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Esporte, Sociedade e Representatividade 

Fonte: s.abcnews.com

Por : 
Carla Ferreira de Starmac  

O esporte sempre refletiu, como qualquer expressão humana, valores,  comportamentos e condições sociais de sua época. Sendo assim, em todo  grande evento esportivo, um olhar atento pode perceber, de forma muito  evidente, o que acontece em uma sociedade em vários níveis e escalas. 

Fonte: loucosportecnologias.blogspot.com

As Olimpíadas, desde a Grécia antiga, sempre marcaram nações em guerra,  onde uma paz momentânea era figurada, para que grandes potências  confirmassem sua hegemonia para além das armas. Esse fato teria, então, um  valor comprovatório de seu poder e força. Muita coisa mudou nas reedições  modernas dos jogos a partir de Coubertin. Será? Eu questiono o leitor, e  respondo prontamente, nesse aspecto não mudou. Continuamos a buscar  comprovação e domínio entre nós. Colocamos em risco nosso planeta e nossa  continuidade como espécie nos eliminando mutuamente numa dinâmica  capitalista que destrói até os mais firmes ideais. 

Mas a sociedade, enquanto humanidade, evoluiu. Grandes conquistas  tecnológicas, grandes descobertas científicas, grandes questionamentos  surgiram na modernidade e nos levaram a reflexões e ações transformadoras. E  aqui citarei aquelas que, no meu ponto de vista, dentro do esporte, marcaram  momentos apaixonantes: a quebra de paradigmas e a representatividade. 

Quebrar paradigmas é ressignificar atitudes e romper padrões arcaicos de  comportamentos e valores, estabelecendo que a verdade está sempre “em  debate”, sempre em reconstrução, dependendo do contexto histórico e social e,  portanto, em constante transformação. 

A representatividade tem um papel importante na construção da subjetividade,  da identidade e de espaços sociais dignos para grupos considerados à margem  dos direitos políticos e sociais. Busca a redução dessas desigualdades. Vem  romper com a invisibilidade cultural e social estabelecida e representa grande  conquista para fazer valer direitos básicos aos grupos ignorados pelo poder  público. 

Marcas históricas

Inicio minha caminhada pelas olimpíadas citando alguns momentos que  marcaram de forma evidente e globalizada esses aspectos e que deixaram sua  marca na história dos esportes e do mundo. 

Fonte: rededoesporte.gov.br

Apesar das edições modernas das Olimpíadas terem o seu início em 1896,  levaram muitos anos para que as mulheres tivessem maior acesso aos jogos  olímpicos. Por várias edições elas representavam singelos 2% do total de  participantes e ainda eram consideradas “convidadas”, além de participarem de  provas, tidas como de beleza estética e que não exigiam contato físico, como, por exemplo, hipismo, golfe e tênis. Integrar os jogos olímpicos não foi simples  para as mulheres, isso devido ao grande conservadorismo da sociedade, que sempre desconsiderou a potência feminina.

Foram longos anos de luta até 2012,  jogos em Londres (Inglaterra), quando as mulheres, pela primeira vez, competiram em todas as modalidades esportivas. Isso após 27 edições  modernas das olimpíadas. Hoje, em 2021, elas somam metade dos participantes  nos jogos. O Brasil, por exemplo, teve, em 1932, a sua primeira atleta a participar  de uma olimpíada, a nadadora Maria Lenk (Los Angeles/EUA), e só esteve em  um pódio feminino, em 1996 (Atlanta /EUA), no vôlei de praia, com Sandra Pires  e Jaqueline Silva, que conquistaram a medalha de ouro, e Adriana Samuel e  Mônica Rodrigues, a medalha de prata. 

 

Fonte: olimpiadatododia.com.br

Em 1936, vésperas da Segunda Guerra Mundial, as Olimpíadas aconteceram  em Berlim (Alemanha), mesmo que o mundo inteiro denunciasse o que ocorria naquele momento. Hitler tinha como ideia original para os jogos, além da habitual  demonstração do seu poder bélico, uma teoria racista a ser comprovada, a da  supremacia da raça ariana. Foi quando surgiu o fantástico Jesse Owens, atleta  negro, oriundo dos Estados Unidos, um país marcado pela segregação racial,  que ganhou quatro medalhas de ouro e mostrou ao mundo o quanto absurdas  eram tais teorias. Infelizmente, seu feito não mudou os acontecimentos que se  seguiram, mas, até hoje, suas conquistas olímpicas lhe renderam o carinhoso  título de “herói indiscutível” da XI Olimpíada e mudaram os caminhos dos atletas  negros que surgiriam a partir dessa data. 

Diversidade e Representatividade

Outros exemplos de como os jogos olímpicos trouxeram à tona questões  importantes para refletirmos enquanto sociedade: questões de gênero (atletas intersexo), os atentados terroristas, a guerra fria, entre outros. 

E, enquanto as edições modernas dos jogos olímpicos seguiam se aprimorando,  após a segunda grande guerra, com a volta de milhares de soldados amputados,  na Inglaterra, um médico neurologista chamado Ludwig Guttmann idealizou uma  competição esportiva entre os pacientes do Centro Nacional de Lesionados  Medulares, na cidade de Stoke Mandeville. Ele decidiu usar o esporte para  auxiliar a recuperar seus pacientes e, em 1948, realizou os primeiros jogos  esportivos para deficientes físicos. Foi o primeiro passo para o surgimento das  Paralimpíadas. Uma década depois os jogos paralímpicos foram realizados em  Roma, mesma cidade sede das olimpíadas e abertos a todos os deficientes.  Seguiram-se mudanças significativas, como a participação dos deficientes  visuais e a criação do Comitê Paralímpico Internacional (IPC). O Brasil participou  pela primeira vez em 1972, em Heildeberg (Alemanha), e representa uma  potência em medalhas. 

fonte: ateondedeuprairdebicicleta.com.br

Os Jogos Paralímpicos são um exemplo e uma celebração à inclusão universal  e à superação de milhares de pessoas no mundo que vencem batalhas  cotidianas de vida. Pela sua magnitude, serve de fomento à criação de uma  cultura de acessibilidade, respeito à diversidade, criação de novas modalidades  esportivas (como o goalball, por exemplo) e avanço nas tecnologias assistivas.  Seu lema reflete isso: “Espírito em Movimento”. Bem como os seus valores:  Inspiração, Coragem, Igualdade e Determinação.

Com certeza, olhando todas estas conquistas, podemos ser otimistas em relação  à nossa caminhada pela equidade, justiça social e humanidade (no melhor  sentido da palavra, o da solidariedade). Contudo, esse otimismo segue com a  responsabilidade de continuarmos nos transformando, nos aprimorando, sem  medo de conversarmos sobre assuntos que ainda precisam avançar. 

O corpo humano é capaz de muitas coisas; o seu movimento é e sempre será  arrebatador, principalmente quando falamos em atingir o inatingível. E, quando  um atleta nos mostra o quanto ainda é possível, ampliamos nossas crenças  acerca do nosso potencial. Sim, o esporte pode aumentar nossas esperanças no  mundo e representatividade IMPORTA, MUITO. 

 

SOBRE A AUTORA : 

Carla Ferreira de Starmac  

Formada em Educação Física e Fisioterapia pelo Instituto Porto Alegre da Igreja  Metodista (IPA). 

Pós-graduada em Psicologia do Exercício Físico e do Esporte, PUCRS. Pós-graduada em Ciências do Esporte, PUCRS. 

Pós graduada em Educação Especial, com ênfase em deficiência intelectual,  física e psicomotora, Faculdade de Educação São Luis. 

Atua na EMEEF Prof. Francisco Lucena Borges, POA/RS.

 

REFERÊNCIAS  

COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO. Disponível em: https://www.cob.org.br/pt/.  Acesso em: 26 jul. 2021. 

COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO. Disponível em: https://www.cpb.org.br/.  Acesso em: 26 jul. 2021. 

ENCICLOPÉDIA DO HOLOCAUSTO. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/victims-of-the-nazi-era nazi-racial-ideology. Acesso em: 26 jul. 2021. 

PONTEL, Evandro. Paradigma: um diálogo entre Thomas Kuhn e Michel  Foucault na perspectiva de Giorgio Agamben. Revista Profanações, a. 1, n.1,  p. 75-88, jan./jun. 2014. 

SILVA, Peterson Roberto da. A contribuição de Luis Felipe Miguel ao  debate sobre o conceito de representação. Disponível em:  https://doi.org/10.5007/1980-3532.2017n17p107. Acesso em: 26 jul. 2021.

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