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“Quando o filho devora o seio da mãe, ela vira um monstro” (fala do filme Boominka)

Por Anna Brisola e Elis Assis

“Fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade” (KRENAK, 2019, p. 16).

 

Ailton Krenak, em Ideias para adiar o fim do mundo, fala da necessidade dessa reconexão com a Natureza. No documentário A sabedoria do tempo, com Papa Francisco, ele fala da tradição de Pachamama e diz “Deus perdoa sempre, nós humanos às vezes, a Natureza nunca!”.

Que tipo de relação a humanidade está tendo com Gaia, mãe Terra, a Natureza? Sempre me pego pensando que somos para a Terra como os vírus, bactérias e fungos que convivem em nosso corpo. Se a convivência é simbiótica, ela é colaborativa e tudo vai bem. Se um destes organismos sai de controle e começa a atacar nosso corpo, logo nos medicamos ou morre o hospedeiro, no caso nós. Temos sido seres destrutivos, sem limites, prepotentes e guiados pela ganância a tal ponto que Pachamama tem nos dado avisos cada vez mais evidentes e violentos. Nós estamos devorando o seio da Natureza que nos alimenta.

Diante dessa situação, já há algumas décadas, pessoas vêm nos alertando e propondo mudanças que nos alinhem novamente com Gaia, que nos coloque em simbiose e em uma relação de respeito com a Terra. A permacultura é um movimento neste sentido que vem ganhando espaço e convencendo de que existe a possibilidade de vivermos melhor e em comunhão com a Natureza.

Na década de 1970, Bill Mollison lançou a teoria da cultura permanente. Ele acreditava que os humanos poderiam criar um sistema no qual viveriam integrando espécies de plantas e animais com a intenção de um desenvolvimento ecologicamente sustentável.

Em seu livro, A hora do terrível dia (1981), o pesquisador australiano aponta que parece que as pessoas não se dão conta do que está acontecendo na Terra.  Que os movimentos só acontecem na base do terror e medo gerados pela anunciação de catástrofes. O medo logo é engolido pelo cotidiano e deixa de ser uma preocupação. E continua de maneira sensata: “Os sistemas reais que estão começando a falhar são os solos, florestas, a atmosfera e os ciclos de nutrientes. E somos nós os responsáveis por isso. Não temos desenvolvido, em nenhum lugar do mundo ocidental (e duvido muito que em qualquer outro lugar, a não ser áreas tribais) nenhum sistema sustentável de agricultura ou manejo de florestas. Nós não temos um sistema”.

A teoria de Mollison foi desenvolvida na tese de doutorado de seu aluno, David Holmgren, tese que deu origem à obra Permaculture One e Permaculture Two. Mollison publicou Permacultura: Um manual do Designer e Introdução à Permacultura. A ideia foi ganhando espaço, dando origem à associação Quarterly, empenhada em discutir e divulgar as ideias de uma cultura permanente, ao Jornal Internacional da Permacultura.

Mollison seguiu divulgando a ideia através de palestras, conferências e reuniões. Viajou pela Austrália e pelo mundo, com ambientalistas, agricultores e cientistas, o que motivou cursos sobre o Design Parmacultural. Assim, o conceito de um designer de vida sustentável vêm ganhado adeptos pelo mundo e agregando novos temas como biorregionalismo, tecnologias sustentáveis e preservação genética, inclusive inspirando os designers de solarpunk.

No Brasil, a Permacultura se comunica com várias frentes tecnológicas baseadas na sustentabilidade do planeta e relações ecológicas. Dentre elas: agroecologia, sistemas agroflorestais, bioconstrução, energia renovável, saneamento ecológico, sistema sivilpastoril, reciclagem e compostagem.

Flor da Permacultura, que representa um caminho evolutivo em forma de espiral, que demonstra como o planejamento permacultural transpassa de forma interdisciplinar a todas as áreas das necessidades e atividades humanas.(adaptada de David Holmgren)Flor da Permacultura, que representa um caminho evolutivo em forma de espiral, que demonstra como o planejamento permacultural transpassa de forma interdisciplinar a todas as áreas das necessidades e atividades humanas. (Adaptada de David Holmgren)

Na expansão desta visão de desenvolvimento humano rumo à construção de uma cultura permanente, valores ancestrais são resgatados para reformulação de valores atuais na relação humano/meio ambiente. As pétalas tratadas como um designer na Permacultura, hoje não apenas se interligam, como geram novas reflexões e complementações. Isso acontece porque a teoria de Mollison não é engessada mas um conceito a ser desenvolvido a favor da vida, sustentado em três pilares: o cuidado com a Terra, o cuidado com as pessoas e a partilha justa.

É uma ideia que pode ser revolucionária, não apenas na preservação da espécie humana e no adiamento do fim do mundo, mas também na valorização dos povos, culturas e práticas ancestrais. Retoma a ideia de que somos um enquanto organismo Terra.  De que a partilha justa e a equidade são o caminho para uma sociedade mais justa. Que, com base nos conhecimentos ancestrais aliados com a ciência, e no ideal de que cada um de nós faz parte desse corpo, desse todo, reconhecendo as opressões, os abusos, os privilégios, as dominações, domesticações e branquitude, podemos lutar juntos por um futuro mais harmônico, com mais justiça e equilíbrio social, ambiental e cultural.

Na prática o movimento no Brasil tem incentivado a Permacultura Campesina e Urbana, com incentivo à educação ambiental, a economia solidária e expandindo ações e iniciativas que favoreçam a autonomia alimentar. Algumas das instituições e grupos que disseminam o conhecimento da Permacultura no Brasil são IPOEMA, Unipermacultura, Rama permacultura, Instituto Pindorama, Projeto Ecovila Muriqui Assu, Família D’Terra, Preta Terra, Instituto Socioambiental Reserva da Prata, Terras de Maria Bonita, Vila Sercópia, Gaia Orubi, Bioconstrução Guaraciaba, entre muitos outros.

Cada espaço, grupo informal, veículo de comunicação e instituição que amplia este designer e espalha esta ideia, consegue colaborar com um futuro direcionado à conscientização e desenvolvimento de uma maneira de viver mais sustentável, que colabora com a sobrevivência do nosso planeta e de nossa espécie.

Essa coluna se propõe a fazer esta viagem com você, rumo a uma vida mais saudável e equilibrada, no campo ou na cidade, valorizando a harmonia entre pessoas e natureza e vai abordar os temas e experiências que atravessam esse caminho.

Vem com a gente!

 

Edição e Revisão: Eliane Almeida Mtb 39.832

*ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO JORNAL EMPODERADO E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. O JORNAL EMPODERADO É UM VEÍCULO QUE PRIMA PELO DIREITO A DAR VOZ E VISIBILIDADES AOS INVISÍVEIS.

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