Tata Nkisi Katuvanjesi (Walmir Damasceno) é a primeira liderança de Candomblé reconhecida por uma universidade pública federal no estado de São Paulo
Nascido nos porões do casarão da Fazenda Liberdade, zona rural de Barra do Rocha, no sul da Bahia, em 1963, filho de trabalhadores rurais, Tata Nkisi Katuvanjesi (Walmir Damasceno), liderança do Terreiro Inzo Tumbansi, em Itapecerica da Serra, na grande São Paulo receberá em 10 de maio próximo, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). A cerimônia de outorga será realizada às 10h, no Anfiteatro Marcos Lindenberg, na rua Pedro de Toledo, 697, zona sul da capital paulista.
Aprovada por aclamação, na última reunião do Conselho Universitário da Universidade Federal de São Paulo, ocorrida em novembro de 2023, a indicação do seu nome para a outorga do título se dá pela importância de suas atuações políticas e religiosas. O título é concedido a personalidades eminentes que tenham se destacado nas ciências, nas artes, na cultura, na educação e na defesa dos direitos humanos.
Tata Nkisi Katuvanjesi é líder comunitário, político e religioso, reconhecido nacional e internacionalmente como embaixador e guardião dos saberes africanos. Será o quarto doutor honoris causa da universidade. Integram a lista dos títulos honoríficos entregues pela instituição Davi Kopenawa, Amelinha Teles e Paulo Freire (in memoriam).
A solenidade tem presença confirmada de personalidades do universo africano e afro-brasileiro, a exemplo de sua majestade, o rei Mwatchisenge-wa-Tembo, soberano Lunda Tchokwe, da República de Angola.
“Sua trajetória é marcada por lutas pelos direitos das populações de matriz africanas no país, pela preservação da cultura e dos saberes Bantu no Brasil, na América Latina e Caribe. Tata (Pai, em língua kimbundu), trabalha muito na articulação entre lideranças políticas, religiosas e culturais do Brasil e por isso é chamado e reconhecido como embaixador, com contribuições inestimáveis na aproximação entre os saberes tradicionais de matriz africana e os saberes acadêmicos. Toda essa valiosa trajetória explica a proposição de seu nome para a concessão do título de Doutor honoris causa”, destaca Ana Maria do Espírito Santo Slapnik, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Unifesp, da pró-reitoria de Extensão e Cultura, responsável pela indicação do nome de Tata.
Sobre Tata Katuvanjesi
De origem pobre, Walmir Damasceno (Tata Katuvanjesi) é filho de trabalhadores rurais. Seu pai, João Damasceno, trabalhou na secagem de cacau e sua mãe, Josina Santana, lavadeira de roupas. Sua vida é dedicada à luta pelo reconhecimento, preservação e valorização das culturas de matriz africana e dos saberes tradicionais de origem bantu. Desde a juventude, atua na luta política na defesa da democracia, dos direitos humanos, da luta antirracista, dedicando-se à afirmação, defesa e disseminação dos saberes tradicionais.
Como liderança política e religiosa, dirige o Terreiro Inzo Tumbansi e é representante no Brasil do Centro Internacional de Civilizações Bantu (CICIBA). Tem absorvido para o terreiro conhecimentos a respeito da história e da cultura Bantu, reintroduzindo um processo de re-africanização, de revisão linguística e litúrgica com vistas a uma maior aproximação de suas raízes kongo-angola. Atua também na consolidação e difusão das práticas associadas às tradições Bantu, no Brasil e em outros países da América Latina e África.
Em 1985, ainda em seu estado natal, a Bahia, instituiu o Ilabantu, associação de caráter sociocultural e de fortalecimento político de povos tradicionais de matrizes africanas e de terreiros, cujo enfoque prioritário consiste em promover a manutenção, preservação e formação de agentes multiplicadores dos saberes e fazeres tradicionais das religiões de matriz africana, em especial a de origem Bantu. O Ilabantu tem por missão preservar as culturas tradicionais Bantu, com suas línguas, costumes, saberes e fazeres, modo de vida e a revalorizar os aportes culturais dos africanos e seus descendentes em toda a diáspora, especialmente no Brasil.
Na área acadêmica, cursou Jornalismo, pela Escola de Comunicações e Artes da Bahia, concluindo essa formação em 1985. Foi colunista em vários jornais soteropolitanos, tais como Diário de Notícias, Jornal da Bahia, Tribuna da Bahia, A Tarde e Correio da Bahia. Completou, ainda, outros dois cursos superiores, tornando-se também bacharel em Direito e licenciado em Letras. Atuou como jornalista e ativista na defesa dos direitos coletivos, a serviço dos povos de terreiros, em sua luta pelo direito de existir em uma sociedade assumidamente hostil às tradições de matriz africana.
Vale ressaltar que, em várias oportunidades, Tata Katuvanjesi tem compartilhado seu saber ancestral com estudantes e docentes dos diversos cursos da Unifesp e de várias universidades brasileiras e estrangeiras, ministrando palestras, integrando mesas temáticas em eventos e como docente no curso de extensão Doença e Conhecimento e na Unidade Curricular Encontro de Saberes, promovidos pelo Neab e pela Cátedra Kaapora, de quem é membro do Conselho Consultivo.
Por WALMIR DAMASCENO DOS SANTOS – Taata Nkisi Katuvanjesi
Comunidade Tradicional Centro Africana Inzo Tumbansi Jornalista, Registro Profissional 0091313/SP, Coordenador Geral do ILABANTU – Instituto Latino Americano de Tradições Afro Bantu, Representante Diplomático Responsável para Brasil, América Latina e Caribe do CICIBA Centro Internacional de Civilizações Bantu https://inzotumbansi.org/www.cicibabantu.org
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