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     Chimamanda Ngozi Adichie é uma contadora de história (escritora) e foi criada em uma família de classe média, na parte oriental da Nigéria, África, com conforto e fartura na mesa, contava com a ajuda de empregados domésticos. Segundo sua mãe, ela aprendeu a ler aos dois anos, mas ela acredita que aos quatro anos seria o mais perto da verdade, e a escrever aos sete, como ela mesma conta, com base em livros estrangeiros e, a partir deste ponto de vista deles, ela escreveu histórias com personagens brancos que comiam maçã e brincavam na neve, isso sem ela nunca ter pisado no gelo. No entanto, ela reproduzia essa realidade que lhe era passada pelos livros que lia em detrimento de sua própria realidade e descobriu mediante ao preconceito de raça que havia muito mais a ser contado do que a história única que ela conhecia e reproduzia sobre o seu universo.

       Diante desta realidade Chimamanda passou a querer viver algumas destas realidades que lia nos livros estrangeiros como: beber cerveja de gengibre, como os seus personagens britânicos bebiam. Também acreditava que suas histórias somente seriam valorizadas se contasse com estes personagens tidos como modelos de beleza e perfeição e que para ela, só existiam no exterior. Ela conta que foi graças aos escritores africanos Chinua Achebe e Camara Laye que percebeu que pessoas como ela também poderiam ser protagonistas de sua própria literatura.

        Em um trecho de sua história de vida pessoal, Adichie conta que ficou impactada com a capacidade de um dos membros da família do seu empregado em criar belas peças de artesanato, já que a história única que ela sabia sobre eles, era a de que eram muito pobres e que precisavam de ajuda para sobreviver e a versão da história dessa família pobre seria outra se sua mãe tivesse descrito: que eram pobres porém talentosos. Essa prática causaria um equilíbrio na história contada sobre essa família. Prática essa adotada pela escritora, com base no conceito de Chinua Achebe “um equilíbrio de histórias”.

        O preconceito também foi sentido na própria pele da autora ao se deparar com uma amiga de quarto na faculdade (EUA) que achava que ela era apenas uma pobre coitada sem grandes possibilidades de progresso ou cultura. Essa colega de quarto, na verdade, também era uma vítima da “história Única” e do racismo estrutural impetrado pelos grandes filósofos como Fanon, Hegel, entre tantos outros, com suas descrições bizarras sobre o continente africano e seu povo do tipo: são animais fétidos, péssima aparência e com falta de raciocínio, relegando um continente inteiro ao esgoto da humanidade.

        Adichie destaca esses episódios como: “Os perigos da história única contada pelos livros e, salienta a importância de nos policiarmos sempre sobre essa questão. Ela vai dizer que sempre há várias versões de uma mesma história, que podem perpetrar uma história única ou não; e uma das maneiras de sair deste movimento cíclico é olhar para a história sob vários pontos de vista. Principalmente, analisar estas histórias sob o ponto de vista de quem conta, para quem se conta, quando são contadas e como são contadas essas histórias, por se tratarem de formas de poder:

       É impossível falar sobre a história única sem falar do poder. Há uma palavra, uma palavra malvada, em que penso, sempre que penso na a estrutura do poder no mundo. É “nkali”. É um substantivo que se pode traduzir por “ser maior do que outro”. Tal como os nossos mundos econômico e político, as histórias também se definem. pelo princípio do “nkali”. Como são contadas, quem as conta, quando são contadas, quantas histórias são contadas, estão realmente dependentes do poder. (ADICHIE. Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história Única – Entrevista ao programa de entrevistas na internet – TedGlobal. 2009. disponível em https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_the_danger_of_a_single_story/transcript?language=pt#t-698472 ).

Seria este poder que Adichie fala, a essência da palavra que vem do latim com o significado de posse (potere), substituído ao latim clássico posse, que vem a ser a contração de potis, “ser capaz”; “autoridade”. Ou estaria nos remetendo à teoria de Foucault que vai dizer que o poder vai além dos contratos jurídicos ou institucionais. O poder em Foucault reprime, mas também produz verdades absolutas.

(…) Captar o poder nas suas formas e instituições mais regionais e locais, principalmente no ponto em que ultrapassando as regras de direito que o organizam e delimitam (…) Em outras palavras, captar o poder na extremidade cada vez menos jurídica de seu exercício. (Foucault, 1979:182)

        A escritora ressalta os perigos da prática de se contar a história de uma outra pessoa e reduzi-la aos caprichos de quem as contou, transformando essa, em uma história única, muitas vezes mentirosa. Adichie observa que o grande problema da história única é exatamente este: a criação de estereótipos que tornam a história incompleta e mal contada. Em suma: ao contar uma história ou ouvir, analisando a diversidade de pontos de vista, não somente estaremos tratando de forma correta essas narrativas, como também promovendo uma reparação histórica em muitos casos, como a do continente africano.

 

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