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Na semana em que ocorreu a chacina, chamada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro de Operação Exceptis, que  entrou para a história como a mais letal do estado com 28 mortos, “comemora-se” um triste dia das mães.

O segundo dia das mães em meio a pandemia de corona vírus e diante de mais de 420.000 mortos por covid 19 e de  uma crise econômica devastadora que expõe um Brasil de fome e angústia, foi banhado no último dia 6 pelo sangue de jovens moradores da favela do Jacarezinho no Rio, e pela dor de 28 mães, incluindo a de 1 policial civil morto na operação.

No Brasil Mulher, a dor das mães

O Brasil que possui em sua maioria, lares chefiados por mulheres “pardas”(termo em muito questionável) e negras, em grande parte mães e sendo muitas de periferias e favelas, está dilacerado por uma ferida social que perpassa e perpetua uma estrutura que criminaliza a pobreza e territórios vulneráveis, negligenciados pelo Estado.

O sucateamento dos equipamentos públicos, o não investimento nas políticas públicas como um todo e o estímulo a ideologias intolerantes e violentas formam circunstâncias que resultam na execução desses jovens diante da incompetência de um Estado que não cumpre seu papel de proteger mas está a postos a punir da forma mais violenta possível.

Em uma espécie de herança sombria da ditadura no Brasil, vivemos um momento em que a necropolítica parece ser um processo constituído pelo próprio  poder vigente. Ações, marcadas pelo autoritarismo e pela violência, durante o regime militar determinariam o futuro do país e originaram um processo em que muitos dos problemas atuais estão sustentados.

Na nota da Polícia Civil do Rio que diz: “A região do Jacarezinho é considerada um dos quartéis-generais da facção Comando Vermelho na Zona Norte do Rio de Janeiro”, a presença da metáfora bélica que performatiza  os conflitos armados no Rio num cenário de guerra inflama o senso comum na tentativa de explicar a condução dessas ações.

Desta forma, precisamos nos revisar socialmente e institucionalmente diante dessa conjuntura historicamente pautada em exclusões. É urgente o avançar na construção de práticas que nos levem para longe da criminalização desses lugares e de seus moradores.

Que àqueles que cometem crimes sejam tratados de forma justa e humana com direito a defesa e possibilidades e caminhos de ressocialização que independem da cor de suas peles e de seus ceps, como garante o artigo 5° de nossa constituição que diz que todos somos iguais perante a lei.

Há a necessidade da estruturação de  projetos de segurança pública nos quais as expectativas de êxito não reproduzam a naturalização de homicídios como resultados positivos desses projetos. Para além e principalmente, precisamos construir modelos sociais que oportunem a moradores de favelas e periferias em especial, crianças, adolescentes e jovens o direito a vida em sua plenitude.

Muitas dessas mães das vítimas do Estado do Rio de Janeiro,  que possui altos índices de letalidade policial, tão como de mortes dos próprios agentes de segurança pública, organizam-se e são acolhidas em grupos de mães, movimentos de mulheres e feministas, movimentos sociais e comissões de Direitos Humanos, como forma de resistência e possibilidade de ressignificação de suas vidas após a morte de seus filhos.

Enquanto mulher favelada a luta e a dor dessas mulheres me atravessa, me forja e me inspira e é por isso que a matéria de dia das mãe desta coluna, é um grito de dor por e com essas mães. Suas trajetórias não podem ser silenciadas ou invisibilizadas. E não serão.

Gritamos e gritaremos juntas por uma sociedade mais igualitária que objetive a preservação da vida, sobre todo o restante. Hoje somos as mães do Jacarezinho, do Alemão , da Maré, da Baixada, de todo o Rio de Janeiro e de tantos lugares marcados pela violência Brasil a fora.

Abaixo cito com enorme respeito e afeto, os nomes de algumas dessas mães representando todas as outras:

Ana Lucia Silva Moreira mãe da Emilly

Renata mãe da Rebeca

Lídia avó de Emilly e Rebeca

Rafaela Matos mãe do João Pedro

Mônica Cunha mãe do Rafael

Vanessa Sales mãe de Ágatha Vitória 

Ana Paula Oliveira mãe do Johnatha

Bruna da Silva máe do Marcus Vinícius

Joseane Martins de lima mãe do Daniel

Maria mãe de Pedro e de João

Terezinha Maria de Jesus mãe do Eduardo

Aparecida de Fátima da Silva (em memória), mãe de de Fagner Ricardo

Jaciara mãe de David

Cirlene Amaral Freitas

Luciene Silva

Ana Paula Ambrósio

Renata Rodrigues dos Santos

Eliete de Jesus Rodrigues

Elisabete Oliveira

Ilsimar de Jesus

Maria Rubia Brito da Silva

“(…)Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá
Olha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri(…)”

O meu guri- Chico Buarque

Mar de gente no ato no Jacarezinho dia 7

Devemos ressaltar que está em vigor a (ADPF) 635, de relatoria do ministro Edson Fachin desde agosto do ano passado, quando o Plenário do STF referendou liminar de Fachin para determinar que as operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro, enquanto durar a pandemia de Covid-19, devem ser restritas aos casos excepcionais e informadas e acompanhadas pelo Ministério Público estadual (MP-RJ).

Imagens do meu acervo pessoa (Daniela Lopes) do ato no Jacarezinho na última sexta-feira, dia 7

Título: O meu guri- Chico Buarque

Foto de Capa: Acervo Fórum Grita Baixada

NOTA

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