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Quem é quem no RPG nacional?

Acabei jogando simples. Quem seria a segunda pessoa entrevistada? Bom, pensando na entrevista anterior com Thiago Rosa, seria interessante pensar numa figura que dialogasse com a conversa anterior. Parece que deu certo, mas, aviso logo a todas e todos. Nem sempre terei essa inteção… Mas além da autoria junto com o Thiago em Kanryu Densetsu, quais as intelocuções eu pensei, ao conversar com a Nina? Nesse meu retorno (que eu sempre gosto de ressaltar) a Nina é uma das pessoas que tem provocado a pensar em outros elementos para os jogos de RPG: mecânica, atalhos para uma narrativa rica, uma grande dedicação ao processo de escrita, mas também, sobre a forma como podemos ocupar a cena do RPG, construir espaços de jogos seguros para todas e todos. Espero que vocês gostem desse novo capítulo!

No fim da entrevista, deixo alguns endereços legais sobre algumas da milhares de reflexões que a Nina está fazendo!

Com a palavra, minha amiga querida, Nina Bichara.

 

Dados Críticos – Nina, eu gosto de começar pelo início… Me diga, como você começou a jogar RPG?

Nina Bichara – É aquela velha história de amigos dos amigos e de descobrir que ainda havia lugar para gostar de animações e jogos. O engraçado é que na época eu tinha uns 14 anos e fazia academia. Um amigo bem mais velho sempre voltava comigo e entre uma conversa e outra perguntou se eu gostaria de jogar esse jogo diferente de interpretar, se eu preferia ser o Aragorn ou o Legolas e etc. O único susto foi que quando ele disse que eu teria que pagar um ‘negocinho’ pra usar duas armas, eu achei que teria que pagar alguma coisa pra jogar mesmo e já fui separando meu dinheirinho.

D.C – Meu primeiro contato com você foi pelo Twitter. Trocando ideias sobre dicas para mestrar rpg… Ou seja, você foi uma das referências legais que tive para mestrar jogos, construir uma aventura. Como você busca essas informações?

N.B – Eu acho que eu tento não ver RPG como uma coisa fechada e restrita. Eu acredito que posso tirar inspiração de qualquer coisa e que há várias boas histórias, além dos modelos normais de fantasia que o pessoal persegue. E isso a gente tira lendo livros diferentes, conversando com gente diferente e conhecendo coisas e gostos além dos nossos.

Mesa Magical Fury – Arquivo: RPG Noticias
Na foto: Leish, Nina, Inácio Feanor, Thiago Rosa, Leandro Pug, Ramon Mineiro e Camila Ramos tirando a foto.

D.C – Como começou a sua construção de jogos, cenários e aventuras de RPG? Fala um pouco das suas produções. E eu queria que você falasse um pouco do processo de escrita do Karyu Densetsu junto com nosso querido Thiago Rosa.

N.B – Se eu te disser que eu não sei como isso começou pode soar clichê e um cadinho de síndrome do impostor. Como mulher eu nunca achei que eu escreveria jogos, eu achava que meus amigos iam fazer isso, eu não achava que eu tinha habilidade para isso. Claro que eu sempre escrevi, tive poesia da 1ª série que foi para o jornalzinho da escola, arrisquei começar uns livros no colegial e no começo da faculdade. Mas isso mudou para o RPG depois que eu comecei a mestrar no Perdidos no Play, que eu meio que me ofereci para narrar algo. Daí veio mais aproximação com a Flávia Gasi, de quem eu sempre fui fãgirl, e ela chamou para escrever sobre RPG no Garotas Geeks. Acho que depois do post “Gatinhos explicando classes de D&D” que notaram meu potencial para inventar coisas. Quando dei por mim o Thiago Rosa me chamou para trabalhar com ele numa classe pra Pathfinder, o resto é história. A amizade com eles foi uma benção, gente te empurrando para produzir quando você nem acredita no seu potencial é sempre uma benção.

O Karyu Densetsu foi uma surpresa e uma honra, você não espera que depois de um único trampo juntos alguém te chame para um projeto super pessoal e especial. Afinal o Thiago estava fazendo o KD há anos, é intimidador. Era só para trabalhar com cenário, mas eu sou intrometida, então quando eu fui vendo as coisas fui ajudando a construir partes do jogo que ainda precisavam de trabalho e atenção. Isso foi além do que eu fui chamada pra fazer (eu acho), mas trabalhar com o Thiago é bom e a gente divide muitas opiniões parecidas sobre jogos, então dá certo.
O Thiago me dava um nome (que muitas vezes era baseado em algo real) e eu ia pesquisando, passando dias empolgada no assunto, mudando e moldando o cenário para ser crível e especial. Eu realmente gosto desse trabalho de construir coisas e elas parecerem reais. Ele me dar essa chance e acreditar no meu trabalho foi muito importante.

D.C – E as suas inspirações? Quais livros de RPG, inspiraram na construção de suas produções? Existiram outras inspirações? Quadrinhos, literatura, filmes animações…

N.B – Eu sou meio ruim de inspiração. O Thiago Rosa e a Flávia são minha maior inspiração e muita coisa sai do que eu converso com eles. De trocar alguma ideia e querer produzir pra ver o tipo de coisa que a gente acredita existir. Eu adoro o Studio Ghibli, Hellboy e histórias de distopias Infanto Juvenis (onde normalmente habitam as escritoras de fantasia). Eu falo muito por aí de Golden Sky Stories também, que é um RPG sem combate, um RPG sobre se relacionar com as pessoas. Ele me despertou um olhar novo sobre jogos. Já que são jogos de contar histórias, eu posso querer emular QUALQUER tipo de história.

D.C – A primeira lembrança que eu tenho de você, a primeira vez que eu vi seu rosto foi nas mesas do RPG das Minas. Mas você já estava mestrando em streams há algum tempo. Como isso começou?

N.B – Eu comecei lá no Perdidos no Play, mestrando Jadepunk, só que usando um cenário meu. O Inácio Feanor, que é meu marido atualmente, acompanhava muitas streamings e ficou insistindo que eu deveria fazer isso também. Eu queria narrar num cenário Steampunk (que é um livro que eu comecei) e o Leish me apresentou  o Jadepunk, que estava sendo lançado pela Pensamento Coletivo. Eu encerrei essa mesa meio cedo por coisas da faculdade, eu até ia parar, mas aí veio o convite do RPG das Minas e eu não poderia ficar mais feliz.

Eu fui a primeira mulher a narrar em streamings no Brasil. Ouvi umas coisas bem engraçadas por isso, do tipo: “Você é uma boa narradora, sua voz é boa. Dá pra aguentar você falando por horas, diferente de outras mulheres.”. É de rir e chorar, mas foi uma experiência bacana.

 

Era de Cobre – Perdidos no Play
Na foto: Rafael Ramon, Inácio Feanor, Amedyr e Naru

D.C – Eu noto que o RPG ganhou um contorno bem interessante com a internet. As streams, por exemplo, ocupam um lugar legal. Mas, mulheres estão bem representadas nesses espaços do RPG nacional?

N.B – Claro! Tanta streaming que jogam só os cara. Como vamos fazer meninas verem que esse espaço é delas se nós que botamos a cara no mundo não estamos lá. Eu ainda acho que existe espaço para ocupar. Sempre vem gente me pedir indicação de meninas para jogar, mas elas estão sempre aí. Existem várias ações de mulheres porque não somos naturalmente incluídas nas coisas, mas a gente quer ter inclusão sem ter que fazer nosso espaço.

D.C – Você também está compondo o grupo de trabalho na Aster Editora, junto a uma das pessoas que eu mais admiro no RPG, a Eva Andrade. E é um trabalho que as pessoas conhecem pouco. Conta um pouco desse lugar que você ocupa.

N.B – Eu sou editora lá. O que significa que eu recebo o livro da galera, leio, corto coisas, ajudo os escritores a desenvolverem melhor o jogo, fazer um cenário redondinho e conferir se uma regra não quebra a outra. Também faço a direção de arte e capa. Eu gosto de editar, é trabalhoso, mas eu gosto. Sentir que o jogo vai ganhar mais XP e chegar mais bonitão na casa da galera é uma coisa boa. Até agora editei o Cachorros Samurais do Alan Silva, que vai ser relançado, e comecei o Fair Leaves do Fábio.

D.C – você contribuiu com um trabalho lindão, que aparece ao longo no jogo da Carol e do Júlio o “Goddes Save the Queen. Como esse trabalho diferencia (ou aproxima) da construção de aventuras, ou de novos jogos.

N.B – É totalmente diferente. Escrever um cenário é complexo, mas muitas vezes é uma silhueta. Você só vai delineando as coisas e deixando ganchos pra outros criarem histórias usando aquilo. Já escrever o conto é definir tudo em pedra. Cenário, personalidades, ações.

Eu experimento muito com contos no meu Medium pessoal, pra me desafiar mesmo. E o Goddess foi um novo desafio, porque as personagens não eram minhas e eu tinha que emular a ação cinematográfica do jogo. Foi um desafio e tanto, mas eu gostei demais.

D.C – Nas últimas semanas você e o nosso querido Rafael Cruz lançaram o canal ConversAção. O que é o ConversAção?

N.B – O ConversAção é um projeto para discutir jogos, narrativas, histórias e afins e pensar novos jeitos de pensar elas. O projeto veio da nossa vontade de mudar as coisas, de pensar novas possibilidades para nossa realidade de jogadores e querer ver elas acontecendo. Ver histórias diferentes, personagens diversificados e de viver o novo junto com a galera. É um projeto muito libertador e querendo produzir mudança positiva. Não precisou mais de uma tarde conversando com o Rafael Cruz para sair isso, e eu chamo isso de destino.

D.C – Sobre produção de eventos e participação de mulheres. Quais as suas impressões?

N.B – Eu acho que a galera tem que melhorar.

Nós temos que estar lá na frente também, falando do nosso trabalho. Não falando só sobre ser mulher no meio, a gente trabalha com isso e quer falar sobre esse trabalho. Eu já dei palestra na Campus Party, a Marielle Zum Bach (mestre anterior do RPG das Minas) já falou de RPG na Social Media Week, mas em evento de RPG nunca vi muitas mulheres falando no palco. Tem mudado, mas a passos ‘de formiga e sem vontade’.

Narrando Magical Fury para a Gentle Ogre – Arquivo: Gentle Ogre
Na foto: Leish, Bruna Nora e Inácio Feanor

D.C – Em cima da participação de mulheres nas mesas de rpg, em eventos, na produção… você escreveu um texto poderoso sobre as invisibilidades, violências sofridas por mulheres nas mesas de RPG. Quais as suas impressões a partir e depois desse texto?

N.B – Eu quero levar daquele texto o que ele teve de bom. Caras dizendo que leram e foram mudando de opinião ao longo do texto, meninas podendo dividir suas tristezas e traumas, meninas se vendo nos testemunhos e gente dizendo que estava mudando. Era isso que eu e a Jéssica Reinaldo queríamos quando escrevemos, produzir mudança, falar de nós e dar voz a outras meninas.

Para conhecer mais sobre o trabalho da Nina!

Medium da Nina

 

NOTA

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4 respostas

  1. Olá,

    Nina é uma pessoinha adorável e fantástica! Só tenho a reclamar por ela morar longe demais.

    Excelente entrevista, Luciano! De fato, adorei as escolhas dos dois primeiros entrevistados porque são duas pessoas de quem tenho um orgulho imenso de ser amigo. Passei batido de comentar na primeira entrevista, mas não ia cometer esse erro de novo. Parabéns pela coluna!

    Bonanças.

    Atenciosamente,
    Leishmaniose

  2. Eu não sou muito de assistir stream, mas adoro as postagens dela no garotas geeks. Aguardando o Karyu Densetsu (um dia eu aprendo a escrever ao invés de ficar copiando e colando).

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