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Plágio “AmarElo” – sobre branquitude, apropriação cultural e outras nuances do racismo e estrutural na música e entretenimento

Por Paloma Amorim

Como já dizia a grande Elza Soares: “A carne mais barata do mercado é a carne negra!”

Primeiramente, preciso expressar minha revolta: Essa galera branca acha muito fácil passar gente negra para trás, né? Essa certeza da impunidade e do pacto narcísico da branquitude é o que faz com que sejamos acordados com notícias como as de que Juliette e Duda Beat plagiaram conceitualmente o projeto “AmarElo – É Tudo Para Ontem’, de Emicida, ganhador do Grammy Latino 2020 de Melhor álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa, por meio do novo feat “Magia Amarela”, parte de uma campanha publicitária da marca Bauducco, a famosa (ou famigerada?) “publi”.

E quando procuramos saber mais sobre o ocorrido, descobrimos que a coisa só piora. São camadas de erros sucessivos, falta de ética e senso jurídico, apropriação cultural e mercadológica e por aí vai!

A Bauducco deve ser devidamente processada por Emicida, Evandro Fióti (produtor, compositor e irmão de Emicida) e os demais envolvidos no conceito de “AmarElo” (reconhecido e premiado internacionalmente), assim como as “artistas” Juliette e Duda Beat (coloquei entre aspas, pois é difícil acreditar que artistas de fato iriam se propor a isso por dinheiro), que não estão isentas de culpa por se tratar de “publi” de marca (desculpe aí, assessorias das respectivas cantoras), visto que elas certamente ganharam um grande cachê como intérpretes da música, com certeza conhecem o trabalho plagiado (que é amplamente premiado) e puderam notar a cópia escancarada.

Ao menos é o que se espera de artistas do ramo, o mínimo de conhecimento de questões de direitos autorais. Nossa, acabei de lembrar que Juliette é formada em Direito em uma universidade federal. Realmente não dá para defender. Não se tratam de pessoas incipientes. Sendo sincera, ouso dizer que qualquer pessoa com um pouco de noção de identidade visual/conceito artístico/semiótica é capaz de notar o plágio.

O fato de se tratar de uma ativação de marca, para mim, é mais um agravante, pois esbarramos em conceitos de apropriação cultural que pessoas negras estão calejadas de sofrer ao longo da história, principalmente quando se trata de música (Elvis Presley Rei do Rock? Tsc, tsc) e também de plágio para uso mercadológico. Saber que a marca vai (ou ia, assim espero, após a repercussão negativa por parte da mídia) lucrar com a campanha de rebranding/reposicionamento em cima do trabalho não creditado de artistas negros extremamente talentosos e reconhecidos nacional e internacionalmente é revoltante.

Importante ressaltar que plágio é crime, é roubo de obra intelectual e está tipificado por lei desde 1940, no Artigo 184 do Código Penal Brasileiro, e diz que quem violar direitos de autor pode receber detenção de 3 meses a 1 ano, ou multa. E o inciso primeiro ainda diz que se a violação consisti em reprodução total ou parcial (como no caso), com intuito de lucro direto ou indireto (como é o caso), por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor (o que é o caso), a pena aumenta: reclusão de 2 a 4 anos e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 2/7/2003, disponível no Portal JusBrasil).

Como se toda a violação descrita acima não bastasse, a ação tinha sido oferecida primeiramente à equipe de Emicida, que não aceitou pelo valor oferecido não condizer com o trabalho a ser entregue. Posso arriscar a dizer que provavelmente quiseram pagar pouco a eles – visto que a “carne” mais barata do mercado – fonográfico, inclusive – é a carne negra). Por fim (e sepultando o caixão), com a negativa de Emicida, a Bauducco achou de bom tom, válido, bacana, joia (👍🏾) pegar o conceito (copiado desde o começo dos artistas negros que negaram a “publi”) e levar para duas outras artistas superestimadas/hypadas (e obviamente brancas) interpretarem a música.

Todos os envolvidos nessa patifaria precisam ser devidamente responsabilizados criminal e socialmente. Chega de mea-culpa, de tentar jogar nas costas de contratante e/ou assessoria. Não vamos passar pano! Devemos cobrar posicionamento das artistas sim e um simples “desculpas, eu não sabia”, não vai colar mais!

Não aguentamos mais tantas injustiças e crueldades contra os nossos e passada de mão em cabeças brancas. Chega de dois pesos e duas medidas.

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