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Entrevista com Del, idealizador e professor do Projeto Sambarokano

Na década de 60 nasceu, nas periferias de São Paulo, o samba rock, com seu gingado com marcação de 1,2,3,4. No começo, ensinado dentro das famílias negras e posteriormente nos bailes. Hoje, é considerado patrimônio imaterial e  cultural, sua  data de comemoração é 31 de agosto, dia do nascimento de Jackson do Pandeiro, que foi o primeiro a divulgar em rede nacional este ritmo, com a sua música Chiclete com Banana. Por isso, este editorial traz uma entrevista especial com Del, dançarino, professor e idealizador do Projeto Sambarockano que fica na cidade de Guarulhos.

Jornal empoderado: Conte-nos um pouco da sua trajetória profissional e como chegou até aqui. 

Del: Em 2006 surgiu a vontade de querer dançar samba rock, para  disseminar a cultura e posteriormente percebi que o objetivo é mais amplo, o da inclusão social.  

Em 2008, em um baile tradicional que ocorre em meados de setembro ,na Cidade de Tietê, que reúne mais de 40 mil pessoas, fico impactado ao assistir um casal dançando, o clima do local e a festa também contribuíram para isso, então resolvi encontrar uma escola que me  ensinasse a dançar. 

Percebo que em São Paulo e na região de Guarulhos, onde moro, não existia uma academia de dança apenas deste ritmo específico, entretanto, esta barreira não me parou. Encontrei uma escola ,companhia de dança ,chamada Pétalas Negras, com o professor Amaral, onde ensinava aos alunos diversos ritmos tendo como final o samba rock. Resolvi intensificar meu aprendizado com a que seria minha primeira parceira da dança, a Jéssica Andrade, onde assistimos os vídeos e tentávamos reproduzir os movimentos. 

  • JE: Quais as pessoas que te inspiraram na dança?

Del: O meu amigo Marcolino foi uma, porque sua maneira de dançar me gerava admiração e um casal que vi a primeira vez em vídeo, dançando na Feira preta que são o do Magoo e Carol Grande e tem movimentos que utilizo até hoje. 

  • JE: Como surge a ideia do Projeto Sambarockano?

Del: Em 2009 reencontrei meu amigo Marcolino, no CECAP,  falei sobre a vontade de dançar com excelência e até dar aulas, então ele me convidou para participar das suas aulas, em Guarulhos. Chegando lá, vejo que eram apenas o Marcolino, o Edson de Paula , o Ronaldo Amaral e mais ninguém, os alunos iam e viam, contudo não permaneciam, é onde tive a ideia de tirar o nome de escola e chamar de projeto. Voltei no outro dia com dois nomes, um que já existia e não poderia ser usado e o segundo o Projeto Sambarockano, e esse ficou. 

Sambarockano é denominado  ação de dançar o samba rock. Com minha visão  de vendedor, percebi que precisávamos intensificar a visibilidade do projeto, para que os alunos se sentissem pertencentes e não parassem as aulas. Tornamos pioneiros ao criar um novo formato, com toda uma composição de cargos e distribuição de tarefas, ter folders de divulgação, ou seja, profissionalizar o empreendimento. Para mim, nossa grande jogada de mestre foi sair todos (alunos e professores) com as camisetas com o nome deste projeto, nos bailes para divulgação, deu tão certo que em  três meses estávamos com mais de cem alunos matriculados.

  • Teatro Flávio Império

    JE: Qual o impacto que você acredita realizar na sua comunidade?

Del: Na verdade, acredito que nem seja apenas dentro da comunidade em si, no contexto geral, o que mais causamos é impacto positivo na vida dos alunos ao incluí-los dentro de um ambiente que tem afetividade e troca, todos sentem-se pertencentes ao grupo, não é apenas dança, este é o motivo que  nos faz chegar até aqui, mesmo sendo de várias localidades, tornam-se parte de uma grande família chamada Sambarockano. 

  • JE: Você acredita que as práticas realizadas empoderam as pessoas na sua comunidade?

Del: O samba rock nasce e tem suas raízes nas famílias negras das periferias de São Paulo, sendo um grande movimento cultural que empodera homens e mulheres que usam seus cabelos blacks, tem um estilo de se vestir e se arrumar para os bailes de maneira única, isso eleva a auto estima e o orgulho de ser negro neste grupo tão estigmatizado pela sociedade. Não existe limite de idade, corpo ideal, nem outro impedimento que possa haver para não aprender e ir dançar. 

Além disso, as festas de samba rock são marcadas por uma produção cultural intensa, desde roupas, adereços, acessórios, entre outros, abrindo espaço para empreendedores pretos e fazendo muitos alunos tornarem-se professores, produtores, Djs, cantores, ou seja, ter infinitas carreiras, tentando viver da sua arte e fortalecendo o movimento. 

  • JE: Quais foram  adaptações que o Projeto Sambarockano realizou para se manter durante a pandemia?

Del: Com a escola fechada, o Projeto Sambarockano tem feito ações na comunidade, para poder pagar o aluguel do espaço. Já tivemos a noite da panqueca, do baião de dois e caldos, a pessoa paga um valor e recebe a refeição em casa.

  • JE: Vocês apoiam algum  projeto social?

Del: Apoiamos o Projeto social Entre Nessa Onda, que tinha atividades,  que antes deste período atendia na média de 800 crianças espalhadas por quatro unidades. Para auxiliá-los fizemos uma ação para a arrecadação de kits de higiene , alimentos e paralelamente também arrecadaram  alimentos, com os próprios alunos, para montar uma média de 30 a 40 cestas básicas  para doar a outros alunos do Projeto. Penso que essa ação só foi possível porque anteriormente já havia uma relação fraterna dentro do grupo. 

  • JE: Você classifica as suas ações como antirracista?

Del: Acredito que ninguém nasce racista e sim aprende. No Projeto Sambarockano há  alunos brancos e nunca precisei me posicionar sobre algum acontecimento racista nas aulas e se houver será combatido. 

  • JE: Como foi esse movimento para instaurar o dia do samba rock?

Del: Eu percebi na minha caminhada, que havia um dia do rock e um dia do samba e então  me questionei de não haver o dia da dança que mais admiro e o que poderia ser feito para assim passar a existir. Descobri que precisaria no começo reunir uma quantidade de pessoas com a mesma intenção, escrever uma justificativa e escolher um nome a ser homenageado. Em 2013, teve uma reunião na Assembléia legislativa e começamos a fazer todo um trabalho mobilizado, eu e diversos líderes da área da dança, paralelamente também realizamos diversas  ações em outras localidades, com esta reivindicação. Em 2016, virou lei na Cidade de São Paulo e posteriormente nos município. O dia oficial do samba rock fica na data de 31 de agosto, aniversário do Jackson do Pandeiro, que foi a primeira pessoa falar em samba rock em rede nacional com a música Chiclete com Banana. 

A importância deste reconhecimento vai além do resgate cultural e patrimonial, é conseguir ter verba e visibilidade para ações realizadas por estes profissionais da arte, que vivem da dança direta ou indiretamente o ano todo, como eu, e deixo ressaltado que houve a participação de diversas pessoas do movimento do samba rock para que a lei saísse do papel. 

  • JE: Deixe uma mensagem final aos nossos leitores:

Del: Se você não está feliz com que esta colhendo, troque a semente que você está plantando… Então a mensagem  resumida é mais ou menos isso: Plante amor que você vai colher amor.

Um homem que tinha dentro de si a vontade de aprender a dançar e descobre neste percurso que sua relação com o samba rock jamais se findará. Com sua simplicidade, simpatia e caráter tem ensinado a muitos a trilhar este novo caminho em suas vidas ,que se se errarmos um dia, sempre podemos voltar para a base e contar: 1,2,3,4…. 

O Projeto Sambarockano completou dez anos de existência em 2019 e comemorou em grande estilo com uma linda festa. Hoje tem seis filiais na cidade de Guarulhos e uma no Arujá e também teve uma parceria com a prefeitura de São Paulo, no Teatro Flávio Império, a partir de 2017. Seu idealizador, Del,  acredita ter passado pelo projeto mais de 9 mil alunos. 

Teatro Flávio Império

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