Conversamos com Lilian Pires que é tia/avó da Aysha, do lado materno. E falou com o JE sobre mais esse caso de racismo, agora contra a jovem Aysha França Vieira, 13 anos, estudante.
Lilian é ativista social, pedagoga de formação, Promotora Legal Popular, do Candomblé (religião de matriz africana), membro do Conselho Municipal de Cultura de Jaú e ajudou contruir o Coletivo Raízes do Baobá Negras e Negros de Jau, no interior de São Paulo.
Ela explica o que aconteceu e como isso afeta as mulheres negras em geral.
Uma das suas maiores missão é posicionar-se contra todas as formas de discriminação que limita a realização plena da cidadania.
O CASO DE DISCRIMINAÇÃO
Aysha segura um cartaz que contém a frase: “Somos as netas das negras que vocês não conseguiram matar!!!” e na legenda está escrito “Não sou descendente de escravos. Eu sou descendente de seres humanos, que foram escravizados”. A partir daí houveram inúmeros ataques a sua imagem e honra que se iniciaram dia 09 de março.
Lillian tomou conhecimento só no sábado, dia 10 de março por volta das 9h da manhã, dos ataques que sua sobrinha/neta estava sofrendo nas redes sociais.
Na ocasião estava em um curso, e como tínhamos uma apresentação marcada para as 10h30 também voltada para comemoração do Dia a Internacional da Mulher onde ela também ia apresentar uma dança.
Foi quando a tranquilizei e disse que só poderia ver o que estava acontecendo a noite e a orientei logo que me chamou para não retrucar (ficar batendo boca com eles).
No mesmo dia por volta das 23/24horas que eu li algumas passagens(ofensas). Logo fiquei com vontade de explodir, mais respirei e no domingo voltei e deixei uma mensagem debochando deles e dizendo para a Aysha tirar print de tudo. No domingo mesmo iniciei a mobilização com os meus contatos.
Na segunda-feira fiz denúncia no Facebook de algumas pessoas pois não tive tempo para todos, denúncia na Secretaria da Justiça e do Direito a Cidadania do Estado de São Paulo, coordenação de políticas para a população negra e indígena, denúncia no Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Jau, denúncia no Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de São Paulo, Comissão dos Direitos Humanos da OAB de Jau.
Na segunda-feira dia 12 fomos atendidas por uma escrivã. O tratamento foi tranquilo e atencioso. No final a escrivã pediu para que voltássemos na sexta-feira para a representação do mesmo.
Na quinta-feira após a entrevista com o jornalista do JcNet de Bauru, ele me retornou dizendo que o delegado queria acompanhar esse caso. Enfim, na sexta-feira as 9h acompanhadas do advogado Waldemir de São Carlos (cedido pela Central Sindical Conlutas), partimos para a Delegacia e fomos muito bem recebidos pelo delegado Ricardo Dias que conversou e depois nos encaminhou para fazer a representação do boletim, onde uma delegada de plantão a Dra. Isabel que tomou nosso depoimento e anexou os prints. A partir daí ela disse que era com a polícia.”
“Para resumir a Aysha sofreu ataques racistas , de intolerância religiosa no Facebook após uma foto sua ser compartilhada.”
E CONTINUA SOBRE AS OFENSAS…
“Acredito que as ofensas vieram partindo do princípio de um questionamento que nesses dois últimos anos venho fazendo.
De que mulher esse dia 08 de março ele fala? Ai vem a resposta nítida. Um Ato Internacional em comemoração ao Dia de luta da mulher branca.
Se perceber nos textos, frases enfim nos ataques, eles só falam sobre a raça/etnia. Não atacam o Ato em si. O problema é com as frases que ela escreveu no cartaz e na legenda.
Foi mais do que necessário essa mobilização, essas denúncias porque Aysha acabara de sair de um problema sério de pele…ficou 2 semanas internada no Instituto Lauro Souza Lima aqui de Bauru.
Então quando ela está no auge da sua auto- estima acontece isso. Então em nome da Aysha e de todas as meninas negras que sofrem esses ataques vamos denunciar e lutar.
Não é fácil, digo sempre que nessa sociedade ser MULHER, MULHER NEGRA e de RELIGIÃO DE MATRIZ AFRIACANA então. Nossa como sofremos!
E essa frase também tem um grande significado(do cartaz), pois perdemos no mês passado minha mãe que era a matriarca da família uma referência de mulher de luta…enfim.”.
B.O
E AYSHA COMO ESTÁ?
“(Aysha ) está bem…Temos uma base espiritual muito forte. Mas e aquelas meninas e adolescentes que não tem? O que acontece com elas? Temos que dar um Basta nisso. E juntos somos mais fortes.”.
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