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COMO A AUTO COBRANÇA AFETA A SAÚDE MENTAL DE CRIADORAS DE CONTEÚDOS PARA A INTERNET

Por: Nycolle de Moraes. 

Reprodução: Instagram (@cottonbro).

As redes sociais têm se tornado um grande alvo de jovens e adultos que buscam ressignificar o mercado de trabalho, construindo diariamente uma nova realidade para este cenário. Sendo possível conquistar milhares de seguidores nas plataformas digitais visando o compartilhamento de dicas, receitas, tutoriais, entre outras vertentes, o brasileiro consegue gerar entretenimento e repassar grandes aprendizados através das redes sociais. Contudo, esse preço pode ser um pouco alto quando se trata da autocobrança e da saúde mental desses criadores.   

Segundo profissionais do marketing digital, para que um pequeno influenciador consiga conquistar um número significativo de seguidores e gerar resultados, ou seja, a monetização através desses números, é necessário a constância na criação de conteúdos de valores. Para isso, ser criativo, criar laços com aqueles que acompanham a fim de aumentar a frequência e o interesse dos espectadores e humanizar cada vez mais o seu perfil, é fundamental. 

Carioca e comunicativa, a jornalista e pedagoga Emanuelle Lessa, de 23 anos, começou a criar conteúdos digitais em 2019, quando estava terminando o seu curso de comunicação social. Através do medo e da indecisão que o futuro pós faculdade lhe aguardava, a jovem achou no instagram uma maneira de investimento. Seu nicho principal eram os “achadinhos” e os “challenges“, que estavam começando a ganhar forma ainda naquele tempo. Quando a comunicadora viu que perfis pequenos começaram a se destacar como influenciadores nesse ramo, o desejo em si também floresceu e, foi aí, que decidiu unir suas paixões como a maquiagem, dicas de produtos confiáveis e a comunicação em seu perfil.

Diante disso, Lessa começou a se dedicar cada vez mais na criação de seus conteúdos, organizando as publicações, mantendo-se cada vez mais ativa e cumprindo todo o seu calendário de posts. Não deixando nenhum de seus seguidores na mão, o instagram tinha se tornado a sua ferramenta de trabalho. A jovem conseguiu fechar parceria com lojas locais e empresas com grandes nomes, como o Banco Santander e a Cif (marca de produtos de limpeza). 

Conforme o desejo de alcançar cada vez mais pessoas ia crescendo, Manu teve que bater de frente com outras questões: a cobrança pelo conteúdo perfeito, a entrega para um número maior de audiência, publicações de destaque e muitos outros pontos que colocaram todo o seu trabalho em jogo, o que acabou resultando na desistência de seguir como influenciadora. 

Reprodução: Instagram @_manulessa

“Eu tinha uma expectativa em cima do ‘resultado’ e de repente o conteúdo era flopado. Eu me cobrava, mudava de nicho, ia tentando, tentando e nunca tinha o que eu esperar ou pior, via pessoas ‘vazias de conteúdo’ crescendo cada vez mais. Investia em cursos, estudava, pesquisava e não crescia como eu esperava. Foi aí que minha ansiedade começou a aumentar e o que era prazeroso começou a se tornar totalmente desgastante”, contou a jornalista. 

Lessa também consta que o seu grande erro foi a cobrança intensa que fazia consigo diariamente, além das constantes comparações com outros criadores da plataforma. Foi aí que percebeu que aquele tipo de trabalho e o novo cenário que a plataforma estava construindo não lhe agradava mais. A jovem ainda pontua que o mercado de influenciadores começou a ficar saturado quando a plataforma Instagram começou a entregar “conteúdos vazios”, deixando. 

“Eu via influencers, bombarem com vídeos bobos (alguns até de desserviço à sociedade), e eu estava ‘me matando’, dando a vida por algo que eu não tinha o retorno esperado e ao invés de me fazer bem, acabava me fazendo mal”, contou a jornalista. “Se eu fosse dar um recado para a eu de três anos atrás, eu com certeza diria para eu não focar em números, fama, ou qualquer outra coisa que o meio digital poderia me proporcionar. Eu faria por amor e vontade de criar a minha comunidade com meus seguidores.”

Mesmo afastada e sem pretensão de voltar a criar conteúdos de forma regular, Emanuelle diz que sente falta de todo o processo de criação, edição, interação e até mesmo das parcerias que conquistou ao longo dos anos de trabalho. “Você acaba se tornando uma autoridade, sabe? Até hoje algumas pessoas mandam direct pedindo dicas de algo, indicação (…) eu respondo com o maior carinho do mundo”, relatou. 

De acordo com dados divulgados pela Kantar, líder global em dados, insights e consultoria, durante o mês de março de 2020, pico da crise mundial, as redes sociais: Facebook, Instagram e WhatsApp tiveram um crescimento de cerca de 40%. Já uma pesquisa feita pela Squid, empresa especializada em marketing de influência, no período de isolamento social, houve um crescimento positivo de 24% na taxa de engajamento e 27% no alcance efetivo da ferramenta de ‘Stories’ do Instagram, comparado ao mesmo período do ano anterior.

Reprodução: Instagram @vitcarolin

Vitoria Caroline, de 23 anos e professora de matemática, começou a criar conteúdos em 2020 quando se viu diante de algumas crises de pânico e ansiedade. A professora investiu em conteúdos de beleza, postando conteúdos diariamente, como challenges de maquiagens e cuidados com os cabelos cacheados, visto que tinha passado pela transição capilar. Vitória aponta que começar uma carreira nas redes sociais foi uma das maneiras que encontrou de cuidar de sua saúde mental, além das sessões de terapia, criar conteúdos lhe fazia bem e não mexia com a sua ansiedade. Entretanto, não demorou muito para que esse cenário mudasse.  

Diante do seu crescimento, de engajamento, compartilhamento e novas amizades que a vida no instagram lhe apresentou, a cobrança para estar cada vez mais presente para o seu público aumentou. “Percebi que eu deixava de fazer as coisas para poder gravar e ter conteúdos. Foi quando iniciei o último semestre da faculdade e comecei a trabalhar, confesso que me sentia triste e pressionada, pois, muitas pessoas sempre mandavam mensagem perguntando sobre os vídeos e por que eu havia sumido.”, contou. 

Vitória diz que não pretende voltar a criar conteúdos para as plataformas digitais agora, visto que a sua rotina mudou e a autocobrança não faz mais parte de sua vida quando se trata da sua carreira digital.  “O máximo que faço é manter ativo o instagram no qual me ajudou neste tempo difícil e acabou virando a minha conta principal, pois lá eu tenho pessoas que sempre me motivam e reagem às coisas que ainda posto.”, disse. Mesmo com o sentimento de saudade batendo de vez em quando, por outro lado, a professora afirma que se sente muito aliviada por se livrar de tamanha cobrança quando se trata de sua vida na internet.  

Parece só mais um vídeo de um minuto rolando pelo seu feed, mas a missão de postar conteúdos nas redes sociais é muito mais intensa. Desde ideias originais, criação de roteiro, cenário, edição e muitos outros detalhes que,por  muitas vezes, acabam ficando apenas por trás das câmeras, a rotina intensa de criadoras de conteúdo acaba se tornando exaustiva e até mesmo um malefício para a saúde física e mental. Por outro, existem algumas maneiras de tornar todo esse processo em resultados positivos ainda sendo capaz de cuidar de si.  

Reprodução: Instagram @gabyfeerraz

De Marambaia, no Rio de Janeiro, para o mundo, a estudante de jornalismo Gabrielly Ferraz, de 22 anos, sempre teve uma vontade reprimida dentro de si quanto a criação de conteúdos para as redes sociais. Entretanto, a jovem só decidiu dar o pontapé inicial em 2020, no início da pandemia. O que, inicialmente era um hobby, tomou forma com o passar dos meses e a estudante conquistou ao longo do tempo mais de 31 mil seguidores. Acima de tudo, Gabrielly, destaca que o importante é não deixar o compromisso com o seu trabalho na internet se tornar algo pesado ao ponto de afetar sua saúde física e mental.

“Eu sou uma pessoa exigente e, quando se trata de criar conteúdos que eu sei que vão afetar pessoas de alguma forma. Eu me cobro ainda mais e isso sempre prejudica o meu processo criativo, além de fazer com que eu duvide da minha capacidade enquanto criadora. Vira e mexe sinto a necessidade de dar uma pausa para relaxar um pouco e evitar as cobranças, porque senão eu acabo travando completamente”, contou. 

A jovem que aborda sobre pautas raciais, moda, beleza e humor em suas redes sociais, conta que, mesmo diante das cobranças internas, nunca pensou em parar de criar os conteúdos de forma definitiva, visto que saber o momento de dar pausas para relaxar, sabendo separar a vida real da vida virtual é fundamental para sua jornada de trabalho na internet. 

Gabrielly também conta que busca sempre se lembrar do real motivo pelo qual está criando os conteúdos e que esse fato nunca deverá se tornar um grande fardo. “Pode parecer clichê, mas hoje eu tenho certeza que fazer o que ama, acredita e faz sentido pra você é o segredo de não querer desistir porque de certa forma acaba se tornando parte do que você é. Hoje eu chego em certos lugares e percebo que já sou a Gaby que cria conteúdos, a ‘blogueirinha’ e não ‘só’ a Gaby. Então, eu abraço isso. Essa sou eu, faz parte de mim e vai continuar sendo até quando fizer sentido pra mim”, aconselhou Ferraz.

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