A herança colonial e a hierarquização das raças, tem contribuído diretamente para a funcionalidade do capitalismo, bem como o mito da democracia racial, violações que contribuem para o processo de dominação e exposição da população negra as distintas faces da violência.
A escravidão constituiu o episódio da maior violência duradora do planeta, que ainda não foi enterrado com a Lei da Abolição, sendo o Brasil o país que mais tenha trazido africanos e sendo o último da América a abolir o regime escravista que durou aproximadamente quatro séculos, após a abolição negras (os) ficaram à mercê do seu próprio destino, “deitando sobre os seus ombros a responsabilidade de se reeducar e de se transformar para corresponder aos novos padrões”, com pontua Florestan Fernandes (2008, p,35). Portanto, a Lei Áurea não garantiu que essas pessoas fossem consideradas na sociedade como sujeitos de direitos, estando reservado ao povo negro a segregação e exclusão.
Diante disso, não há nenhuma novidade quando dizemos que a população negra foi historicamente marginalizada e excluída das instâncias de poder, dos cargos de comando, dos espaços de tomada de decisões. Tampouco é novidade que indivíduos negros, por vezes, não tiveram possibilidade de escolhas para construírem suas histórias e trajetórias, tendo que resistir para poder existir.
As famílias negras majoritariamente encontram-se alocadas longe dos aglomerados urbanos à mercê das inúmeras violações de direitos, sejam nas penitenciárias, nos trabalhos informais, nos noticiários, que são bombardeados pela associação do negro aos crimes e outros ilícitos, isso quando sobrevivem.
Nós, negras e negros historicamente fomos privadas e privados do acesso à educação de qualidade, serviços de saúde, lazer, acesso a moradia, entre outros direitos sociais, essa privação nos distanciou da possibilidade de acessar boas posições no mundo do trabalho, o que implica na falta de acesso a todos esses serviços citados acima, fazendo com que vivenciemos um ciclo vicioso de marginalização e exclusão.
Dia desses, passeando pelas redes sociais em meu celular, me deparei com a seguinte provocação: “Trabalhe enquanto eles herdam”, muito bem colocada por Gilberto Porcidonio em seu Twitter, que me gerou diversas reflexões e me fez lembrar o quanto nossas ações – Coletivo de Pesquisadoras(es) Negres Neusa Santos – são importantes e fundamentais para caminharmos para a transformação da realidade acima descrita. Essa frase me fez lembrar o quanto há um sistema que se beneficia de nossos esforços, de nosso cansaço e deste histórico de privações e de marginalização ao qual tentam nos submeter.
Ocorre que o povo negro é um povo de luta, que tem uma trajetória de resistência iniciada desde quando sequestrados em África e não descansa até os dias atuais. Em tempos de retrocessos constantes e avanços do neoconservadorismo, mais do que nunca é preciso fortalecer e se recompor politicamente. Nós, Coletivo de Pesquisadoras(es) Negres Neusa Santos, seguindo os passos daquelas e daqueles que nos antecederam, nos posicionamos firmes de ocuparmos que é são nossos enquanto direito e nos foram negados.
Nessa perspectiva, com o objetivo de possibilitar oportunidades de outros caminhos e a escrita de novas histórias, em 27 de outubro lançaremos o edital do Cursinho Preparatório Neusa Santos – Inserção na pós-graduação (Mestrado e Doutorado), possibilitando a oportunidade de pessoas negras que almejam ocupar o espaço da pós-graduação strito-sensu compreender que esse também é o seu espaço e que conheça os caminhos para se poder chegar lá.
Serão disponibilizadas 15 (quinze) vagas, voltadas para negros e negras, maiores de 18 (dezoito) anos que tenham concluído o ensino superior ou que concluam ao final deste ano.
A nossa luta é contínua por ocupar e resistir, seguimos construindo pontes!
O edital poderá ser acessado no Facebook e Instagram do Coletivo, listados ao final dessa página.
Coletivo Neusa Santos, presente!
- * Daiana Cristina do Nascimento – Daiana Cristina do Nascimento – Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Mestre em Serviço Social pela Faculdade de Ciência Humanas e Sociais – UNESP de Franca/SP. Especialista na Saúde da Criança e do Adolescente pelo Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Doutoranda em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Atualmente trabalha na Fundação Cultural de Uberaba, no projeto Talentos Cidadania e com educadora social do “Por oportunidades e direitos agora!”. Com estudos voltados para a inserção da mulher negra no ensino superior com recorte de gênero, raça e classe social.
**Winnie Nascimento dos Santos: Psicóloga formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especialista em Gestão de Pessoas e Negócios pela Universidade da Cidade de Nova Iorque (CUNY) – Baruch College, com aprimoramento em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mestra em Psicologia Social – Núcleo de Trabalho e Ação Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), com pesquisa relacionada a questões de trabalho, gênero e raça. Fundadora do Coletivo Neusa Santos. Atualmente pesquisadora e consultora de projetos no Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). Coordenadora do Núcleo de São Paulo da Articulação de Psicólogas(os) Negras(os) Pesquisadoras(es) (ANPSINEP), doutoranda do Programa de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP) e psicóloga clínica.
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