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A Várzea e a História do Flamenguinho de Franco da Rocha

O futebol varzeano é a própria alma do nosso futebol. Inconsequente e marginal dos rios e das estradas, das ruas e dos becos da vida, a várzea está na gênesis da espécie futebol brasilians, mas, em nossa contemporaneidade, parece que anda em extinção.

Não em Franco da Rocha, cidade distante apenas 30 quilômetros da capital, cidade escondida entre serras e biomas como a Cantareira, o Jaraguá e o Japí, já eleita o sexto melhor ar do mundo, recortada por diversos rios, riachos e nascentes e dona da maior área de cerrado urbano do mundo.

Essa mesma cidade mantém uma tradição genuína no futebol que lembra os primórdios desse esporte no país. É como se no futebol, Franco da Rocha vivesse a década de 20 e 30, onde os clubes ainda convergiam cem por cento com suas comunidades e o amadorismo trazia uma atmosfera romântica para o esporte.

Em cada bairro de Franco da Rocha, um time de futebol faz o cartão de visitas para seus frequentadores, além de ser a primeira escola, o primeiro ponto de encontro, a primeira praça e o primeiro lugar sagrado de seus moradores.

A maioria desses clubes amadores que, contam com sede social e campo de futebol, que tem um símbolo, uma camisa e uma bandeira, fora fundado por filhos de imigrantes e espanhóis como os clubes de São Paulo.

Todos são partes intrínsecas de seus bairros e de seus moradores, com características próprias, preservando a missão do futebol de ser mais que um jogo ou uma brincadeira. Cada clube nascido nas entranhas das ruas tortas e mal asfaltadas, ou na beira do rio Juquery, representa um povo e uma história.

Principalmente os clubes Flamenguinho da Vila Ramos e Corinthinha do bairro Pouso Alegre. Ambos vizinhos e oriundos de um único time: Vilas Unidas, quando se pensou em criar um único clube que representasse esses dois bairros.

Como não deu certo, cada bairro resolveu criar o seu próprio. Contudo, tanto um quanto outro, precisaram ser paridos à beira do rio Juquery. Rio mítico da criação de um vale da passagem de tropeiros e bandeirantes que buscavam ouro, de uma estação de trem da primeira linha do Brasil e de um hospício que foi pioneiro no tipo de tratamento que ofereceu aos seus doentes, como também foi um  lugar de pesquisa, de ciência e de criação artística.

O Rio Juquery faz nascer gente! Faz nascer histórias e integra suas plantas mágicas, como a Yuquery que lhe deu o nome, com os pés de homens e mulheres que queriam jogar futebol. Dorme Maria cantavam enquanto suas pernas trançavam a bola e deslizavam a mesma para o fundo do gol. Um campo cheio de mandiga e pássaros cantando ao fundo. O Cerrado é seu quadro de paisagem, a mata ciliar e o morro do campo da aviação são  suas arquibancadas.

O Flamenguinho até hoje faz trabalho social para o seu bairro e integra jovens, crianças, homens e mulheres em torno do futebol. Esse clube foi o único da cidade de Franco da Rocha a integrar os anais do Futebol Profissional da Federação Paulista de Futebol.

Em 1967, o Flamenguinho participou do Campeonato Paulista da Terceira Divisão por sugestão de Baltazar do Corinthians, o Cabecinha de Ouro, ao presidente da época, Nilson Morelato, o qual fez tudo para que isso ocorresse, chegando a bancar com o dinheiro do próprio bolso toda a profissionalização do time (ele doou até o terreno da sede social). Dando tudo que podia e que não podia. Sua mulher, Marlene Morelato, lavava a roupa dos jogadores e fazia a comida para eles.

Flamenguinho da Vila Ramos chegou a jogar contra o Jabaquara da cidade de Santos, contra a Portuguesa de Desportos, Ponte Preta, SAAD (antigo São Caetano) e contra o Master do Corinthians. Em 1971, o clube abriu uma turma de futebol feminino sendo pioneiro na região.

Este fim de semana ocorreu a comemoração de 70 anos do Flamengo de Franco da Rocha na Praça de Esportes Gino Morelato e diversas homenagens aconteceram para relembrar a história da comunidade, bem como partidas de futebol do masculino e do feminino contra outros clubes tradicionais da várzea oeste.

Que não morra nunca essa alma do nosso esporte!

 

 

 

 

 

NOTA

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2 respostas

  1. Boa matéria, Adrienne Kátia Savazoni Morelato! Quem diria que os times de Franco da Rocha tinham os nomes dos dois times de maiores torcidas do Brasil. Interessante a ligação que teve o Baltazar.
    O Sport Club Corinthians Paulista começou como time varzeano. Inclusive duas equipes da Várzea Paulista tiveram influência para futuros esquadrões corinthianos, que foram o Botafogo do Bom Retiro nos Anos 1910 e o time da Vila Maria Zélia na década de 1940.
    Parabéns!!!

  2. Texto agradável de ler, muita Cultura relatada, muitas vidas, muito amor e acima de tudo, muita dedicação, que subtraída muitas vezes de nossa família, fez-se a vontade de um coração nobre, cheio de Amor por sua Vila Ramos, lugar que escolheu e amou até sua partida. Muito suor e muito de nós ficaram neste clube, que jamais alguém amará como Nilson Morelato amou, mesmo sabendo que muitos o odiavam, por pura ignorância. Meu pai, sabemos o quanto lhe fazia feliz se dedicar a este clube, mesmo com muitos sentimentos infelizes contrários até sobre nossa família, agradecemos-lhe por nos ensinar a arte de amar, respeitar e de servir.parabéns Adrienne katia savazoni Morelato por relatar magnificamente parte de uma pequena história de um grande personagem, de uma grande vida e acima de tudo de um grande sábio.

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