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A muito tempo atrás, em uma fazenda, com pessoas escravizadas, havia doze mulheres, uma delas chamada: Maria, que trabalhavam na “Casa Grande”. Elas revezavam-se em lavar, cozinhar, costurar, limpar, entre outras funções. Um dia, o Senhor chamou uma delas:

  • Maria! Maria! Venha até aqui e me trás um suco. Contudo ela não se atendeu. E ele continuou:
  • Maria! Maria…

Ela se virou e disse: 

  • O que o senhor deseja?
  • Por quê não me atendeu, antes?
  • Desculpe, é porque não chamo Maria, demorei para perceber que…Ele bravo a interrompeu e gritou:
  • Agora todas as mulheres que trabalham nesta casa chamam-se Maria.

A mais mulher mais velha que trabalhava na casa, que realmente chamava-se Maria, (podia ser por isso que o homem só lembra-se deste nome) ficou muito triste porque todas as mulheres iam ser chamadas pelo seu nome. E sua amiga a consola:

  • Imagina, você que é a nossa mais velha, que nos cura com suas ervas e nos acalenta com histórias de nossa África, ser chamada pelo seu nome é uma homenagem para todas nós.

Os dias se passaram…E mesmo assim Maria, continuava disfarçando a amargura, no dia que sua neta nasceu, ela estava acamada. Perguntaram ao homem, dono fazenda, porque ninguém é dono de ninguém, qual seria o nome da menina, ele assim respondeu:

  • Vai chamar Maria. Assim, quando crescer, já sabe que vai trabalhar na casa. 

A senhora quando soube disso piorou. Chamou sua filha e disse:

  • Vou partir para Olorum e quero que continue a curar a todos, às vezes com ervas e unguentos, outras vezes com histórias. Haverá um tempo em que nosso povo poderá escolher o nome de seus descendentes,tenha esperança. Não a esperança de esperar e sim de esperançar…Chamou a filha para ouvir as últimas instruções perto do seu ouvido e partiu para a sua liberdade.

Todos ficaram muito tristes, contudo a vida teria que continuar e continuou…Depois de um tempo nasceu outra menina e homem deu o nome de: Maria! Entretanto uma aconteceu algo estranho…

A “Maria” mais velha, que trabalhava na casa, saiu para encher um balde com água e de repente, na frente  de todos…Caiu e morreu. Pareceu um caso isolado, porém…Este acontecimento continuou recorrente. Toda vez que o homem dava o nome de Maria para uma criança da senzala, dois dias depois falecia a “Maria” mais idosa da casa. Se nascesse um menino, nada acontecia, se ele colocasse outro nome na bebê que não fosse Maria, também…

O senhor acordou um dia bravo. Sabia que tinha um neném a caminho. Quando nasceu, colocou o nome de Maria e chamou a mais velha da casa e disse:

  • Você vai ficar na sala de estar hoje e eu ficarei ali com você, não sairá para nada. Sei que vocês estão querendo me enganar com esta crendice, eu sou mais esperto! Quero ver tentarem me enganar agora. 

E assim o fez. Como a senhora sempre morria após dois dias do nascimento da menina que fosse chamada de Maria, ela permaneceu em pé naquela sala  e o homem ali, decidia tudo que precisava ali, fazia xixi em um balde e não dormia. Ele deixou que ela recebesse comida ali na sua frente e bebesse água. No final do segundo dia, muito cansada, ela diz:

  • Senhor, será que posso deitar um pouco para dormir? Ele permitiu, mas que não demorasse mais que quinze minutos. “Maria” deitou-se no chão e adormeceu. Depois de um tempo o senhor a mandou levantar e ela não o fez. O homem foi até ela e a empurrou com o pé e falou para levanta-se e nada. A mulher estava morta. Ele ficou furioso. Saiu lá fora e gritou:
  • Sei que querem me enganar, contudo, não vão! Ela não vai ser enterrada até me contarem a verdade. 

Ninguém entendeu que “verdade” seria essa. Uma das “Marias”, a filha daquela senhora que chamava realmente por este nome teve uma ideia. Foi até o padre e contou toda a história do ocorrido e dispara:

  • O senhor, que é tão inteligente, benevolente e representante de tantas almas, é o único que pode explicar ao nosso fazendeiro o que acontece. Ele foi pomposamente, flutuando no seu ego, falar com o homem, mesmo intimamente não sabendo o que iria dizer.

Lá encontrou o senhor na sala de estar e a senhora no chão deitada, morta. Ouviu a versão e visão daquele desesperado ser. Então o padre diz:

  • Olha que bênção temos aqui, toda vez que você nomeia um bebê jovem com o nome, uma senhora idosa vai embora. Isso é ótimo! Não terá nunca estas mulheres fracas, que mal conseguem andar, trabalhando na sua casa. Pense na economia do seu lar, ou seja, na dinâmica, nunca irá parar. 

O homem, agora sentindo-se poderoso, por achar que tinha poderes em decidir quem vive e quem morre, ficou satisfeito com aquela explicação e deixou enterrar a senhora.

Muito tempo se passou…As pessoas escravizadas foram “libertas”, para não perder muito dinheiro, os filhos deste senhor, que agora era um idoso, falou para o pai vender a fazenda com um valor bem baixo para se livrar deles e ir morar na cidade com eles. Ninguém queria comprar a fazenda, visto que a lenda das “Marias” já tinha se espalhado. Alguns achavam que o local estava com algum tipo de encantamento. Ele vai embora e deixa o local para os homens e mulheres escravizados. 

Um tempo depois…Uma das Marias, a mais idosa, faleceu, sem haver nascido uma bebê menina sido batizada com seu nome. Era a mãe de Jacira que depois de uns dias  tem uma filha e chama a curandeira, e para ela declara sua dúvida:

  • Queria chamar minha filinha de Maria, para homenagear a minha mãe. Contudo estou com medo que venha a falecer mais uma das Marias, por minha causa, o que devo fazer?

A curandeira, que era uma das Marias, que recebeu de geração em geração os ensinamentos e pediu que a mulher se reunisse com a aldeia, na fogueira, nesta noite antes de decidir que nome colocar. 

A reunião em volta da fogueira estava feita. Uns perguntavam aos outros o que seria que Maria diria. Alguns acreditavam em uma maldição, outros acreditavam que agora isso não existia mais, já que o homem tinha ido embora. A curandeira chegou perto da fogueira, esperou o silêncio e disse:

  • A muitas gerações atrás, Maria, a primeira de nós que trabalhava na Casa Grande, inconformada com a decisão daquele senhor teve uma ideia. Falou em seu leito de morte para a sua filha que fizesse um chá com determinadas ervas que deixava as pessoas com aparência cadavérica. Então a curandeira, daria esta bebida assim que a criança nascesse para a “Maria” mais velha e em dois dias, ela ia cair e parecer morta. Como somos enterrados em covas rasas, longe da vista dos senhores, na madrugada, a mulher acordaria, lá estaria a Maria-curandeira com alimentos, roupas e ajudaria a amiga a ser desenterrada. Ela por sua vez fugiria, os capitães do mato nunca iriam se preocupar de ir atrás, visto que, não tratava-se de uma fuga anunciada. Então esta senhora, estaria livre. 

Após este pronunciamento todos começaram a falar ao mesmo tempo, metade acreditava e a metade não. Aconselharam a Jacira a escolher outro nome, entretanto ela levanta e diz:

  • Pode parecer que somos ingênuos, contudo não somos. Acredito sim na história e que enganamos o homem branco que criam crendices sobre nós. Ela vai se chamar Maria para homenagear minha mãe e a senhora Maria que dentro da sua dor teve a esperteza que mudou rumos de vidas.

E não é que a mais velha, com o mesmo nome, não morreu. Claro que a explicação para algumas pessoas foi o fato de haver apenas onze e com a menina se completava as doze. Pelo sim ou pelo não, pelo medo ou pela homenagem, sempre que uma Maria falecia, a próxima menina que visse a luz da vida, recebia este nome também. Então este local ficou conhecido como o Quilombo das doze Marias. 

E você leitor o que acha? Que por obra do acaso uma ia e a outra viria? Que as mais velhas eram mesmos descartadas pela ironia do destino que as substituía por mais jovens? Que havia algum tipo de feitiço, magia ou maldição? Ou que os pretos, que eram considerados sem inteligência ou alma, realmente enganaram os brancos durante muito e muito tempo?

 Em África os mais velhos são venerados e respeitados, porque tem a sabedoria para passar as próximas gerações.Esta é uma lenda ficcional que retrata que nenhuma vida, por maior ou menor que seja, vale mais ou menos que a outra. Cada um é importante e tem relevância na vida de alguém, que nenhum jovem vem substituir o mais idoso e sim que fazemos parte de uma família onde todos são sagrados. 

NOTA

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2 respostas

  1. Nosso povo é maravilhoso a tradução dessa verdade se encontra em todos nós mas especialmente em vcs mulheres que sempre foram e são poderosas. Axé!!!!!!

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