Eles o chamavam de filho, que nasceu a 19 de maio de 1925, em Omaha, no estado de Nebraska, por sua mãe Louise Little, uma heroína, de pele mais clara que escolhe justamente o progenitor de pele escura, o senhor Earl Little. Ele era um herói e pastor, defende seus iguais e prega sobre as ideias de outro herói, Marcus Garvey, que basicamente dizia que os pretos deveriam voltar para a África. Esta família, grandiosa, com ele e seus irmãos mudaram-se para cidade de Lansing, no Michigan. Conheceram o lado Branco da Força que sentiu-se incomodada com senhor Little e um dia, estes homens os brancos que o espancaram e deixaram para morrer na linha do trem.
Agora as pessoas o chamavam de fardo…A senhora Little acionou o seguro que se recusou a pagar alegando que foi suicídio, então recebia um cheque de pensão e outra da assistência social, mesmo assim, todos passavam muitas necessidades financeiras. Ela usou seu super poder de limpeza para trabalhar e sustentá-los, contudo e a demitiram diversas vezes quando descobriram o nome do seu marido. A assistência social sempre dizia para que encaminhasse seus filhos para a adoção,o que ela se recusava veementemente, com o tempo, alegavam que ela não tinha saúde mental para cuidar de todos, falavam sem parar, como uma hipnose mudaram seu estado, logo as energias de Louise diminuíram, teve um colapso nervoso, então a internaram, tudo que o inimigo chamado Estado queria, destruir essa família, separar todos e obrigá-los a viver com tutores, em casas com outros jovens na mesma condição.
Seu nome mudou para negrinho, era como todos os viam na escola, porque seu único poder de ser o mais inteligente da sala, até sendo eleito como representante da sala, por todos seus colegas brancos, não podia crescer. Quando comentou com homem, chamado de professor, que de educação não entendia nada, que queria se tornar advogado, este por sua vez falou que no máximo ele seria carpinteiro. Isso o decepcionou tanto que não quis mais estudar.
Aos 16 anos foi morar com sua meia-irmã Ella em Boston. Não se identificava com os homens pretos que trabalhavam honestamente e achava que eram esnobes em relação aos outros homens da mesma cor que não tinham empregos iguais. Trabalhou em uma sorveteria onde conheceu Laura, uma estudante, e depois ele trabalharia na ferrovia como garçom. Desistiu de tudo e procurou empregar-se no Harlem, onde conheceu Shorty, que tinha o poder da música e de ser seu melhor amigo. Lá, alisou o afro que deixava seu cabelo avermelhado.
Agora sua identidade era RED. Este vestia-se com ternos amigo-da-onça e sapatos bicolores, no início trabalhava como engraxate nos clubes de dança e vendia pílulas de amortecimento da vida para os frequentadores, depois, adquiriu novas habilidades como jogar cartas e dançar. Se encantou pelo mundo da noite e em uma delas, conhece a Sophia, uma feiticeira má, que com a claridade da sua pele cegava aqueles que não se aceitavam e o faziam vê-la brilhar, então, ele deixa de sair com Laura, uma fada encantada, que após esta decepção deixa que cortem suas asas e entrega-se a qualquer um em troca de não sentir a dor de nunca mais voar…
Começou a fazer ilusionismo com o jogo de cartas, onde só ele ganhava e era iludido nos jogos de azar, vai atuar como motorista para que homens brancos que encontram-se com outras fadas sem asas. Quando a sua ilusão foi descoberta, foi ameaçado de morte, foge do Harlem, local que tanto amava e volta para Boston. Amplia sua técnicas, consegue fazer a mágica de fazer sumir o que tinha valor nas mansões, com a ajuda de Sophia, a sua irmã e dois amigos, que tinham a função de entreter o público, entretanto, foram descobertos e presos. As mulheres, com seu feitiço da claridade conseguiram sentenças bem em inferiores aos homens que todos só viam a escuridão, quem sabe seu maior equívoco foi querer andar sendo a sombra desta luz.
Agora o chamavam por Satã, como diria Racionais “o pesadelo do sistema não tem medo da morte”, na cadeia-escola era temido por todos. Um dia, percebeu que havia um preso que todos respeitavam, não pela violência, este tinha o poder de encantar pelas palavras. Começou a ouvi-lo e admirá-lo, era a primeira vez que via um negro ser escutado.
Seus irmãos conseguiram que ele fosse transferido para outra penitenciária modelo, onde os presos podiam pegar em livros e arma-se de sabedoria, ali conheceria muitos heróis que perderam seu poder para o sistema.O seu irmão veio visitá-lo e falou uma nova doutrina que os dava dignidade e seus adeptos eram chamados de irmãos e fariam parte da Nação do Islã, conhece assim as ideias de Elijah, um orador como o poder de magnetismo e que se disse enviado de Alá, pregando que o homem branco era o demônio e que veio para matar e destruir o homem preto.
De alguma forma aquelas ideias fizeram sentido e ecoaram dentro do seu íntimo. Queria escrever para o “Enviado”, entretanto não achava as palavras. Neste momento descobre o poder ao se abrir um livro…Vai até a biblioteca e transcreve uma página do dicionário, lê incansavelmente até decorar os seus significados, a partir daí passa para outra página. Comitantemente estudava filosofia, história, geografia, tudo que fosse necessário para entender melhor esta nova forma de pensar.. A partir daí, começa a participar dos debates, na escola-cadeia, seria seu treinamento para o que estaria por vir, contudo, nem ele poderia imaginar.
Adotou o sobrenome X, não usaria mais, segundo ele, o nome daquele primeiro que escravizou sua família. Quando saiu encontrou sua missão, mostrar aos outros pretos que tinham que se ergue com orgulho desde a sua cor, cabelos, traços na suas fisionomia porque faziam parte da sua ancestralidade. Muitos não sabiam que a África era um continente, que haviam reis e rainhas e muitas riqueza em suas terras, só sabiam sobre viver em escravidão e servidão.
Nosso anti-herói resolveu se dedicar ao Harlem, resgatar os que como ele, só viam duas saídas, a morte ou a prisão, de qualquer forma viviam presos. Falava de que se ele conseguiu mudar, todos também tinham outro caminho. Este movimento chamou atenção da imprensa e senhor X foi chamado para falar da sua Nação, com o aval do seu Honorável Elijah e mostrou que nos templos haviam treinamento de lutas, estudos sobre seus dogmas, os adeptos não podiam ter vícios, comer carne de porco, entre outras proibições e pregava-se que o homem branco era o demônio, que apenas trouxe o mal. Depois daquele programa passar na televisão o temor instaurou-se, todos achavam que era uma um grupo sendo treinado para revidar…
A partir daí era chamado de porta-voz da Nação do Islã e foi convidado para diversos programas, escolas, universidades para debates e apresentações e eram acompanhados pela imprensa, tudo que ele dizia virava manchete. Em meio a tudo isso, ele casa-se com a heroína Betty X e juntos formam família, ela o apoia incessantemente.
Contudo, o começam a chamar de vilão, afinal ele tinha muita atenção e gerou ciúmes e desconforto em alguns na Nação, até mesmo no Elijah que não consegue mais magnetiza-lo e iludi-lo com suas mentiras e então ele vê que seu mentor de honorável não tinha nada. Após diversas batalhas travadas, o senhor Muhammad, deu um golpe baixo, envia uma nota à imprensa, que às vezes é vilã e às vezes é heroína, e suspende seu porta-voz por três meses,todos sabiam que não teria mais volta. Elle resolve pedir dinheiro emprestado para sua irmã e viaja para Meca conhece o verdadeiro Islã, o do profeta Maomé, os rituais, os significados, as orações e descobre que todas as etnias são tratadas de forma igualitária.
Volta chamando Al Haji Malik Al-Habazz, funda seu próprio templo com os preceitos do Islã conhecido no continente africano, com um discurso diferente, agora aceitava que os alguns brancos podiam ter atitudes reais de bondade para com o povo preto. Em resposta a diversas acusações infundadas do seu declarado rival, Elijah, começa a falar quem este era verdadeiramente. Foi ameaçado e perseguido parecia a história do seu pai, entretanto agora quem o perseguia era os que um dia o diziam seguir. Também descobriu que a inteligência policial, que faz bem um papel de agente duplo, o vigiava de perto, afinal, era o único que poderia comandar um levante de pretos em todo o país.
Nosso personagem foi calado, mas nunca silenciado, em 21 de fevereiro de 1965, com tantos inimigos difícil saber quem o matou, necessário 13 tiros, e até hoje alguns ainda tentam nos alvejar com 80, ou apenas um.
Este foi Malcolm, agora ele era chamado de herói, ídolo, alguém para seguir…Foi um menino amado, adotado, sonhava ser advogado, conheceu e participou do submundo do crime, presidiário e de lá saiu com sua maior vitória, o conhecimento e com este poder advogou pela causa dos pretos. Se hoje muitas pessoas falam de enfrentar o racismo com separação e violência e citam Al Haji, como exemplo, certamente, não conhecem a totalidade de sua história, foi grandioso ao admitir seus equívocos e recomeçou a luta. Parafraseando Emicida: “Citando Malcolm X, sem coragem para lavar uma louça”, se não temos a metade de sua atitude na vida diária de aceitarmos nossos traços, cor e história, como poderemos nos levantar contra o racismo?
Trecho do discurso de Ossie Davis no Funeral:
“Há os que consideram o seu dever, como amigos do povo negro, nos dizer que o rebaixemos. Que fujamos até da presença da sua memória… Que nos salvemos, excluindo-o da história dos nossos tempos turbulentos. E nós sorriremos. Dirão que ele é um fanático e racista odioso, que só pode trazer mal à causa pela qual lutamos. E nós só lhes diremos: “Alguma vez falaram com o irmão Malcolm? Alguma vez lhe tocaram ou ele alguma vez lhes sorriu? Alguma vez realmente o ouviram? Foi alguma vez associado à violência ou a alterações de ordem pública? Se isso tivesse acontecido, conheciam-no.” E, conhecendo, saberiam por que devemos honrar sua memória. Malcolm era a nossa qualidade de homens negros e vivos. Era o que ele significava para o seu povo. E, ao honrá-lo, honraremos o que de melhor há em nós. Por muito grande que fosse o nosso desacordo com ele, ou entre nós por causa dele, ou do seu valor como homem, que a partida dele sirva para nos unir”.
Referências:
Autobiografia de Malcolm X – Com a colaboração de Alex Haley – Editora Diáspora Africana – 2017.
Filme: Malcolm X – Direção: Spike Lee – 1993.