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A ÁFRICA DO SUL EM HAIA E O ÚLTIMO REDUTO DO HUMANISMO NUM MUNDO “BASEADO EM REGRAS”

Por: Orlando Victor Muhongo

Não são poucas as vezes em que episódios da história da humanidade têm deixado perplexas muitas consciências de seres viventes no mundo contemporâneo. Tem sido assim em relação à forma como olhamos para as reminiscências e consequências do tráfico negreiro, uma página vergonhosa escrita com digitais de seres humanos. E volvidos quinhentos anos, os homens e as mulheres da era contemporânea não param de questionar: quem eram as pessoas que tinham a coragem de fazer tamanha barbaridade? De que espírito ou alma eram feitas?

Mas enquanto as respostas a estas questões foram sendo silenciadas por uma ordem mundial edificada pela persistência do racismo, da injustiça, da ganância e do colonialismo, eis que ocorreu o nazismo, o holocausto, e milhares de judeus foram vítimas, também, de mais uma das aberrações praticadas por seres humanos contra os seus semelhantes. E na contemporaneidade as perguntas persistem: quem eram aquelas pessoas? Como foram capazes de tamanha atrocidade?

O tempo corre, dando a impressão de que emergem novas pessoas, homens e mulheres renovados. Acreditamos na evolução dos seres, acreditamos no poder purificador das religiões. Pois, inclusive o mundo tem visto a ascensão de elites políticas, de governantes e “civilizações” modernas tementes a “Deus”. Governantes e monarquias cristãs, islâmicas e judaicas. Finalmente, um mundo governado por crentes no monoteísmo, os mesmos inventores de um sistema internacional baseado em regras.

Esse mesmo mundo baseado em regras consentiu sangrentas guerras de luta pela independência de povos africanos. Um direito inalienável, cuja materialização teve de cobrar milhares de vidas. O mesmo sistema internacional deu à luz “criaturas” hediondas como o regime de Apartheid na África do Sul, o genocídio no Ruanda, a desintegração de várias nações no Norte de África e no Oriente Médio, a perseguição e o massacre da população russófona na Ucrânia, e o genocídio do povo da Palestina!

Há mais de setenta anos que o povo da palestina vive uma eterna Nakba, uma tragédia de quase um século, diante do olhar do mundo e da “ordem internacional baseada em regras”. Milhares de famílias despojadas das suas terras, milhares de crianças assassinadas, milhares de seres humanos confinados em muralhas de betão para fuzilamento, um povo inteiro submetido a um processo de extermínio televisionado e patrocinado. Pois, quem concebeu as regras é árbitro e jogador.

As regras têm servido, até ao momento, apenas para o julgamento e a condenação de dirigentes políticos que ousaram enfrentar os senhores do mundo, ou para intimidar, dominar e punir o Sul Global. Então, quem ousará punir o regime sionista? Os EUA – a aludida terra das liberdades, paraíso da democracia e dos direitos humanos – são o principal patrocinador do regime sionista. A Europa, parteira do mito civilizatório do humanismo, dos direitos fundamentais, da liberdade, da igualdade e da fraternidade, é hoje apenas uma sombra inerte e cúmplice dos crimes do apartheid sionista que capturou a identidade e a memória do povo judeu. As nações árabes são, elas próprias (na sua maioria), controladas e governadas pelas teias de interesses subterrâneos que bombeiam combustível para Israel.

Nós, aqui no Sul Global, temos vivido anos, meses e dias de insónia! As nossas consciências pesam de tão açoitadas pela impunidade e sentimento de impotência que nos agride o espírito. Nós sentimos! Sim, sentimos profundamente, porque já vivemos na pele. Nós, aqui em África, que nascemos e crescemos em meio a guerras e sofrimento. Nós, cujos heróis angolanos, namibianos e sul-africanos, sangraram, combateram e tombaram na luta contra o apartheid apoiado pelos mesmos poderes que hoje patrocinam o sionismo, vimos na representação da África do Sul no tribunal de Haia a reafirmação da filosofia do Ubuntu, a essência espiritual que conecta o ser africano com a natureza e com o próximo.

A brilhante fundamentação jurídica de Adila Hassim e a presença de um jovem advogado como Tembeka Ngcukaitobi naquela sala do Palácio da Paz, em Haia, exprimem uma infinidade de simbolismo histórico, cultural e humanitário que representam, por si, a vocação maternal do continente africano para com a espécie humana, mas também a resistência e a permanente luta pela dignidade e pela igualdade, que tem sido travada pelos povos do Sul Global.

O veredicto final reside nas mãos e nas consciências dos juízes do Tribunal Internacional de Justiça, muitos deles, certamente, sob todo o tipo de pressão do poderoso lobby sionista. Porém, independentemente da decisão que estes juízes “terrenos” assumam face à petição em favor da Palestina, a África do Sul escreveu, nos anais da História, páginas douradas em prol da humanidade. Séculos passarão, mas a imponência daquela imagem retratando a luta dos oprimidos, pela salvação da alma da humanidade, jamais será apagada.

Luanda, 15/01/2024

Quem é o Orlando?

Licenciado em Relações Internacionais pela Universidade Privada de Angola; Mestre em Relações Interculturais pela Universidade Aberta de Portugal; Pós-Graduado em Direito das Migrações pela Universidade Autónoma de Lisboa; Doutorando em Estudos Globais pela Universidade Aberta de Portugal. É igualmente, autor de seis livros diversos (Poesia e Ensaios) e Analista de relações internacionais em diversos órgãos e plataformas e comunicação a nível nacional e internacional.

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