Esforço-me para esclarecer a todos da minha cor o quanto é fundamental estarmos juntos para fortalecermos uma causa que é de interesse comum a nós pretos.
Mostro a eles as diferenças, as segregações e preconceitos em suas diversas formas.
Porém os que detêm privilégios se negam a revisarem tais condições, e insistem em se autodenominarem pessoas de bom nível, pertencentes a classe B ou A, detentoras de finos tratos e de elevada moral, de cultura invejável, de estética aprimorada, de paladar e odor lapidados, tudo lhes aproximando, graças aos seus grandes esforços pessoais e individuais, de uma perfeição quase acima do juízo final. Tudo o que negam terem os da outra extremidade, como se fossem antônimos dessas personificações.
Razoável assim seria, dede que não fossem à custa de explorações seculares daqueles que em sua maioria é composta por afrodescendentes.
O efeito que este discurso desprezível causou e causa nessa camada menos favorecida ainda repercute de tal forma, que os próprios prejudicados desarticularam-se da própria motivação individual e coletiva.
O discurso de que somos desunidos que tanto nos foi, e é repetido até hoje, que retomba em nossos tímpanos, nós aniquila de tal forma, que passamos a repetir que não somos capazes de nos organizarmos, e até mesmo aqueles que inflamam uma movimentação nesse sentido são desmotivados pelos seus próprios parceiros, sob um discurso cruel de que não vale a pena e que jamais dará certo. Não se apercebendo esses críticos que o método de separação foi parte estratégica do processo escravocrata.
Que trabalho de lavagem mental foi este realizado com tamanho sucesso sobre os nossos, que aqueles que conseguem perfurar esta barreira, quando se voltam às bases, nos olham de um modo semelhante àqueles que nos exploram há séculos.
E isto é muito triste, pois quando desses poderíamos esperar um reforço, eles surgem como adversários remodelados por dentro de tal forma que o desconhecemos, restando apenas a semelhança externa quando não a procuram também dissimular.
Não compartilham, não alinham para a resistência, e nem combatem, mas usufruem das conquistas arrancadas pelos movimentos negros, quando ali lhes é conveniente se autodeclarem como afrodescendentes.
Tudo isto nos torna devedores obrigatórios de militantes honoráveis que nos antecederam, pois se ainda hoje com toda a história redescoberta e revelada, ainda encontramos resistência dos irmãos, imaginem o que enfrentaram heróis como Zumbi dos Palmares, Dandara, Marcus Mosiah Garvey, Teresa de Bengala, Cruz e Souza, Antonieta de Barros, Aqualtune, Theodosina Rosário Ribeiro, Luiz Gama, Jurema Batista, Chiquinha Gonzaga, Abdias do Nascimento, Francisco José do Nascimento, Aleijadinho, André Rebouças, Mãe Menininha de Gantois, José do Patrocínio, Luiza Mahin, Machado de Assis, Lélia Gonzalez, e tantos outros e outras, que nos motivam a persistir apesar de todos os adversários dentro e fora da família.
Pois antes da abolição da escravatura em 1888, durante e depois por um bom tempo, todos os movimentos empossados em nome da comunidade negra eram tidos como ilegais, clandestinos, comunistas e sujeitos a prisão e até seus lideres levados à morte e outros sacrifícios pessoais.
Quilombos eram locais de fugitivos, de insurreições e bandoleirismo, e encontros acima de 2 negros eram tidos como formação de quadrilha e a repressão tinha autorização por lei de impedir ou até mesmo prenderem como delinquentes. A capoeira foi proibida por lei (Decreto número 847, de 11 de outubro de 1890), a religião de matriz africana era condenada e passível de depredação.
Depois veio por decreto do governo militar, a famosa Democracia Racial que emoldurou o racismo no Brasil com algo lindo e exemplar que resultou no que é hoje.
E por tudo isso ainda temos grande dificuldade de justificarmos aos nossos, as necessidades das nossas ações de resistência, porque muitos ainda desacreditam, sem terem a consciência de que replicam um discurso ditado por eles.
Mas falta pouco, já somos a mais!
Grato,
Texto de Luiz Antonio-X ( Articulador dos Movimentos: Poder Negro Vale e Confederação do Negrxs do Brasil )
De quem precisamos saber, para entender o hoje:
06 – Morre o jamaicano Marcus Garvey, mentor do Pan-africanismo / 1940;