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O que o sucateamento das Universidades Federais tem de Racismo?

Durante anos, fui uma das poucas pessoas negras na Universidade. Em 2007, entrei na Universidade Federal de São Paulo, as cotas eram novas, e não havia tantas pessoas negras na minha turma de Ciências Sociais. Em 2014, entrei no programa de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP, e tinham pouquíssimas pessoas negras no programa de pós-graduação.

Em 2020, entrei no Doutorado em antropologia da USP  por cotas, em uma turma diversa e potente, a qual tenho a maior alegria de participar. Minhas experiências nas academias públicas brasileiras são muitas, desde a ser confundida com copeira a ser chamada de militante demais para ser uma pesquisadora.

            Nesta semana que passou, pensei muito na minha carreira acadêmica na Unifesp e na USP. A notícia de que a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal de São Paulo e tantas outras federais, podem fechar as portas ainda neste ano mexeu comigo.  O enegrecimento, a popularização das universidades públicas e o acesso à educação superior que resultaram das ações afirmativas que iniciaram o processo de democratização do acesso às universidades, são parte importante do processo de reparação histórica da escravização de pessoas negras e indígenas, no Brasil.

            Uma década após o início desse processo de reparação, vemos um ataque desenfreado aos programas como ProUni  e os cortes no investimento nas Universidades Federais, efetuado pelo governo Bolsonaro. E o que isso tem relação com racismo? Quando alcançamos a linha de chegada, a linha de chegada muda. Quando vemos indígenas, negras e negros, mais mães e pessas pobres na academia, tornando-a mais democrática, as elites sucateiam o ensino público. Pois podem pagar, coisa que não podemos.

O mesmo acontece com as escolas básicas, com os postos de saúde e com os serviços usados pela população brasileira pobre. O sucateamento das universidades públicas e dos programas de acesso às universidades, significa que o atual governo está se esforçando para que os filhos dos porteiros, das empregadas domésticas, da classe trabalhadora não entrem nas universidades. Como se faz isso? Fechando as universidades públicas e seus programas de políticas afirmativas.

A entrada da população pobre nas universidades comprovadamente é uma política pública importante para a quebra do ciclo da miséria e para a construção de um país mais justo e igualitário. A educação é um caminho de formação política e social, é um caminho para que as pessoas conheçam seus direitos. Ocupem espaços de decisão na sociedade e formem uma geração em que pessoas pobres possam ser médicas, advogadas, professoras etc.

Então, manter a desigualdade social no Brasil, passa por impedir a população de acessar a educação, a saúde  e condições dignas de vida. Desse modo, desmontar as universidades passa pela estrutura racista e desigual de nosso país. Passa por não investir em ciência, em não vacinar a população e todos esses desmontes das universidades. Além de formar pessoas, as Universidades Públicas atendem a população em seus hospitais, em seus espaços de atendimento jurídico, seus cursos de extensão gratuitos para a população.

As universidades públicas são espaços importantes para a democratização do conhecimento, é preciso defendê-las. É preciso ocupá-las. Não ao desmonte das Universidades Públicas!

Simony dos Anjos é mãe do Bernardo e da Nina, Cientista Social graduada na Unifesp, Mestra em Educação pela USP e doutoranda em Antropologia pela USP. É colunista no portal de notícias justificando, integrante do Coletivo Evangélicas pela Igualdade de Gênero,  da Rede de Mulheres Negras Evangélicas e militante do PSOL.

 

Foto de capa: site Correio Braziliense

 

 

 

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