Estava lembrando hoje daquela música do Almir Sater…
“Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais”
E me veio inspiração para retomar esta coluna fazendo uma ponte com uma transição de vida que estou escolhendo. Sim, a essa altura da vida me dei o direito de escolher e de enfrentar o medo da escolha.
A pandemia jogou em nossas caras muitas mazelas da sociedade em que vivemos. Depois de dois anos de pesquisa na graduação e mais dois de mestrado, estudando como a cidadania poderia se apropriar das redes para mudar a realidade, descobri que não é tão fácil assim, nos falta literacia informacional, nos falta pensamento crítico sobre as informações que recebemos e sobre as informações que estão disponíveis. Fomos forjados pelo sistema para não pensar, apenas repetir e seguir a marcha, sem pensar muito por quê.
Mas quando nos damos conta de que sabemos muito pouco ou nada, podemos começar a pensar mais criticamente sobre o que sabemos e não sabemos.
“A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”, já dizia Beto Guedes.
Terminei meu doutorado, freiriano, em plena pandemia. Somando todas as circunstâncias, que incluíram encarar dores, opressões, apagamentos e constatações dos malefícios e maldades do patriarcado, o corpo sentiu, a cabeça sentiu, o coração murchou. Algo comum nestes tempos… certamente não fui a única, nem mesmo na minha casa.
Esse turbilhão de solidão, isolamento, medo, trouxe à tona a percepção de que a gente vive correndo. Corre o tempo todo, passamos por tudo e tudo passa por nós em alta velocidade, hipervelocidade. Vemos tudo enquadrado. Como diz Adriana Calcanhoto.
“Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela” e “vendo doer a fome, dos meninos que tem fome”, se tivermos o mínimo de sensibilidade.
Doeu. Dói.
Que mundo eu estou vivendo? Que mundo eu estou alimentando? De que mundo eu sou escrava?
Foi nessa angústia que o sonho antigo de ir morar fora da cidade grande renasceu e ganhou corpo, foi pintando tudo de AmarElo, aquele do Emicida.
A história é longa (e vai ser contada aqui aos poucos pra você), mas estou fazendo esta migração, e de agosto de 2021 para cá aprendi muita coisa, inclusive que preciso andar mais devagar, não ter pressa, harmonizar minha mente, minha vida e meu coração com uma realidade que é escondida pelos prédios da cidade, pela ganância, pelo capitalismo selvagem, pela manutenção da divisão de classes, pelos poderes, desinformação, insensibilidade, tela, conformismo, racismo, machismo, transfobia, invisibilidade, apagamento, escassez, preconceito, homofobia, fobia, fobia, fobia…
Existe uma alternativa que bebe na abundância que a natureza nos oferece, na comunhão com Gaia, na comunidade, no trabalhar juntos no barro, na terra, nas folhas, nas águas, no sol e no amor. Seguindo também a ideia de Ailton Krenak de Adiar o fim do mundo.
É dessa realidade possível, bondosamente rebelde, que abdica do sistema que eu quero falar aqui nesta coluna.
Dessa realidade que empodera, liberta, põe a mão na massa, colabora, co-cria e constrói bebendo nos saberes ancestrais, na força des excluídes, des oprimides. (Paulo Freire ficaria feliz comigo)
Permacultura, Bioconstrução, hortas comunitárias, biodigestor, sustentabilidade de verdade, preservação ambiental, agrofloresta, empoderamento feminino, liberdade…
Um novo mundo que se descortinou para mim e que quero dividir com você.
Vem comigo?
Capa: Imagem meramente ilustrativa.