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Duas mulheres negras afirmam terem sofrido racismo em loja de São Paulo.

 

 

 

 

O JE conversou com a Beatriz Venâncio e Carolina de Jesus, que afirmaram terem sido discriminadas e acusadas de roubar um sabonete do banheiro da loja CHOIX, “além de estarem fumando maconha, durante um vernissage”, disse a loja.

*Vernissage são recepções, eventos culturais, exposições ou comemorações no setor de arte, moda e entretenimento.

Beatriz, que é fotógrafa e conhece muita gente do meio de moda​, ​ costuma sempre ir em festas e eventos dessa natureza. Dessa vez chamou a amiga Carolina para juntas irem após verem uma divulgação da loja no Instagram. Em um outra oportunidade Beatriz disse que foi nessa mesma loja em um evento com alguns amigos em lançamento de outra marca.

Elas afirmam que em nenhum momento a divulgação citava que os convidados deveriam ter nome em lista ou convites. Era um evento aberto igual a outros que elas já tinham o hábito de irem. 

 

As acusações 

“Fomos ao evento e chegando lá em nenhum momento pediram nome na lista ou convites. Nem muito menos nos informaram que o evento era fechado. Muito pelo contrário, chegamos ao evento, outro funcionário até nos convidou pra conhecer o piso superior”, conta Carolina.

Beatriz falou: “Inclusive, foi o único momento que passamos próximo ao banheiro. Porque ele fica na escada que dá acesso ao piso superior da loja. Ficamos o tempo todo lá fora. Nem as roupas a gente ficou olhando direito, só no primeiro momento mesmo”.

Continuou: “E a primeira vez que eles vieram falar com a gente foi quando estávamos perto da entrada de carros e tinha um garoto que a gente conheceu ali no evento mesmo, negro. Ele estava bolando tabaco e um dos caras da loja, que descobri hoje que é sócio, veio até a gente dizendo estar sentindo cheiro de maconha e que não era pra gente fumar maconha ali. Aí fica o questionamento, né, cheiro de maconha, sendo que não tinha ninguém fumando maconha? Dissemos que era tabaco e ele bem seco disse que não podíamos ficar ali por conta de passar carros etc”.

Elas comentaram que alguém que estava ali na hora do ocorrido citou uma lista de presença que não foi apresentada na hora.  

Que roubo?

Beatriz disse que saíram do local aonde estavam e foram até a frente da loja para evitar mais constrangimentos e problemas. Porém, não demorou muito e um homem chamado Rubens (a se confirmar o nome) chegou perto delas pedindo que se retirassem do lugar sem nem pedir licença. Logo depois viraram para elas dizendo que um sabonete tinha sido roubado no banheiro e mesmo sem apresentarem provas as acusaram de serem as autoras do “roubo”.

Beatriz e Carolina mesmo abaladas e envergonhadas questionaram o porquê daquelas acusações. Elas estranharam serem culpadas de um crime já que nem ao banheiro foram. Ai elas disseram que o rapaz que se dirigiu a elas retrucou dizendo que não as queria na loja dele e que elas ainda ouviram:  “Quem convidou vocês?”, sendo que o evento era gratuito e sem lista ou convite.

Nas palavras de Beatriz: “Foi bem zoado. Eles começaram a fazer uns discursos péssimos, porque acusamos eles de racismo. Os chamamos de racistas”.

 A estranha no ninho?

A parte emblemática fica para uma moça ainda a ser identificada que foi defender a loja e, mesmo sem saber de todo o ocorrido, passou a agredi-las verbalmente. 

A moça que, na descrição da Carolina e da Beatriz era loira com um copo de bebida nas mãos, saiu aos gritos. Um funcionário da loja se pós a gritar e defender o estabelecimento de forma raivosa. Acredita-se que o correto era ela saber ao menos o que estava acontecendo antes de invadir uma discussão que não fora chamado.

Essa cliente da loja faz alguns comentários estranhos para defender que não era racista e a loja também não. Ela cita que tem dois primos/irmãos que são negros e os tratava de igual para igual” e, como citou Beatriz, “(mandaram a gente) à merda, ofendendo real…Vindo pra cima e gritando com a gente sobre a família dela ter adotado duas pessoas negras pra dar oportunidade. E que era pra gente ir à merda porque eles de JEITO NENHUM estavam sendo racistas”.

Houve xingamentos de ambos os lados.  Beatriz foi chamada de louca, pois ela reagiu às agressões verbais e ficou como “a descontrolada”, uma desconhecida só por ser cliente da loja se achou no direito de entrar em uma situação já “zuada” como disse Beatriz sem trazer solução e deveria ter sido inibida a sua ofensiva pelo interlocutor da loja. Esse deveria tratar diretamente com as moças e ajudar solucionar o caso. 

Na visão das duas mulheres negras que estavam ali elas foram expostas, humilhadas e só não chamaram a polícia, pois na palavras delas: “Pretas em uma loja próxima à Estação Cidade Jardim sendo acusados de roubar sabonete e de fumar maconha no local, se eu chamo a polícia eu me foderia, com certeza. Mas a meta era chamar a polícia, só que rolou umas tensões, sou preta e da quebrada, já vivo com a questão do racismo todo dia escancarada na minha cara”

Carolina complementa fazendo uma revelação: “Olha, vou ser sincera com você ( JE ), esses fatos que a ‘Bea’ cita foi o que pensamos na mesma hora, sem termos conversados sobre isso durante o ocorrido. Viemos de um lugar onde muitas vezes não somos instruídas para lidar com atitudes racistas, mesmo que aconteçam a todo momento com nós, pretas”.

E agora?

Beatriz diz que “deseja querer só plenitude e não deseja problematizar o caso devido ao desgaste que já passaram. Mas existe um momento que esgota a paciência e (a gente) só solta tudo. Quando a razão perde para emoção”. Ela disse que se sentiu péssima ali ouvindo aquelas falsas acusações e se sentindo indefesa por aquelas pessoas que não conheciam sua história e de Carolina – como é sobreviver como mulher negra nesse País racista. E ela finaliza dizendo que doeu ver sua amiga Carol quase chorando por não aguentar ouvir as coisas horríveis que eles despejaram nelas. Além de ouvirem aos gritos que ali não era o lugar delas. E que elas não tinham sido convidadas e que aquele evento não era do perfil delas.

Para reafirmar nosso compromisso com a responsabilidade jornalística enviamos perguntas que de pronto foram respondidas pela loja citada. 

“A loja Choix agradece a oportunidade de resposta sobre o ocorrido no último dia 21 durante um evento no estabelecimento.

Esclarecemos que todos os presentes ao evento, sem exceção, acessaram a loja e foram atendidos de forma igual, sem distinção, porque sempre foi a postura da loja receber a todos de forma democrática e respeitosa e, por isso, jamais tendo qualquer atitude de preconceito e/ou discriminação com aqueles que a frequentam. Em determinado momento, durante o evento, recebemos uma reclamação dos condôminos do prédio em que a loja está localizada, com relação a um grupo que estava, naquele momento, atrapalhando a entrada dos carros. O grupo foi abordado educadamente para que liberassem a entrada.

A partir desse momento, esse grupo de pessoas começou a ter algumas atitudes de animosidade e uma discussão se iniciou. O grupo ou qualquer indivíduo deste nunca foi acusado de nada, mas durante a discussão se referiram a um dos funcionários como racista.

Uma cliente frequente da loja se indignou com a atitude e foi abordar o grupo explicando que não havia racismo, mas ela acabou sendo agredida fisicamente por uma das mulheres do grupo em questão (que chegou a assumir publicamente a agressão em um post público em que diz “eu perdi a cabeça de fato”, não vi nem ouvi mais nada, só estava no chão com a moça”.

Os policiais foram chamados por conta da agressão cometida e um representante da loja sugeriu a todos que aguardassem a polícia, mas o grupo preferiu ir embora. A cliente agredida foi até a delegacia e decidiu lavrar um boletim de ocorrência sobre a agressão sofrida.”   

 

NOTA

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4 respostas

  1. Como as meninas disseram falta mais orientação aos nossos no tocantes às regras sociais vigentes em qualquer lugar que estivermos ou formos (inclusive em nossos ambientes, como fosse um treino)…orientar em como participar de eventos com elegância, que não é nada mais do que educação polida e razão.
    Sabemos que é difícil nesses ambientes onde não nos vemos e somos olhados como intrusos, manter serenidade, mas URGE que também treinemos em nossa casa esses possíveis destratos que sabemos bem do que se trata…um olhar e uma conversa corporal distorcida nos diz muito. Estamos satisfeitos das Psicossociais do racismo, acho.

  2. Eu e minha mãe também fomos vítimas de olhares estranhos num evento num hotel em Copacabana na virada do ano. Éramos hóspedes, mas quando subimos para ver a queima de fogos na sacada fomos encaradas como intrusas: primeiro um casal de brancos nos olhou com espanto. Depois dois seguranças ficaram nos olhando, um , inclusive deu um pulo a frente para ver se não éramos intrusas, mas como estávamos com pulseiras de acesso, não fizeram nada. Porém só esses olhares já acabou com meu fim de ano. Minha mãe coitada ainda ficou com medo de andar no hotel e ser parada.

    1. Lua se soubesse a quantidade de casos que nos chega. Mostra que muito precisa ser feito e sem punição exemplar nada mudará. Multas milionárias ajudaram muito. Pois muito dessas pessoas só mudam quando mexem em seus bolsos. Triste, mas é assim. Enquanto isso vamos lutando e tentando ajudar a diminuir o sofrimento. Continue nos acompanhando.

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