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Fundadora do MNU fala sobre os 40 Anos da entidade!

Peço licença poética para repetir os versos do Mestre Poeta Griot Oswaldo Faustino…, que é como me sinto ao receber a homenagem pelos ’40 anos do MNU:

“A pele que habito me identifica a quilômetros de distância e me antecede qual seja a chegada…a pele que visto me alerta tanto para os mais doces amores quanto para os inimigos mais ferozes; a pele que me veste traz muitíssimos outros sinais não detectáveis pela razão, mas fundamentalmente sensíveis secularmente! A pele que eu visto traz no DNA a força das Guerreiras Ancestrais!”

O MNU é a pele que eu habito! Ter feito parte da militância e quadros do MNU me selou com uma marca na testa e na vida, que identifica e delineia meu eterno engajamento na luta pela libertação do povo negro…em qualquer instância!

Eu estava lá…nas escadas do Municipal no ato histórico onde as sementes de um novo tempo na luta pela igualdade do negro foram lançadas.

Também estava lá…Nos idos dos anos 80, no 2º Congresso Feminista da PUC em São Paulo, onde embalada e fortalecida pelas discussões com ‘a mais velha’ Lélia Gonzalez, que denunciava que ‘a autonomia das mulheres brancas, passava pela exploração do trabalho da doméstica, geralmente efetuado pelas mulheres negras’; tive o privilégio histórico de invadir literalmente o plenário, questionando a sistemática ausência de mulheres negras nas mesas das discussões.

Como disse Sonia Leite, naquele momento ‘ houve um impasse e mal-estar, pois não era justificável aquela ausência, a não ser por um não entendimento de que o racismo e o machismo caminham na mesma esteira de opressão”.

Os movimentos feministas não levavam em consideração o fator raça e a partir de então, MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO – SP, através do Grupo de Mulheres Negras inaugurou naquele ato um novo momento valorativo de nossas ações políticas junto ao Movimento Feminista.  Dou graças ao resultado e dele me orgulho !. Incontestável a liderança das Mulheres Negras como agentes fundamentais na reconstrução do país em todos os segmentos.

Estava no 1º Encontro Nacional de Mulheres Negras, em 1989, em Valença – RJ, no VIII Encontro Nacional Feminista em Petrópolis, RJ em 1986, marcos da evolução histórica do ‘mulherio negro’!*

No MNU, tive o privilégio de participar em todas as instâncias, com heroicos irmãos e irmãs, em discussões e reflexões que embasaram o desenvolvimento da consciência negra e da auto determinação de nosso povo.

Discordo do dito popular ‘quem planta tâmaras não colhe tâmaras’…! O MNU plantou e todos estamos colhendo nossos sonhos.

Cotas em todos os níveis, Lei 10639-03, Marcha e Organização Nacional das Mulheres Negras, conceituar racismo e discriminação como crime, Estatuto da Igualdade Racial são algumas das ‘tâmaras’ conquistadas nos últimos 40 anos, que legitimam o papel único do MNU na luta contra o Racismo.

E nesse momento histórico, sou grata ao MNU que semeou na minha alma o amor pelo Direito, projeto pessoal que concluí com orgulho e honra e humildade, dedicando o trabalho na defesa dos direitos arduamente conquistados pela classe social a que pertence a maioria do povo negro!

Ainda falta muito…somos muitos quando juntos! Desconstruir o racismo estrutural dá trabalho!

Enquanto Operadora de Direito, o mote é a transformação dos cursos de Ciências Jurídicas, no sentido de que a questão racial seja implementada não só na disciplina Direitos Humanos, mas que sejam analisados os impactos do racismo estrutural que permeia também as demandas trabalhistas, tributárias, administrativas e penais do povo negro.

Notório inclusive, que o despreparo dos profissionais que lidam com nossa população a nível policial e judicial têm sido responsável pelo alto índice da população negra encarcerada, e ao genocídio sistemático.

Falta mais.. Uma mobilização de fato, para que o HC coletivo que permite às mulheres mães o benefício de cumprir pena em casa, seja de fato aplicado as 29.000 mulheres negras encarceradas. Falta uma sensibilização e engajamento das instituições para o pleno cumprimento do benefício …’tratando igual os desiguais.”

Por fim…falta o direito à uma investigação certeira e ágil, com diligências  científicas em casos de assassinatos como da Guerreira Marielle Franco e todos..! “Não passarão”!

 Mas não falta ao MNU espírito https://web.facebook.com/jornalempoderado/?_rdc=1&_rdrde luta, compromisso com a responsabilidade histórica e quiçá mundial de transformação e libertação rumo à igualdade, engajamento de alma e ‘fé na vida’.

Grata e feliz pela ‘homenagem em vida’ reafirmo as palavras de Sonia Leite**, que levo como mantra da luta…’Vale a pena acreditar que a luta racial junto com a luta contra o machismo, capitalismo e patriarcado, transforma!”.

                                                                   Longa Vida ao MNU

                                                             Tempos Negros…virão!

                                                         

 

* ‘mulherio negro’..era assim que carinhosamente, Lélia Gonzales nos chamava.

**(militante petista do Movimento Negro Brasileiro, fundadora da Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras no Estado de São Paulo, e uma das fundadoras da Marcha Mundial das Mulheres, no texto ” Reflexões com Mulheres Jovens do PT: O Feminismo é uma Prática, organizado por Fernanda Papa e Flávio Jorge (Fundação F.Ebert e F. Perseu Abramo)1958-2012

 

Por   Lenny Blue de Oliveira – Ativista Feminista, Advogada, Monitora da Prática de Tai Chi Pai Lin

NOTA

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5 respostas

  1. Maravilhosa entrevista!
    Para além da alegria em receber a merecida homenagem, trouxe a partir de sua história, relatos que narram a importante história do MNU.
    Guerreira Blue, gratidão!

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