A sociedade brasileira mesmo sendo composta de mais de 50% de pessoas negras (cerca de 100 milhões de pessoas) tem na sua história e trajetória o racismo enraizado, problema público nascido da crueldade da escravidão de seres humanos ocorrida no país.
Milhões de homens, mulheres e crianças, muitos descendentes da nobreza e da realeza em seus países, foram sequestrados e arrancados de suas nações e despejados em milhares de navios negreiros e trazido para a terra desconhecida sem a menor condição de retorno para as suas famílias.
O sequestro e a escravização das pessoas negras devastaram países e tribos inteiras no continente africano, pois, estes lugares tiveram arrancadas as suas principais lideranças (reis, rainhas, guerreiros, guerreiras) e com a ausência deste(a)s comandantes, desestabilizou-se todo um continente no âmbito social, econômico e político, e as consequências podem ser vistas nestes territórios até hoje.
No Brasil o período de escravidão ultrapassou quatro séculos (400 anos) e foi assim, que a riqueza deste nosso país foi construída, como o escravismo, organização econômica tão lucrativa, que mesmo diante de tantas lutas contra a escravidão, principalmente as lideradas por negros e negras fugitivo(a)s das senzalas e as inúmeras formações de quilombos que se multiplicavam pelo país, o Brasil foi um dos últimos a promulgar a lei da abolição.
E mesmo diante das experiências internacionais anteriores na forma da condução das formulações das leis abolicionistas, o Brasil cruelmente fechou os olhos e também reproduziu os mesmos erros e as omissões de outros países, inibindo as possibilidades de alguma reparação aos escravizados, condenando este povo a miséria e a invisibilidade na sociedade brasileira. Assim, mesmo depois de terem construído a riqueza nacional desta terra com suas vidas e com o seu sangue e aqui as pessoas negras escravizadas também foram jogadas fora.
O Brasil em pleno século XXI, ainda se apresenta arrastando as correntes fruto destes erros e omissões, marcas que podem ser vistas através da imensa desigualdade de oportunidades que ainda condena milhões de pessoas negras a terem suas vidas pautadas e estabelecidas não por sua capacidade, mas, pelos diferentes níveis de preconceito e intolerância que o racismo for capaz de lhe apresentar em seu viver, pois, ter a pele de cor negra neste país, faz com que a sociedade ainda funcione e se apresente diferente entre negros e não negro em diversos aspectos.
Aspectos visivelmente comprovados por especialistas através de pesquisas e levantamentos de dados, demonstrando que o povo negro enfrenta as piores condições de trabalho e renda, que encontram-se na piores oportunidades de acesso a moradia, à saúde, a educação de qualidade, a justiça, aos espaços políticos de poder, e tudo o mais, que fizer parte da estruturação desta nossa sociedade.
A pessoa negra sempre tem que lutar múltiplas vezes mais que pessoas não negras para alcançar algo minimamente digno na sua vida.
A raiz das lutas das pessoas negras estão fincadas há séculos neste chão e se manterá firme, pois, desde quando convenientemente foi inventado a teoria do conceito de raças, dando a superioridade de pessoas brancas contra o nosso povo negro, lutamos para cessar as situações de humilhação que desde então são reproduzidas, em qualquer espaço de tempo ou lugar, em qualquer espaço público ou privado, promovendo traumas e exclusões na sociedade.
O Dia da Consciência Negra é também fruto desta raiz e sobretudo, é uma rica oportunidade de se expandir, por conta das discussões e dos atos públicos, a percepção da importância e da grandiosidade da história e da cultura da população negra, serve para se revisar o valor da contribuição desta população na construção do Brasil.
Oportunidade de expor em vias públicas de todo o país, as lutas, os desafios e as violências que são cotidianamente impostas milhares de homens, mulheres e crianças, mesmo após 131 anos de abolição da escravatura.
No Brasil ainda temos nossas vidas e sonhos marcados pelas delimitações impostas por uma sociedade preconceituosa, intolerante, descriminalizadora e racista.
A celebração do Dia da Consciência Negra aos 20 de novembro de cada ano, ocorre nesta data que tem como marco o registro da morte de Zumbi dos Palmares, homem negro que ao lado de Dandara lideraram o resgate e a fuga e inúmeros grupos de pessoas negras para se refugiarem em quilombos e se protegerem das torturas sofridas nas Senzalas.
Manter está data no calendário dos feriados oficiais das cidades é uma forma significativa de se manter viva a memória destes e dos demais guerreiros e guerreiras, heróis e heroínas que se posicionaram no passado contra a escravização, e que, até hoje inspiram a nós pessoas negras em todo o Brasil, pois, as suas histórias nos encoraja para também nos posicionarmos, em não aceitarmos menos do que a igualdade de direitos e a igualdade de oportunidades neste país.
Ainda que se tente nos ensinar o contrário sobre a nossa história, a força da superação da senzala nos acompanha em nosso sangue, em nossas almas. Afinal a verdade é que a resistência do povo negro fundou luta pela liberdade no Brasil, pois, foi das senzalas que se ecoou em toda esta terra a voz da coragem de enfrentamento a dor e a humilhação que foi imposta pela escravidão.
Que a história de nossos antepassados se mantenha nos inspirando, nos fortalecendo e nos empoderando, fazendo com cada um(a) de nós tenhamos também a coragem de irmos para as ruas no 20 de novembro deste ano na realização da Marcha da Consciência Negra, um ato nacional para apresentarmos a esta sociedade a nossa unidade, toda a nossa garra, a nossa beleza e a nossa vitalidade.
Oportunidade também podemos gritar a deficiências de políticas públicas e para denunciar as violências e dores que ainda nos são impostas, fatos que diariamente nos ameaçam e arrancam as nossas vidas.
Ainda que saibamos que a escolha nos momentos das eleições é o grande ato necessário para provocarmos realmente as mudanças antirracistas que queremos em todos os setores da sociedade e que devemos tratar com respeito e atenção especial as eleições, o racismo é um veneno que assola o nossas vidas e deve ter respostas também nas ruas, assim, por isto, no dia 20 de novembro compareça a Marcha da Consciência Negra de sua cidade, a firmeza de cada um(a) de nós nesta caminhada em união, reata sonhos antigos com a conquista de liberdade, afinal ter liberdade é poder escolher como, onde e com quem viver.
Viva Zumbi, viva Dandara!
Link dos eventos de novembro: Agenda #NovembroNegroSP
Curta nossa Página: XVI Marcha da Consciência Negra São Paulo.
8/11 A Rua e Quilombar: Cinedebate : Doc Baseado no Brasil
10/11-Emanas e União de Mulheres: Feminismo Negro
11/11- Festival Sheila Alice
12/11- Diversidade Religiosa nas Escolas
12/11-Raízes de uma Luta Doença Falciforme e HIV AIDS
16/11 Quilombar e A Rua _ Ep. Até quando.
17/11-Marcha da Consciência Negra Zona Leste
23/11-Batalha do Quilombar
23/11- I Marcha da Consciência Negra Francisco Morato.
30/11- Festival Vamos a Vivência _ Consciência Negra.
Valéria Silvestre
Especialista em Gestão de Políticas Públicas – USP/EACH
Consultora e Capacitadora da SER SILVESTRE Socioambiental
12 respostas
O artigo e de fato uma aula de toda a evolucao historica de milhoes de brasileiros que receberam a heranca sanguinea do nobre povo africano. Apesar da imensa divida do nosso Pais a esta energia africana igualmente herdamos a cultura e o modo de vida saudavel, de muita danca e alegria. Quando existe o devido respeito dos iguais em cidadania. E em dia especial de reflexao e de comemoracoes de nossas energias africanas..
Obrigado, JOSE RAMOS DE CARVALHO. Volte sempre!
Obrigada Ramos pela visita em nossa página, recebê-lo aqui é uma honra.
O racismo e a discriminação são também eixos componentes da destruição ambiental deste país, você como ativista socioambiental e um cidadão de também de lutas históricas conhece bem as atrocidades que os povos tradicionais estão expostos e vulneráveis no Brasil.
Forte abraço.
Excelente artigo da poderosa Valéria Silvestre grande lutadora das questoes socio-ambientais e agora destaque da causa negra, da qual faz excelente recapitulação da História e das origens da desigualdade racial!! Em frente Valéria..
Obrigado, Mauro Leonel. Volte sempre!
Inesquecível professor Dr. Mauro Leonel, o primeiro docente a me recepcionar na USP, obrigada pela visita em nossa página e posso que lhe que aprendi muito com você (a me expressar pela escrita). Muito obrigada, de coração.
Ser seu tio, me faz suspeito em elogiar seu trabalho e seu empenho nesta luta, sinto-me imensamente orgulhoso pelo quão longe e elevado está levando o sobrenome Silvestre. O seu engajamento nesta luta racial em defesa de um povo já há muito ultrajados e delapidados dos seus valores morais e sociais, faz de você uma mulher guerreira, que com certeza atingirá seus objetivos. Parabens. Valéria Silvestre. Me orgulho em ser seu tio.
Obrigado, Cicero Silvestre. Volte sempre!
Ser seu tio, me faz suspeito em elogiar seu trabalho e seu empenho nesta luta, sinto-me imensamente orgulhoso pelo quão longe e elevado está levando o sobrenome Silvestre. O seu engajamento nesta luta racial em defesa de um povo já há muito ultrajados e delapidados dos seus valores morais e sociais, faz de você uma mulher guerreira, que com certeza atingirá seus objetivos. Parabens. Valéria Silvestre. Me orgulho muito de você.
Obrigado, Cicero Silvestre. Volte mais vezes!
Obrigada Tio Cícero por ter visitado nossa página, muitos foram convidado(a)s, mas somente de ti (família consanguinea) que me fez este carinho e me trouxe palavras tão motivadoras. Sou especialmente grata, de coração obrigada.
queremos montar um sarau em homenagem a Marielle, só que a escola não tem verba para o evento e o grêmionao tem caixa ,tivemos uma reunião com um núcleo gestor ele deixou a gente fazer mais deixou bem claro que estava sem verba para o evento, e precisamos de dinheiro para os matérias gráficos e matérias para decoração …. divulga pfv e se possível ajuda!!
http://vaka.me/860826