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CORPOS QUE TRANSITAM

(modelos: Luiz de Jesus e Edson Fabiano)

Se existem dois momentos em que paramos para pensar em retrospectiva, fazer um balanço do que foi e do que está por vir, eles são os aniversários e as viradas de ano. E aqui estamos, fora deste contexto para fazer um balanço de como o corpo se torna objeto e os objetos se tornam corpo e como os corpos transitam, se movem. Estamos num efeito dominó, onde o corpo deixou de se comunicar, a roupa fala primeiro e o corpo chega depois. Vamos dar o start e pensar  nos corpos que transitam, na moda e no propósito dela. Por um deslize ou ato falho a moda deixa aos poucos de expressar, proteger, identificar. Resgatar o propósito da moda, tem a ver com servir, tem a ver com fazer parte da vida das pessoas e poder causar transformação.

(modelos: Andréa Cristina, Debora Regina, Anna Cecilia, Kleber Honorato, Rosana Alves, Fernanda Caetano e Pedro Henrique)

O corpo se tornou o mais belo objeto de consumo, gerando um dilema: Consumir ou ser consumido. O corpo tem cinco peles, sendo a primeira a epiderme, a segunda a vestimenta e a quarta sua identidade. A edição do corpo é feita constantemente, tendo a moda como estímulo para compor um novo design, uma nova forma. O corpo está sendo corrompido pelos modismos cíclicos e passageiros. Onde a moda pela moda nos resume a meros consumidores. Onde as roupas ou o objeto tem valor para nós não pela sua funcionalidade, mas pelo que ele representa. O luxo e o prazer de ter.

Nunca se falou tanto do corpo como hoje, nunca se falará tanto dele amanhã. Um novo dia basta para que se inaugure outra academia de ginástica, publiquem-se novos livros voltados ao autoconhecimento do corpo, descubram-se novos preconceitos quanto à sexualidade, outras práticas alternativas de saúde. Nessa história de produção de saberes, o cenário remete o corpo como algo que temos e não algo que somos. Os corpos quando transitam produzem um protesto e deixam de ser corpos inertes, controlados, encarcerados, banidos, segregados e  fora de lugar.

(modelos: Debora Rocha, Edson Fabiano, Debora Regina, Luiz de Jesus e Andréa Cristina)

O corpo tornou-se um cartão de visitas que antecede a própria comunicação verbal. Ele, em si próprio, comunica mais do que o próprio indivíduo. É uma mídia ambulante, pagamos para fazer comercial. O ato de vestir e adornar, ao estar na rua, ecoa o desejo de ter uma etiqueta social, um sinal contra o anonimato e de declarar que se “é alguém”.

Onde o vestuário adquire, além do valor prático e higiênico, um valor estético, agregando prazer e luxo. Ao acompanhar um desfile de moda, ao olhar uma vitrine de alguma loja ou no reflexo do espelho fica implícita a relação do corpo com a moda. Não existe moda, como vestuário e acessórios, sem o corpo. O corpo passou a ser palco privilegiado da ascensão, da aceitação social.

(modelos: Edson Fabiano, Andréa Cristina, Debora Regina e Luiz de Jesus)

Falar sobre as roupas é falar consequentemente sobre os corpos que nela habitam e que vestem o corpo nu. Corpo  este, visto através de uma lente tão equivocada de que há algo de errado. Crescemos num mundo onde adequamos o corpo às roupas. Nunca tantos medicamentos, moderadores de apetites e suplementos nutritivos foram criados para atenderem a busca do corpo perfeito. Corpo magro, o culto a magreza.

Por outro lado, o mundo moderno tem trazido resistência a esse ideal, olhando as articulações entre corpo, roupa e moda. Recentemente bloggers, life coaches e revistas começaram a divulgar um novo conceito chamado body neutrality que defende a relação com o corpo,  onde amá-lo não deve ser uma obrigação imposta ou odiá-lo por não conseguir atingir os dígitos na balança ou usar manequim 36, mas aceitá-lo.

A moda não sabe qual vai ser o seu futuro, mas falamos sobre o fim do  sistema tradicional, a forma de produzir e vender, ecoa a necessidade de ressignificar.  Ressignificação, significa “atribuir uma nova significação a; dar um novo significado, um novo sentido a alguma coisa”. Existem muitas transformações que não conseguimos imaginar, com a moda não tem sido diferente.

Somos corpos cada vez mais conscientes e criteriosos, num carrossel que nos leva ao consumo consciente, deixamos de ser consumistas, mas nos tornamos imediatistas. As gerações de consumidores Y (nascidos entre 1985 e 1999) e Z (nascidos de 2000 a atual) estão dispostas a participar no processo de criação dos produtos que consomem para dar um novo significado ao próprio ato de consumo.

A geração Y, influenciada por uma série de transformações tecnológicas e sociais possuem mais flexibilidade em aceitar as diferenças, possuem a capacidade em fazer várias coisas ao mesmo tempo e apresentam um desejo constante por novas experiências. A geração Z, influenciada pelas políticas de inclusão digital, possuem maior facilidade de acesso à internet, são imediatista e destacam-se por sua excentricidade.

Estas gerações seguem a tendência do “faça você mesmo“. Deixando claro que não deve existir hierarquia entre estilistas e consumidores, provocando reflexões sobre a forma de descarte das roupas que usamos. O descarte de tecido não acontece só quando jogamos uma roupa fora, mas durante o próprio processo de confecção. Falamos em ”jogar as roupas fora”, mas esquecemos que esse “fora” ainda ocupa algum lugar. Sem contar todas as vestimentas que não chegam a ser vendidas na estação de sua coleção, vão para promoções e outlets mas, mesmo assim, não saem dos estoques e acabam no lixo também.

Já não encontro em minhas andanças retalhos de tecido descartados como lixo, havendo dentro deste novo nicho iniciativas pessoais e pequenas na utilização destes insumos têxtil, que não são aderidas por grandes empresas e multinacionais. Vale a pena citar que o descarte inadequado e excessivo não acabou, confecções do Brás e do Bom Retiro, na região central, todos os dias geram toneladas de retalhos de tecido.

Nessa nova era a posse não é o mais importante, e sim, o prolongamento do ciclo de vida dos produtos, a redução do descarte prematuro e o acúmulo de lixo. Essa é a ressignificação.

Amplia-se a proposta em promover a moda sustentável pelo consumo de roupas usadas, através dos bréchos, cujo resultado final é uma nova relação de consumo. A boutique/brécho, Silva & Silva Luluzinha Boutique tem como pilares a paixão pela cultura da moda e o reconhecimento de seu valor histórico; a valorização da capacidade de empoderamento feminino e elevação da autoestima pela roupa (“onde a mulher se reconhece dentro dos estilos e promove seu autoconhecimento”); os serviços de psicoterapia e consultoria da beleza, hair e imagem.

A roupa usada traz novos significados e empodera, onde o uso da roupa ocorre de forma acessível, democrática, não apenas para quem tem muito dinheiro. Todas as peças ilustradas nesta matéria são oriundas do acervo da boutique e os modelos que as vestem fazem parte desta grande família, chamada Luluzinha Boutique, onde o olhar se dirige mais ao estilo do que à etiqueta.

Colaborador: Jaergenton Corrêa

Fotos cedidas pelo brécho/boutique: Silva & Silva Luluzinha Boutique (Instagran: @fabianasilva9536)

 

NOTA

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