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Lançamento do Livro “Conhecendo os Orixás – De Exú a Oxalá”

Foi lançado, dia 8/12, pela Editora Arole Cultural, na livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista (SP), mais uma obra sobre os Orixás, com foco nas crianças. Um belíssimo livro ilustrado pelo competente Caco Bresanne e escrito pela talentosa Waldete Tristão. O livro pode ser encontrado na Amazon, Americanas e Martins Fontes.

Falamos com os autores do livro, Caco e Waldete.

JE – Vocês são de alguma religião de matriz africana?

Caco Bresanne – Eu não sou iniciado. Tenho a consciência da responsabilidade que se impõe à produção deste livro. Para além de ser um livro infantil, estamos lidando com o sagrado, com um universo religioso que carrega em si a herança de conhecimentos e tradições milenares. Estamos lidando também com a herança e a memória de uma cultura resistente à muita repressão, silenciamento e violência durante toda a história deste país, tendo a prática do Candomblé, inclusive, sido proibida e, ainda hoje, é alvo de preconceito, intolerância e violência. A responsabilidade, portanto, é enorme. No processo de criação das ilustrações houve uma grande preocupação em aprofundar a pesquisa de referências iconográficas – dos artistas e fotógrafos que já representaram o universo dos Orixás – mas também, em submeter cada uma das artes à uma leitura crítica, tanto por parte da Waldete Tristão, que é iniciada, Ekedji de Oxóssi, pelo Diego de Oxóssi que é o nosso editor, da Editora Arolê, e pelo Babalorixá Rodney de Oxóssi, todos eles do Ilê Oba Ketu Axé Omi Nlá. Por isso mesmo, considero o resultado das ilustrações e projeto gráfico deste livro como um trabalho coletivo, somente possível, porque houveram muitas pessoas contribuindo, indicando caminhos, corrigindo outros caminhos, até chegarmos ao livro final.

Waldete Tristão – No candomblé costumamos dizer que somos Omo Orixá e, sim, sou iniciada. Sou Ekedji de Oxóssi: “raspada, adoxada e catulada” por meu babalorixá Rodney de Oxóssi, no Ilê Oba Ketu Axé Omi Nlá. Sou filha de Oxoguiã. O guerreiro vitorioso, comedor de inhame, vencedor das mais difíceis batalhas.

JE – Como se deu essa parceria?

Caco Bresanne – A ideia do livro é um projeto antigo da Waldete, mas nossa parceria se deu por pura coincidência, dessas coisas improváveis da vida. A Florence, minha companheira, foi visitar a Bienal do Livro de São Paulo, para prestigiar o lançamento do livro do Pai Rodney lançado também pela Arolê no estande da editora. Lá ela conversou com o Diego, alguém que eu já acompanhava pelas redes sociais, e pediu pra ele assinar um dos livros com dedicatória para mim. Então ele disse que conhecia meu trabalho também e que gostaria de conversar sobre um projeto, entramos em contato na semana seguinte. Quando percebi já estávamos todos dedicados a realizar o livro, foi tudo muito rápido, a Bienal foi em Agosto e em Novembro o livro estava indo para a gráfica. Depois é que fiquei sabendo que na mesma Bienal, um ou dois dias antes, a Waldete também havia visitado o mesmo estande da Arolê onde conversou e apresentou ao Diego a ideia de um livro infantil sobre os Orixás.

Waldete Tristão – Uma conjunção de fatores nos aproximou… 
Tendo em vista a ausência deste conteúdo desde a educação infantil até o ensino superior, o projeto da escrita deste livro existia há muito tempo e o meu sonho era produzi-lo com o meu filho, que infelizmente não está mais entre nós, mas que na infância me deu pistas para concebê-lo: no final do ensino fundamental, aos 14 anos, ele estudava mitologia grega e estabelecia paralelos entre o que aprendia na escola sobre os deuses gregos e o que aprendia em casa sobre os Orixás, deuses da mitologia africana, a partir da literatura que eu lhe oferecia.
Eu precisava de um ilustrador por que o projeto para escrita de um livro sobre os Orixás já existia, motivado tanto pelas minhas experiências profissionais na área da educação quanto pelas minhas experiências como mãe. Por razões inúmeras, o projeto ainda não havia se materializado.
Contudo, foi prestigiando o stand da Arolê, na Bienal deste ano, que o Diego, sabendo da existência do meu projeto para um infantil, motivou-me a retomá-lo. Entendi que deveria aceitar o desafio dessa produção coletiva e estamos juntos: para levar a escrita para quem é da escrita, a ilustração para quem é da ilustração e a escrita e a ilustração para o deleite de todas as pessoas.

JE – Waldete você pensa em ver esta obra nas escolas e projetos sociais?

Waldete Tristão – – Com certeza! Tanto este livro que apresenta os Orixás quanto os outros que vão compor a coleção. Trata-se de aproximar do ambiente educacional e da sociedade, como um todo, um conteúdo oriundo da história e cultura dos povos africanos trazidos escravizados no navio negreiro e que pertence a todos os brasileiros e brasileiras.

JE – De que forma “Conhecendo os Orixás – De Exú a Oxalá” pode contribuir para o respeito a liberdade religiosa? 

Waldete Tristão – A existência de uma coleção que apresenta os Orixás e traz seus itans, suas histórias como experiências importantes para refletir as relações das pessoas com a natureza e consigo mesmas, por exemplo, será uma intervenção para garantir o reconhecimento de um valor significativo na construção da identidade de muitas brasileiras e brasileiros. Será um enorme avanço e possibilidade de rompimento com os preconceitos sobre aquilo que se ignora ou desconhece.

JE – Quais foram suas referências?

Caco Bresanne – Para a linguagem gráfica deste nosso livro, achei interessante uma solução que mesclasse o digital com o manual, que tivesse um tanto de tecnológico e um tanto de artesanal, mesclando vetores com traço mais gestual. Outra preocupação importante para as ilustrações são os cenários, fundamental para este livro apresentar os Orixás em seus domínios, com a paisagem, os animais e os fenômenos da natureza também como protagonistas, e não apenas os Orixás em um fundo branco. Como referência iconográfica, são muitos os artistas que retrataram os Orixás em seus trabalhos. Admiro muito – e foram importantes fontes de pesquisa – o trabalho da Djanira Motta e Silva, do Pierre Verger e do Carybé. Há oito anos atrás, em 2010, eu já havia desenvolvido uma série sobre os Orixás, justamente em homenagem ao Carybé, como uma releitura do “Painel dos Orixás”, obra que é parte do acervo do Museu Afro de Salvador. De certa maneira, foi a série que me aproximou deste tema e a partir dela é que passei a estudar e compreender mais sobre as religiões de matriz africana.

Nota:

O livro nasce do elo afetivo e de um sonho pessoal e profissional que Waldete desejava realizar com seu filho Róbson Gil. Com a morte do filho, retomar a escrita de um livro sobre os Orixás, agora com a parceria do artista Caco Bressane foi uma forma que a escritora encontrou para resignificar a sua vida. Waldete finaliza dizendo que “enquanto eu viver, meu filho Róbson viverá comigo”. Revela ainda que são os Orixás que lhe colocam no colo e dão força para seguir e realizar este projeto com Caco.

“Se Awo Kiku, Awo Kirun, Nse Awo Mawo Si Itunlá, Itunlá Ile Awo”, ou seja, os iniciados no mistério não morrem, os iniciados no mistério não desaparecem, os iniciados no mistério vão para o Itunlá: a casa do renascimento.

NOTA

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