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O autor Editor Joseph KI-ZERBO, em Introdução. In_ História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África – 2.ed. rev. – Brasília : UNESCO, 2010 propõe a reescrita da história da África, a partir dos próprios africanos como a melhor alternativa para uma redescoberta da história real do continente, como uma reparação à dignidade de um povo que merece ser reconhecido sob outros prismas, que não o do caos, pobreza, desordem urbana, tudo isso sob o ponto de vista exógeno e dos colonizadores. “Não se trata aqui de construir uma história-revanche, que relançaria a história colonialista como um bumerangue contra seus autores, mas de mudar a perspectiva e ressuscitar imagens “esquecidas” ou perdidas”. (Editor J. Ki-Zerbo).

A história do continente africano vem sendo contada e recontada como uma “história única” como destaca a escritora Chimamanda Ngozi Adichie que se resume a um ponto de vista único o dos colonizadores, como forma de manutenção de um “poder” que apresenta o caos social, a falta de infra-estrutura e até mesmo de inteligência de um povo que mesmo detentor de grande riqueza natural, ainda vive sob guerras infundadas, modelos de gestão arcaicos e de violação de direitos.

Ki-Zerbo propõe então uma metodologia baseada em alguns questionamentos como: porquê? como? a partir de fontes difíceis, fontes escritas, arqueologia, tradição oral como uma metodologia inclusive fundamentada em valores muito relevantes para os africanos e comprovadamente viáveis do ponto de vista histórico, linguístico, antropológico e etnológico, tomando como princípios básicos de pesquisa a interdisciplinaridade, ou seja, que essa história seja enfim vista a partir do interior e a partir desse interior. Além disso, que essa reescrita da história seja obrigatoriamente a história dos povos africanos em seu conjunto, evitando ser excessivamente factual. Essa metodologia ainda propõe uma tomada de consciência não como um espelho de Narciso, mas como uma verdade revelada sob outros pontos de vista do próprio povo africano.

O autor destaca a importância da tradição oral para essa reescrita da história africana mas apresenta alguns caminhos escorregadios e perigosos para a aferição da verdade mesmo nesta modalidade, considerada de grande relevância para a cultura africana, por conta da existência de tradutores mercenários e inescrupulosos que modificam as interpretações ao seu bel prazer, e ainda a existência de “mercadores ou mercenários da tradição que servem à vontade, versões de textos escritos reinjetados na própria tradição?!”, enfatiza. No entanto, ele vai destacar o poder da palavra para o africano e a importância dela para quem tem a autoridade da palavra na tradição oral:

Para o africano, a palavra é pesada. Ela é fortemente ambígua, podendo fazer e desfazer, sendo capaz de acarretar malefícios. É por isso que sua articulação não se dá de modo aberto e direto. A palavra é envolvida por apologias, alusões, subentendidos e provérbios claro – escuros para as pessoas comuns, mas luminosos para aqueles que se encontram munidos das antenas da sabedoria. Na África, a palavra não é desperdiçada. Quanto mais se está em posição de autoridade, menos se fala em público. Mas quando se diz a alguém: “Você comeu o sapo e jogou a cabeça fora”, a pessoa compreende que está sendo acusada de se furtar a uma parte de suas responsabilidades. (KI-ZERBO, 2010).

Ki-zerbo lembra que “a tradição oral não é apenas uma fonte que se aceita por falta de outra melhor e à qual se resignam por desespero de causa. É uma fonte integral, cuja metodologia já se encontra bem estabelecida e que confere à história do continente africano uma notável originalidade”. Lembra.

O autor vai propor uma nova visão copernicana para a reescrita da história africana que agregada a uma interpretação semântica da história, seria o ´pontapé inicial para essa revolução histórica, no entanto, vale a pena observar que até o presente momento, a visão que se tem da história africana é de fora para dentro (exógena) e copênica (a partir do sol), logo, se os africanos precisam mostrar ao mundo sua ideologia, sua cultura, sua riqueza, sob seu ponto de vista, logo, a visão mais acertada seria a que originada do interior de um organismo social, buscando uma estrutura endógena.

Para o autor este retorno às origens que pode ser muito estimulante para o restante do mundo, mas ele é ainda mais necessário para se entender melhor a história da humanidade. Vale ressaltar, que África não é um continente sem história, mas sem a história devidamente contada sob o ponto de vista dos africanos. Basta adentrar à cultura africana para observar sua grande riqueza de saberes. Logo, esse conhecimento de África realmente precisa sair do umbilical para o mundo de forma que o mundo possa entender. Fugir das parábolas entendidas e interpretadas muitas vezes erroneamente por alguns, para uma semântica universal do saber. Isso não quer dizer, desfazer o modo de produzir cultura de um povo, mas se deixar entender. Isso também não quer dizer, começar a escrever e produzir cultura na língua do colonizador, mas expor seu modus operandi para o mundo traduzido ou não.

O próprio Ki-Zerbo faz esse apelo às suas autoridades quando ele diz:  “É preciso que o homem de Estado africano se interesse pela história como uma parte essencial do patrimônio nacional que deve dirigir, ainda mais porque é pela história que ele poderá ter acesso ao conhecimento dos outros países africanos na ótica da unidade africana”.

E ele vai além ao pedir que os vestígios históricos sejam protegidos e salvos pelo estado ao pedir que: “Os Estados africanos devem organizar equipes para salvar, antes que seja tarde demais, o maior número possível de vestígios históricos. Devem-se construir museus e promulgar leis para a proteção dos sítios e dos objetos. Devem ser concedidas bolsas de estudo, em particular para a formação de arqueólogos. Os programas e cursos devem sofrer profundas modificações, a partir de uma perspectiva africana.

Voltando à questão da escrita, o autor ao mesmo tempo que preza pela perpetuação da tradição oral como metodologia muito bem fundamentada e estabelecida para a cultura africana, roga também por outras maneiras de se perpetuar a cultura, seja através do resgate arqueológico, editorial, através da história escrita e ainda através de estudos aprofundados das origens dos africanos e sua colaboração para o progresso da humanidade.

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