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ENTREVISTA: Renata Freire, da websérie “Mulheres em Série”

No próximo final de semana teremos em São Paulo a Virada Cultural.  Se tivéssemos numa diversidade de linguagem, o espaço para as webséries seria uma janela de oportunidade para a sua difusão. Nesta semana tive a satisfação de conhecer na prática um destes projetos 100% brasileiro, no formato de produção alternativa e de autogestão (na verdade a autogestão veio para o grupo pela falta de apoio financeiro, e o projeto se mantém com recursos próprios de sua equipe).

É bem interessante observar o tema na literatura acadêmica e encontrar a prática tão próxima de nós. Toda uma articulação para conseguir um espaço para ter voz, se fazer ouvir e se relacionar com o entorno e a conjuntura do país.

O projeto que conheci tem um título que por si só nos lança num mar da curiosidade: Mulheres em Série. Conheci através da Renata Freire, produtora a mais de 15 anos, produziu Cantos Gerais um documentário para o Canal Brasil, Angel Laerte e o último sobre Millor Fernandes. A produtora estudou documentário na Escuela de Cinema em Los Baños, Cuba.

A produção mais marcante de sua carreira é a do documentário sobre as Valas Comuns no período da ditadura. Renata Freire colabora com o projeto como roteirista e é ainda diretora da segunda temporada de Mulheres em Série que conta com uma equipe de 47 pessoas, incluindo seus filhos Carmen e Mateus (que atuam e auxiliam na maquiagem e nos efeitos especiais das cenas).

Mulheres em Série é mais uma rica experiência brasileira que prova que é possível realizar quando se deseja e ao mesmo tempo envolve pessoas talentosas, comprometidas e engajadas num objetivo comum e de ganho coletivo.

Compartilho aqui com vocês a entrevista que realizei com a Renata Freire. Convido vocês também para visitarem e prestigiarem os episódios de Mulheres em Série.

JE: Porque fazer uma webserie e com tantas protagonistas?

Renata Freire – No início do projeto (que se iniciou com quatro mulheres), tínhamos muita vontade de contar histórias, e tendíamos para o formato de documentário. Inscrevemos um argumento para o edital do Canal Futura e não fomos contempladas, era uma temática muito forte, mas, com várias negativas em outros editais resolvemos nos unir: equipe técnica e atores, e fazer sem grana mesmo, nenhum patrocínio.

A primeira temporada com seis episódios delimitava o quanto iriamos explorar a narrativa sem saga do herói e com cinco núcleos distintos.

Com a segunda temporada ainda sem grana e sem nenhum apoio financeiro, fizemos doze episódios e um especial de Natal. Amadurecemos a fotografia e levantamos possibilidades de mais personagens, sem drama, mas com aparições pontuais para reafirmar a invisibilidade na sociedade.

Nossas personagens são referências de relatos, junções de histórias, são mulheres comuns, com suas dores e felicidades. A quantidade de personagens reflete as possibilidades de histórias contadas sem a redenção do herói, com personagens que oscilam entre ter atitudes boas e atitudes que podemos questionar.

Não temos só uma equipe engajada com 47 atores, temos pessoas maravilhosas que contam histórias doidas, desconfortáveis para abrir uma discussão. Mulheres em Série, não aponta uma saída, ela aprimora o olhar para situações que simplesmente transformamos invisível.

JE: Qual o principal acerto e qual erro de uma webserie?

Renata Freire – Está pergunta reflete muito que precisamos falar, e que muitos diretores evitam. Acertamos na fotografia da segunda temporada, acertamos nos núcleos, alto astral. Fabi Estrela e República Trans que também vieram na segunda temporada.

Acertamos na edição com cortes para o formato webserie. Nossos erros recorrentes ficaram no áudio. Com equipe técnica reduzida o áudio ainda é nosso calcanhar de Aquiles.

Não ter uma equipe completa é muito reflexo de falta de apoio financeiro. O comprometimento para fazer acontecer esta webserie vai além dos nosso limites, e por isso vamos evoluindo a cada temporada. E nesta terceira temporada teremos uma captação de áudio condizente com o amor que temos por este projeto.

JE: Aproveitando a sua resposta sobre patrocínio e financiamento, porque está webserie não conseguiu nenhum? Vocês já tentaram leis de incentivo a cultura – Lei Rouanet?

Renata Freire – Nosso projeto já se inscreveu em mais de 15 editais nestes quatro anos, completamos requisitos documentais, porém nunca passamos para etapa de financiamento.

Acredito que temos que rever os critérios, porque muitas produções conseguem apoio em vários editais, as mesmas produções em vários anos seguidos em editais diferentes.  Também acredito que seja desconfortável ter uma webserie que avança a discussão e coloca uma mulher Trans fazendo papel de CIS (Cisgênero – significa do mesmo lado.

A pessoa CIS é aquela reivindica ter o gênero que o que lhe registraram quando ela nasceu, e ajudando na contrição de roteiro. Nossas histórias podem chocar e reconhecer personagens invisíveis é uma ousadia muito grande para estes editais.

JE: Como é realizada a webserie, ela presa por caráter inclusivo? Como está inclusão se manifesta?

Renata Freire – Esta é nossa premissa básica, dar lugar de fala a quem tem direito, a equipe de roteiro da terceira temporada, porque não desistimos e resistimos. Nós estamos pensando na próxima temporada, é formada por Mulheres, negra e trans. A produção também feita por Mulheres, a fotografia por um homem genial que deu o tom certo para Série, e 47 atrizes e atores comprometidos, engajados e prontos para contarem histórias que muitas vezes deixamos de dar atenção!

JE: Qual a expectativa de futuro para Mulheres em Série? E como são construídos os roteiros?

Renata Freire – Estamos construindo o roteiro para terceira temporada, inscrevendo o projeto em editaiscomo o PROAC e festivais internacionais de webserie. Faremos exibições em algumas ONGs e tentaremos abrir debates com exibições em alguns CEUs. A ideia é ir a localidades que a webserie não alcançou com o YouTube. Estamos focados em melhorias para que a série fique potente assim pulverizando a discussão.

JE:  Qual o meio de acesso para acompanhar e assistir o resultado do trabalho de vocês?

Renata Freire – Os meios disponíveis são o facebook e o youtube. O endereço do facebook é https://www.facebook.com/mulheresSerie/ e no youtube (já temos vários episódios eu aproveito aqui para destacar três – pela intensidade das histórias e da qualidade da fotografia):https://m.youtube.com/watch?v=VVQU3gOZiPE / https://m.youtube.com/watch?v=up9XZdWwOy8 /
https://m.youtube.com/watch?v=ACvEeIyGftc

Renata Freire muito obrigada por nos apresentar o seu trabalho e compartilhar conosco a práxis de uma Webserie. E  que Mulheres em Série que além de provocar reflexões, possa inspirar mais grupos para fazerem uso da web e se expressarem e se instrumentalizarem para lançar questões e arte brasileira para o mundo. Sucesso e paz!

 

NOTA

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