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VIVÊNCIAS DE UM CORPO EM EVIDÊNCIA

Como consumidora e empresária no mundo da moda de reuso, lido constantemente com o corpo, corpo este em evidência. Meu corpo, seu copro, nosso corpo. Perceptivel a dificuldade de lidar com o corpo, de encarar o espelho e de aceitar as numerações expressas nas etiquetas: G, GG, G1 e assim segue. A dificuldade de olhar a diversidade de corpos, quando todos estão vulneráveis apenas de roupa intíma. Em casa tenho alguns espelhos onde vejo meu corpo, passo por eles e volto, quase sempre estou nua neste momento e posso dizer, o espelho não é meu inimigo e sim, tenho um corpo gordo e este não segue os padrões das modelos plus size.

Fofa, fofinha, cheinha, mulher de ossos largos. Assim como eu, algumas mulheres convivem com alguns (ou muitos) quilos a mais, ouvem eufemismos e termos pejorativos, onde o preconceito apareça travestido de elogio ou preocupação. Embora mais que 52,5% da população brasileira esteja acima do peso, muitas pessoas ainda não conseguem balbuciar a palavra que nos define sem esbarrar em um certo pudor. Sim, somos gordas. E não há mal nenhum nisso.

Vivemos num mundo de imagens onde a visibilidade é fundamental, se não nos vemos representadas, não somos parte do cenário. É como se não existíssemos. Em certo momento, fomos condicionadas a procurar um espectro de tamanho em que nos encaixássemos, lutamos tanto por quebra de padrões, igualdade e inclusão, vemos claramente que um novo padrão tenta se estabelecer.

O corpo magro sempre esteve em evidência, esse corpo, nu ou vestido é capa de revistas, matérias de jornais, manchetes publicitárias, e se transformou em um sonho de consumo para milhares de mulheres, nem que, para isso, elas tenham que passar por intervenções cirúrgicas, dietas de todos os tipos ou exercícios físicos dos mais variados. Ao contrário dos corpos magérrimos das modelos nas passarelas e revistas, a maioria da população encontra-se acima do peso.

Não é a balança ou o espelho que é inimigo da mulher, mas os padrões estéticos. O mercado ainda valoriza um corpo plus size sem barriga, com cintura fina, bumbum grande e coxas grossas .Expressa também a busca por um corpo específico, modelado e que atenda aos interesses de um mercado, um corpo estilizado e midiático. Criando um desencontro entre o ‘curvilíneo’ e o ‘plus'”. Lá fora, esse rótulo engloba a numeração que vai do 12 a 24, o que no Brasil equivale ao intervalo que vai do 40 ao 52.

Plus Size significa tamanho grande que nos Estados Unidos são para mulheres grandes no sentido de serem mais altas, terem quadril ou as costas maiores, pouca barriga e como sabemos elas não costumam ter bumbum avantajados como as brasileiras e nem ter muita cintura por isso, muitas brasileiras acabam se decepcionando ao se dirigir a sessão Plus Size de uma loja e não encontrar um tamanho que lhe sirva perfeitamente. As vezes fica apertado nas pernas, as vezes não entra no quadril e quando entra a cintura fica muito larga e aí por diante.

Nos Estados Unidos e Europa, mulheres curvilíneas como as brasileiras ou gordinhas usam um outro tipo de modelagem chamada Curvy. Este tipo de modelagem atende justamente as mulheres que tem pernas grossas, bumbum avantajado, cintura afunilada, seios grandes mesmo tendo as costas estreitas. Nessas lojas não se encontra a sessão Plus Size pois os tamanhos vão do 34 ao 46/48 mas possuem a sessão Curvy onde os tamanhos são designados por P/M/G/GG/EG (S/M/L/XL/XXL) ou por  tamanho com numeração impar pois em vez de ser 36, 38, 40 se usa 37, 39, 41, etc.

A história da moda plus size começou com o aumento da produção na indústria de vestuário, consumidores e varejistas passaram a reclamar da falta de padronização nas peças de roupas, reivindicavam uma pesquisa sobre as medidas corporais da população, o que em 1958 levou o órgão responsável por padrões técnicos nos EUA. Não sei de onde vem essa necessidade de rotular tudo, talvez para a indústria seja mais fácil criar coleções específicas para tamanhos maiores e batizá-las de plus size do que simplesmente não dizer nada.

Para a classificação foram utilizadas três métricas chaves para as mulheres: altura, busto e circunferência do quadril. Então, as empresas começaram a seguir esse novo padrão, o resultado foi que qualquer peça com medida maior do que os padrões mais usados pelas mulheres da época foi considerado como roupa plus size. Nós somos mulheres que têm costas largas e peitos pequenos, cintura fina e quadris largos, coxas grossas e pernas curtas, corpos normais e desproporcionais como devem ser. Se a modelo de prova da marca tem medidas “perfeitas” e a grade de tamanho das peças são apenas poucas variações mínimas da peça padrão, significa que a marca não está pensando em consumidoras reais.

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Crescemos num mundo onde adequamos o corpo às roupas, onde na verdade são as roupas que precisam mudar para caber em diferentes corpos, respeitando a diversidade em todas as suas formas.

O termo plus size refere-se ao da gorda aceitável. Aquela gorda que tem o corpo ampulheta, mais quadril, pouca barriga, cintura mais fina e peito grande ou ao menos mediano. Além das medidas –quadril entre 115 cm e 125 cm e altura entre 1,70 m, os agenciadores e estilistas cobram também barriga sequinha, cintura fina e o mínimo possível de celulite das modelos. As marcas querem uma mulher de corpo violão, sem fazer apologia à obesidade. a recente criação da categoria “curve” nas agências. Na prática, ela se refere a meninas que vestem entre 42 e 44. E o que deveria ser uma nova categoria acabou virando padronização, excludente como qualquer outra. Curve virou sinônimo de ‘menos gorda’.

Todas merecem chegar numa loja que tem uma vitrine incrível e encontrar um modelo que caiba. Não deveria ser um desafio encontrar marcas que tenham uma variedade de números e peças que são bonitas, que são tendência, que têm estilo. Todas querem ser representadas, compro o que me representa, mas na verdade é um discurso ainda raso, pois na hora de ver a roupa em uma modelo “maior ou fora desse novo padrão de gorda aceitável” ela acha que a roupa ficou feia, não vestiu bem e não compra. São poucas as marcas que são realmente engajadas e preocupadas em vestir a mulher, com seu bem-estar psicológico, que querem a reestruturação do valor feminino. Para ser modelo plus existe sim um padrão, infelizmente, e a maioria não se encaixa, eu não me encaixo.

Algumas marcas dão grande relevância para as peças plus size. Dentre elas, a Renner é a única varejista que tem uma marca específica para o consumidor plus size, a Ashua, disponibiliza roupas do tamanho 44 ao 56, antes funcionava como uma seção do e-commerce da Renner desde 2016, após o sucesso de vendas dessa categoria na internet, tornou-se uma rede. Loja física no shopping Praia de Belas em Porto Alegre, no shopping Anália Franco e no Shopping Tucuruvi.

A C&A tem uma parceria com a startup Flaminga, marketplace que vende roupas a partir do tamanho 44 de várias lojas cadastradas. A plataforma trabalha com 50 fornecedores e oferece 3.000 itens.

Comprovando o bom momento da moda plus size brasileira, as marcas Assens (moda casual do manequim 44 ao 66), Basic 4 Curves (lingerie do 44 ao 62), Clube de Meia Calça ( especializado em meias calças até o 62/64)  e Rainha Nagô (moda urbana 46 ao 70) se uniram para abrir a CASA PLUS SIZE, Rua Bartolomeu Zunega, 152 – Pinheiros – próximo ao Metrô Faria Lima – Linha Amarela, zona oeste de São Paulo. Mais do que uma loja coletiva, um espaço de acolhimento, bem estar e autoconhecimento para a pessoa gorda. A abertura para o público foi no dia 26 de maio de 2018.

A marca paulistana FALA, fruto de uma parceria entre as amigas Luciana Cruz e Alline Fregne, é uma marca independente se comunica diretamente com o zeitgeist: seguindo o slow fashion, apresentando propostas genderless e investindo em uma linguagem visual para impactar a todos, sem descrição ou segmentação.

A Clamarroca Plusé, uma marca de jeans fundada por Mariana Camargo, começou no instagram, em setembro de 2016,  lançou um e-commerce e uma loja física em São Paulo. São 20 modelos de calças em quatro cortes, seis modelos de shorts e 15 modelos de blusinhas.

Com sede em Curitiba (PR), a For All Types foi fundada em 2015 por Bianca de Castro da Silva Reis, eespecializada em lingeries e moda praia para mulheres que vestem manequins a partir do 48—sem tamanho máximo. São 20 itens em catálogo.

 A corretora de imóveis Amanda Momente,  criou a Wonder Size, grife que produz peças como tops, calças e roupões — do tamanho 44 ao 66.

A pesar do visível aumento das lojas que se destinam a esse público, dificilmente um nicho de mercado consegue acompanhar ou é economicamente viável acompanhar as tendências dominantes como um todo. A jornalista Flávia Durante organiza, desde 2012, uma feira de moda plus size, conhecida como Pop Plus, são aproximadamente 70 expositores que vendem exclusivamente peças plus size. Próximo evento dias 16 e 17 de março de 2019, das 11h às 20h, no Club Homs – Av. Paulista, 735 (Metrô Brigadeiro – Linha Verde), entrada gratuita.

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