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Bumbum paticumbum prugurundum
O nosso samba minha gente é isso aí, é isso aí
Bumbum paticumbum prugurundum,
Contagiando a Marquês de Sapucaí

 

Esse foi o samba enredo levado para a avenida em 1982, pelo Império Serrano. Essa belíssima e inesquecível composição de Aluísio Machado e Beto Sem Braço é lembrada até hoje e nos remete à batida de uma bateria.A bateria é o coração da escola, pois é ela que pulsa, vibra e emociona. Existe uma ancestralidade na bateria que muitos não conhecem, então, conversei com o Ipujucan Tadeu Lins, carioca e ex-mestre de bateria, que detalhou esses aspectos.

No Rio de Janeiro, tradicionalmente as baterias fazem referência aos orixás.

O Império Serrano tem como padroeiro Ogum, que no sincretismo é São Jorge. Como Ogum está diretamente ligado aos metais, a bateira tem como destaque a intensidade do som do agogô.
O padroeiro da Mocidade independente de Padre Miguel é Oxossi, o toque da caixa é diferenciado, bem próximo ao toque do candomblé. Já o Salgueiro, tem uma afinação mais baixa do surdo, que emite o som próximo de um trovão, reverenciando seu padroeiro, Xangô.

Ipujucan, também lembra que quando assistia aos carnavais em São Paulo, na Av. Tiradentes e Av. São João pelo som da bateria já se sabia qual estava tocando.

“A bateria é a sustentação da escola em relação ao ritmo, dança e canto. É um ambiente democrático, ali temos coletor de lixo, médico, engenheiro, ou seja, há espaço para qualquer pessoa”.

Quem define a posição dos instrumentos no desfile é o mestre da bateria, cabe ao jurado entender o efeito e a equalização.
Ele ainda salienta que as escolas estão utilizando a mesma batida e acabam perdendo a sua identidade. Os ritmos estão tão acelerados que por exemplo, o chocalho e tamborim “embolam” fica desentrosado.

Fonte: Estação Musical

Renato Sudário, que é ex-mestre de bateria da Nenê de Vila Matilde, detalha que a as escolas de samba do Rio de Janeiro tem sua origem no morro, já as escolas de São Paulo têm sua origem no interior do estado, como por exemplo, São Luiz do Paraitinga.

A Bateria da Nenê de Vila Matilde tem sua caraterística próxima à da Portela.

“Entre 1928 e 1929, a bateria da Portela foi batizada em louvor a São Sebastião que é sincretizado com Oxóssi, o orixá caçador. A base do toque utilizada pela bateria é um Agueré* de Oxóssi”.

O Som do Carnaval, por Luiz Antônio Simas | Philos TV
https://www.youtube.com/watch?v=9zoMl4CaZrc

 

Sudário enfatiza que, na década de 90 ocorreu um intercâmbio com palestras entre Rio de Janeiro e São Paulo para “padronizar” as baterias. E é algo que ele discorda, pois há distribuição de nota 10, sendo que ocorrem erros de andamento. Perdeu-se swingue e a bateria fica sem alma.

Há uma aceleração nas levadas, o “BPM”, que leva em consideração a medição da pulsação das batidas do coração, esse termo é muito utilizado para medir o andamento musical. As baterias costumam tocar entre 140 a 152 bpm.

Vai-Vai, Nenê, Águia de Ouro e Camisa Verde e Branco, são escolas que mantém a batida, ou seja, a tradição.
O elogio ficou para a UESP – União da Escolas de Samba Paulistanas – onde o critério de julgamento faz com que as escolas não percam a sua a essência.

“Para ser um bom mestre de bateria é necessário cuidar das pessoas, administrá-las. Quando fui mestre fazia questão em oferecer refeições, cadastrar todos para os ritmistas e comemorar os aniversariantes do mês. É importante ter uma organização e conhecer a todos, pois há médicos, engenheiros, pedreiros etc. É um ambiente democrático e o ritmista precisa sentir-se acolhido.
Ajudá-los com projetos de línguas e recolocação profissional é uma oportunidade para valorizá-los e entender o que é uma comunidade”.

Renato Sudário, ex-mestre de bateria

Foto: Donizete Vieira

Na avenida, a maioria dos foliões, nem imagina que há toda essa técnica e ancestralidade quando a bateria começa a tocar, mas a emoção que a bateria transmite é inigualável.

“Escola de samba sem bateria não é escola de samba. Bateria é órgão vital, energia, vida!
Passar ao lado da bateria, nos ensaios e na avenida, é fascinante, energizante! Vou às lágrimas, coração explode de emoção.
É uma experiência transcendental!
É mais que isso.
Parece que a gente se torna parte daquela energia rítmica”.

Mari Soares, gestora financeira, foliã e apaixonada por carnaval

 

Deixo aqui todo meu respeito e agradecimento a essa ancestralidade, aos mestres e aos ritmistas que, muitas vezes sangram as mãos para garantir a sustentação, evolução e a cadência.

Agradecimento especial: Ao Renato Sudário e o Ipujucan pela paciência em conversarem por um longo tempo comigo e compartilhando todo conhecimento. Emitindo sons para que eu entendesse a batida de cada instrumento.

*Agueré  – É quando o orixá Oxóssi dança como se estivesse caçando, sendo assim uma das danças mais bonitas do candomblé.

NOTA

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2 respostas

  1. Parabéns, pela matéria!!! Uau, fez relembrar o Bumbum paticumbum prugurundum, histórico!!! Parabéns, pela pesquisa completa!!!

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