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“A cidade nos matava, mas tínhamos que sobreviver”, como a teatro negro carioca sobreviveu a 2019

Nos palcos e plateias dos teatros cariocas, as discussões instigadas em razão do racismo, da vivência nas favelas e subjetividades dos corpos negros, tem um enorme legado. Ícones históricos como o Teatro Experimental Negro, a cia dos Comuns e muitos outros já propunham este debate, e são referência para a nova geração de artistas que ainda hoje reivindicam pautas como as formas de representação do negro e a autonomia no universo artístico.

O cenário em que artistas negros foram expostos nos últimos anos, fizeram de 2019 um ano de resgate e mobilização de criativos negros, na tentativa de assegurar empregabilidade, inserção no mercado cultural, narrativas próprias e um estímulo ao papel educacional das artes. Um exemplo deste movimento é a Confraria do Impossível, fundada pelo diretor e músico, André Lemos.

“A Confraria do Impossível é muitas coisas, é difícil fechar em uma só proposta. Mas hoje, trabalhamos com arte, cultura e educação de forma descolonizada, enquanto uma empresa de arte”, Comenta André. 

FOTO: MARCELO REIS / Confraria dos Impossíveis
 

Mais um dos jovens negros inquietos que veem na arte uma salvação, foi na época de formação da Escola de Teatro Martins Pena, que André Lemos, encontrou seu destino, dar vida a um empreendimento onde artistas negros tivessem autonomia em todos os processos de construção e exibição de suas obras, nascendo então a Confraria do Impossível.

Inicialmente fundada por André, Diego de Abreu e Márcio Fecher, a Confraria  surgiu em 2009, como um coletivo de intervenções teatrais urbanas que visa a transformação, reflexão e conscientização social frente ao genocídio e  mazelas enfrentadas pela população negra no Brasil, mas foi em 2015 que uma parceria com o Reinaldo Jr, rendeu ao projeto, um nível de maior penetração nas ruas das cidades cariocas, tornando-se um marco na história do projeto que já dura 10 anos, fundamentando-o como uma empresa artística.

Foto: Apresentação de Rua – Divulgação

Desde o período de sua consolidação, a Confraria deu vida a grandes e conhecidas intervenções de rua, uma delas é a performance 111, em denúncia ao caso policial conhecido como chacina de Costa Barros, onde cinco jovens foram assassinados com 111 tiros, dentro de um carro por policiais militares em Costa Barros, na Zona Norte do Rio, após saírem para comemorar o recebimento do primeiro salário de um deles.

“O caso aconteceu no mesmo ano em que a confraria se consolidou como empresa e foi um momento importante e que nos ajudou a entender do que e pra quem a gente queria falar, importante a ponto desta performance originar nosso primeiro curta metragem”, Pontua André. 

Depois do 111 e desse contato com as ruas em uma outra proporção, inicia-se o projeto Rádio Itinerante A voz da Senzala como a materialização da arte, cultura e educação sendo acessadas pela população cotidianamente. O destaque desse projeto é a intervenção Aula de História, que colocava em pauta as discussões sobre colonização através do funk “Não foi Cabral”, da cantora, ativista e compositora, Mc Carol.

 
Foto: NATALIA PERDOMO

A condução do projeto em meio ao cenário das cidades e bairros cariocas, tornavam-se cada vez mais alinhadas com a sobrevivência em meio aos caos. Ainda nas ruas a Confraria esteve em sincronia com períodos como o Impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a ascensão da direita, a copa do mundo e seu processo de higienização urbana, o encarecimento das cidades cariosas e o processo de adoecimento das populações mais atingidas a estes acontecimentos. 

“Nossa produtividade artística era uma forma de sobrevivência em meio a isso tudo. A cidade estava nos matando, mas a gente precisava sobreviver. A gente batalhava fazendo arte no trem, no ônibus, no metrô…”, Destaca André.

Nos últimos 2 anos, apesar da ampliação da repressão e censura da arte, a Confraria passou a colher o que aparenta ser apenas o início desses tantos frutos plantados. Em 2018, foi indicada ao prêmio Shell de Teatro no Rio de Janeiro (considerado o mais importante do país), com o espetáculo “Esperança na Revolta” nas categorias autoria, música e direção, tendo levado o último, que quebrou um histórico de nunca antes um diretor negro ter ganho nesta categoria em 31 anos de acontecimento da premiação. Neste ano, a Confraria lançou no mês das crianças o espetáculo afrofuturista infanto-juvenil “A saga de Dandara e Bizum a caminho de Wakanda”, que traz diversas referências históricas, sobre o ancestral e o contemporâneo para a população negra através da história de duas crianças que vivem em um quilombo do Rio de Janeiro no ano de 2080, chamado Palmares e decidem partir numa viagem com a missão de salvar o mundo de todos os males, mescladas entre as poesias de Conceição Evaristo. 

Foto: Foto Marcelo Reis – Beà percussão em esperança na Revolta

A personificação dessa maré de prosperidade se dá não só pela troca com o Terreiro Contemporâneo, espaço que a Confraria reside e atua, em comunidade com outros grupos artísticos negros, que neste segundo semestre também foi indicado ao Prêmio Shell de Teatro Rio na categoria Inovação, mas também por gestos e rituais que anteriormente não faziam parte do cenário artístico afro diaspórico, como uma confraternização de fim de ano.

A simbologia presente nestes feitos constitui-se na representação de mais de 30 artistas negros sustentando-se de arte autonomamente, ainda que com a vitalidade do racismo estrutural. Pra quem sempre esteve na trincheira do proveito econômico da população brasileira, a fartura ou aquela grana que sobra, sempre foi motivo de celebração. “Que neste ano e nos próximos estejamos vivos para comemorar nossos avanços, nossos feitos, nossa vida e a nossa fartura! Okê!”, conclui André Lemos. 

Por Laís Monteiro 

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