físicos adquiridos dentro do metaverso e entregues presencialmente.

Nesse contexto de endossos e incentivos, a moda tende a deixar de ser efêmera e território de controle, para tornar-se um campo de luta das identidades. Coloca-se em pauta o paradoxo do corpo fortalecido versus o fragilizado e a hipervisibilidade do corpo branco que revela a invisibilidade do corpo negro.

Em 2020, a São Paulo Fashion Week obteve paridade racial inédita. Pela primeira vez registrou que 50% dos modelos eram negros, afrodescendentes ou indígenas. Em 2023, espera-se na AFWB uma presença maciça de modelos negros, afrodescendentes e indígenas. Todavia, falar e trazer a África em um evento realizado em um país de maioria negra e não ter modelos de características étnico-raciais africanas é inaceitável e fora da realidade.

Os designers presentes na AFWB devem configurar um panorama favorável à arte de (re)existir, consolidando o diálogo entre moda e engajamento estético-político, em favor das identidades negras. De modo que o espectador perceba seu significado cultural. Já dizia o estilista Isaac Silva, a moda afro-brasileira é a exaltação da ancestralidade brasileira, um reencontro com as raízes reverenciando a cultura africana.

O rapper Emicida disse: “a rua é nóiz”, “a rede é nóiz”, e complemento que “a passarela é nossa”. Essa valorização de formação de redes com e entre os nossos potencializa a AFWB no combate ao racismo estrutural. A AFWB recebeu a manifestação do Governo Lula, por intermédio do estafe do ministro Alexandre Padilha, em vídeo, onde torna público o apoio irrestrito à iniciativa, por tudo o que ela representa para o fortalecimento dos laços Brasil-África.

O Africa Fashion Week Brasil integra o circuito African Fashion Week Londres e African Fashion Week Nigeria, concebido e fundado pela rainha Ronke Ademiluyi em 2011, e que está na 13ª edição. Acessível, Inclusivo, Diverso e Sustentável são valores que constituem os pilares da proposta da African Fashion Week Brasil”, ressalta Silvana Saraiva. Os 135 passos da diáspora africana constituem o tema da AFW Brasil, em referência aos 135 anos de escravidão vigente desde a promulgação da Lei Áurea, na perspectiva da união de forças em favor da efetiva libertação.

Rainha Ronke Ademiluyi
Africa Fashion Week London – AFWL
Africa Fashion Week Nigéria AFWN

Apesar de todas as tentativas de aculturação, o espaço do Expo Center Norte irá tornar-se um quilombo (kilombo) urbano promovendo o protagonismo, o pertencimento e o lugar de fala aos corpos negros em diferentes segmentos: moda, música, dança, gastronomia, arte têxtil, design, artesanatos e outras expressões. Além de agregar valor aos designers por meio de contatos, experiência e conhecimento dentro da comunidade da moda.

A historiadora Beatriz Nascimento nos diz que quilombo assume um significado amplo de resistência negra em diversos espaços (não somente físico), não podendo ser tratado apenas como fato do passado ou ser reduzido somente no espaço ou no tempo. A AFWB não se define por tamanho nem número de membros, mas por experiência vivida e versões compartilhadas de nossa trajetória comum e da continuidade como grupo.

Para além, a AFWB projeta a valorização de pessoas negras, não somente nas passarelas ou em frente às câmeras, mas do mesmo modo que isso esteja presente na organização e equipes de trabalho das marcas de moda. Enegreço que é preciso ocupar os espaços, mas é necessário estar lá para modificá-los. Sejam todos bem-vindos a AFWB primeira edição no Brasil.

AFRICAN FASHION WEEK – 1º EDIÇÃO NO BRASIL 

Local: Expo Center Norte

Dias: 25,  26 e 27 de Maio de 2023

Valor: Gratuito

Horário: das 10h ás 18h (todos os dias)


NOTA

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