Fotos: Marília Santos, Instagram: @marilia_santos_marilia
A Casa Amarela Quilombo Afroguarany, fica na Rua da Consolação, 1047.
Em 2014 iniciou-se uma emblemática luta política e artística. A história desse espaço, coloca em xeque um número infinito de questões sociais e culturais que transpassam pelas atividades da casa.
Ser um espaço negro-indígena em um bairro predominante branco e rico, questiona a gentrificação ao reinserir a população originária em um local pensado para ricos fugirem das pestes, e ainda coloca a produção cultural periférica, negra e indígena no coração de bairros excludentes, inserido no Distrito da Consolação.
Higienópolis significa cidade higienizada. foi o primeiro a possuir iluminação a gás, arborização, linhas de bondes, redes de água e esgoto. Além disso, como o bairro fica em um ponto alto da cidade, por lá, não aconteciam enchentes, e, portanto, era mais difícil ter uma área de contaminação de Malária, Febre Amarela e Tifo.
No Distrito da Consolação, a Casa Amarela entra no eixo da produção de conhecimento das Universidades Privadas: Mackenzie (140m), FAAP (1,5 km) e PUC (3km). Porém, o coletivo Quilombo Afroguarany produz conhecimento não hegemônico, cujos currículos e grades destas grandes universidades muitas vezes não alcançam.
Chama a atenção a demora da Prefeitura em regularizar esse espaço para fins de interesse público e comunitário. Ao andar pelo centro de São Paulo e mesmo pela cidade trombamos com inúmeras mansões, casarões, espaços vazios se deteriorando, às vezes virando moradia precária, às vezes esconderijo de ilicitudes, ou até mesmo lixões geradores de pragas.
Estranha-se que há 8 anos Adama Sabbath e seu coletivo tentem estabelecer um ponto de interlocução cultural centro e periferia tornando a cidade mais democrática e mais plural sem receber apoio público, sendo que já há interesse da iniciativa privada, e das universidades em restaurar o local.
No sentido de uma educação histórica e patrimonial, o Quilombo ganha um potencial de espaço útil para memória da cidade. Junto com os parceiros, vislumbram a possibilidade de um curso de restauração dos espaços públicos para preservar a memória, zelar pela cidade e dar vida aos mausoléus abandonados.
No espaço acontece uma pesquisa constante sobre a medicina indígena e afro-diaspórica o espaço dá acesso aos conhecimentos ancestrais da saúde, permitindo que todas as pessoas possam buscar saúde independente de sua renda ou classe social.
Em 19/02/2022 com show de Sampa Crew, e da, Adama Sabbath e convidados a casa reabriu para atividades presenciais.
A data marca também a extensão internacional do trabalho musical de Adama, ela lança um clipe musical em coprodução com a Islândia.
A Casa Amarela Quilombo Guarani é uma potência em vários sentidos, esperando uma resposta positiva da Prefeitura de São Paulo para vitalizar o espaço, apoiar outros espaços e gerar uma multiplicidade de ações integrativas.
Sobre a resistência, faz-se justo analisar a origem e a homenagem a Nossa Senhora da Consolação que deu nome ao Distrito:”O título de Maria como Nossa Senhora da Consolação e Correia lembra ao católico a presença da Mãe de Jesus na vida da Igreja, trazendo alegria, paz e esperança a todos os que necessitam de consolo, com carinho especial aos pobres, aflitos, doentes e marginalizados…”.
Oxalá, Nossa Senhora da Consolação esteja também rogando para que o Quilombo Afro-indígena se mantenha vivo para levar alegria, paz e esperança a todos que necessitam.
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