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Maternidade na quarentena: o mito da dupla jornada

Muito se fala sobre a dupla jornada da mulher: as que ainda não são mães, mas trabalham, estudam e cuidam da casa. As que se casaram, e de brinde precisam cuidar sozinhas do lar e do marido. E, ainda, aquelas que, num ato de coragem, dividem-se entre o trabalho, a maternidade e o lar.

De maneira pessoal, sempre fui muito elogiada por equilibrar estudos, emprego, tarefas domésticas e a criação do meu filho. Por vezes, me sentia como uma heroína. Gigante e capaz. Até que, de repente, a glória dá lugar ao cansaço e à solidão da maternidade. A culpa por me dedicar ao jornalismo, e o julgamento por tentar manter uma vida social ativa.

Em um cenário tão complexo e cheio de dores e prazeres – pois o amor materno é isso: padecer no paraíso -, hoje me vejo em um desafio jamais esperado. Nem mesmo quando descobri que o Rodrigo habitava meu ventre, ainda na inocência dos meus 14 anos, imaginei que algo poderia ser tão difícil quanto tem sido enfrentar uma quarentena sendo MÃE.

Com o intuito de trazer à tona rotinas tão caóticas quanto a minha, onde a rotina deu lugar ao desgaste e à ainda mais culpa e medo, conversei com duas parceiras de jornada.

Larissa Mendes da Silva tem 28 anos e é mãe do Augusto, de 06

“Dar conta de trabalho, da casa, do filho e das tarefas online tem sido bem difícil, o tempo é muito apertado”

Larissa é auxiliar administrativo e ficou desempregada no início da quarentena. Com a ajuda da mãe, que é aposentada e cuida de Augusto, ela pôde se inserir novamente no mercado de trabalho. Mas os desafios continuam.

Larissa Mendes e o filho Augusto. Reprodução/Arquivo pessoal

As aulas online são uma maratona à parte, e uma novidade nada agradável para as mães que, quase sempre, são as responsáveis por ajudar os pequenos. “Meu filho depende totalmente de mim para fazer as atividades. Ele tem 06 anos e está começando a alfabetização, por isso não tem autonomia para fazer nada sozinho ainda”, explicou.

Questionada sobre autocuidado e momentos só para si mesma, Larissa foi enfática: “Esses momentos não existem”.

“O tempo é realmente muito apertado para dar conta de tudo, autocuidado e um tempo pra mim tem sido quando dá. Ser mãe é um desafio, a pandemia só escancarou e intensificou essa carga materna. Foram mães abrindo mão do emprego por precisar cuidar dos filhos, ou dando conta da casa, do filho e do home office. É impossível dar conta de tudo, então os tempos de pandemia nos fizeram priorizar o essencial”, destacou.

O que é “o essencial”? Esse questionamento me ronda todos os dias. A gratidão por ter um lar, comida na mesa e saúde (muita gratidão pela saúde). Mas, ainda assim, todos os privilégios não anulam o desgaste emocional e cobranças que nos tiram o sono. Nossos lares tornaram-se prisões, e o acúmulo de preocupações é uma avalanche. O vírus, a educação das nossas crianças, o medo do desemprego.

Telina Rodrigues, de 42 anos, mãe da Nina, de 1 ano, compartilha o sentimento de desordem e adequação do home office e a maternidade

“A gente tenta criar uma rotina, mas logo temos que parar para fazer o almoço ou trocar fraldas. Acontece algo e a criança precisa de atenção, afinal eles não entendem que você está em horário de trabalho”.

Telina Rodrigues com o filhos. Reprodução/Arquivo pesoal

Telina encontrou alternativas para “se cuidar” e olhar para si com mais carinho durante os meses de isolamento e trabalhado multiplicado. “Nesse começo de ano que eu cortei o cabelo, para ser mais prático para mim no dia a dia, pois fiquei totalmente abandonada de cuidados. Fazer as unhas é luxo, e a gente fica realmente esquecida. Precisei me policiar para não deixar de olhar para mim mesma, fazer nem que seja um skin-care, qualquer coisa… É difícil pois parece que não tenho tempo para mim mesma. Agora, depois de um ano, sinto que começo a retomar esses cuidados”, desabafou.

Ser mãe é um desafio, mas a quarentena trouxe à tona as multitarefas que são depositadas inteiramente nas mulheres, principalmente naquelas que carregam as dores e delícias da maternidade. Ficar em casa também dá trabalho, e a pergunta que não quer calar é: Quem cuida daquela que cuida de todos?

*Edição final de Jéssica Almeida 

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