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Neusa Santos e os desafios de tornar-se negra*

“Saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em suas expectativas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas” (1990, p. 17-18)

Neusa Santos Souza

 

No artigo de hoje, compartilhamos um pouco da história dessa brava guerreira que brinda este Coletivo com seu nome.

Neusa nasceu em 30 de março de 1951 no Recôncavo Baiano, na cidade de Cachoeira. Formou-se em medicina e em 1997 ingressou no mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concluindo em 1981. Após prestar concurso para psiquiatria do Ministério da Previdência Social, passou a atuar no Centro Psiquiátrico Pedro II, onde teve uma breve passagem, e então começou a se dedicar ao atendimento e atuar como docente em instituições de ensino.

A partir da década de 1980, passou a militar contra o preconceito e pela igualdade racial no país, a partir de crônicas, artigos e diversos escritos em jornais e revistas. Publicou três livros: Tornar-se Negro (1983), A psicose: um estudo lacaniano (1991) e O objeto da angústia (2005).

Seu livro Tornar-se Negro representa um marco no cenário da psicologia brasileira, uma vez que era um dos poucos trabalhos que apresentavam um estudo sobre negros por um indivíduo negro, o qual visa aprofundar os desafios vivenciados por negras e negros, seus sofrimentos, sua constituição como sujeitos e o conhecimento de sua subjetividade, compreendendo o racismo como algo a ser enfrentado e entendido como nocivo à saúde dos povos negros.

A vida de Neusa Santos é marcada por caminhos e descaminhos, encontros e desencontros. Como mulher negra que ascendeu e que teve acesso a um tipo de conhecimento que a maioria de mulheres como ela não tiveram a oportunidade de compreender, ela busca aprofundar seu conhecimento acerca da temática e, junto dos movimentos negros, empenhar uma luta contra as desigualdades e os sofrimentos que o racismo pudesse causar nos seus pares e nela mesma. Contudo, forças contrárias às suas próprias, desse mal que ela buscava combater, acabaram por vencê-la:

“Neusa não aguentou chegar a 2009 para comemorar os 120 anos de proclamação da República. No sábado, 20 de dezembro, com cerca de 60 anos de idade, suicidou-se sem antes jamais ter dado sinais de depressão ou de que pudesse um dia recorrer ao gesto extremo de tirar a própria vida. Qual Ismália, lançou-se de alto de uma construção, um imponente edifício onde vivia na Rua General Glicério, Laranjeiras. Ela deixou apenas uma pequena mensagem pedindo desculpas aos poucos amigos do peito por sua decisão radical. Não era casada, não tinha filhos. Sua riqueza material – colecionava artes plásticas da melhor – deve ir para parentes colaterais na Bahia, distantes intelectualmente dela e de seu cotidiano de luta contra o racismo”.

Palavras de Alfredo Herkenhoff

Apesar de sua grande contribuição na produção de conhecimento científico, o nome de Neusa não está incluso nos livros de psicologia, quase nunca é lembrado e por muitos completamente desconhecido. Nós, Coletivo de Pesquisadoras(es) Negras(os) Neusa Santos seguimos mantendo firme a sua memória. Neusa Santos, presente!

*Este texto é uma adaptação de um capítulo de minha dissertação SIGNIFICAÇÕES DE MULHERES PRETAS INSERIDAS NO MUNDO DO TRABALHO EM POSIÇÕES DE PRESTÍGIO SOCIAL

NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

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