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Frente de Luta por Moradia faz ato contra reintegração de posse

 

 

Ontem de manhã aconteceu o ato, no prédio da avenida São João, o Martinelli, contra a reintegração agendada para o dia 6 de maio. A nossa nova colaboradora Gislane Lana   mandou seu primeiro texto sobre o ato em prol das famílias que há oito anos lutam por moradia e dignidade. Já existe um processo de compra do prédio com verba aprovada no orçamento 2018 e ação ganha no Ministério Público para o atendimento das famílias. Mas mesmo assim, o juiz não suspendeu a reintegração.

Nosso nome atual na sociedade é “SEM-TETO”. Mas saibam que assim sempre foi, pois somos fruto da ganância que acontece desde a época das cavernas, passando pelo período feudal e chegando até os dias de hoje. Esses herdeiros destas sociedades ainda dominam grandes porções de terra, tanto na área rural, quanto em áreas urbanas, terrenos e prédios sem função social.

Nos apresentamos na sociedade de várias maneiras, famílias diferentes sendo solteiro ou solteira, idoso ou idosa, pessoas com deficiência de vários tipos, casal hétero ou homoafetivo e também a nossa grande maioria casais com crianças, muitas crianças. Nós nos apresentamos em várias categorias, assim como em qualquer outro grupo. Nosso movimento nasceu dos sem-terra, pois assim como no campo também a divisão de espaços não é justa na cidade grande, principalmente no centro de São Paulo.

Viemos de muito longe. Há anos migramos de todo o país, viemos de outro país e também nascidos aqui mesmo, descendentes destes migrantes, hoje nós ainda SEM TETO estamos em várias áreas da cidade. De onde viemos não tinha hospitais, trabalho, escola e muito menos lazer. O acesso à cultura também foi esquecido quando fomos expulsos para as áreas periféricas.

Lutamos juntos, pois apesar de trabalharmos incessantemente e vermos nossos pais e familiares trabalharem, muitos deles não conseguiram conquistar sua moradia, escola e lazer. Nós nos unimos, porque somos famílias que temos algo em comum, TRABALHADORES DE BAIXA RENDA. Nos revolta ver todos os dias nossos pais e avós envelhecerem, morrer sem teto e sabermos que isso também pode acontecer com nossas CRIANÇAS. E para que elas não tenham o mesmo destino neste sistema da sociedade atual, fazemos nossa LUTA.

Nos organizamos por meio de reuniões quinzenais, compartilhamos informações de como está o processo de negociação junto aos órgãos competentes. Destas reuniões saem também as necessidades:  famílias que precisam de moradia imediata, pois mesmo trabalhando não estão conseguindo pagar aluguel, ou não se consegue viver na casa de algum parente ou amigo de favor, e também famílias que já estão com ordens de despejo.

Hoje no centro da cidade existem inúmeros imóveis abandonados sem FUNÇÃO SOCIAL. Nós trabalhadores de baixa renda não podemos trabalhar nestes imóveis, NÃO tem fábrica, NÃO existe nele um comércio e também NÃO existem seres humanos morando, quem habitava estes eram cadáveres, e as vezes, urina, e filhotes de ratos e pombos, e baratas. Estes lugares estão fechados para aumentar o valor do imóvel, alguns, por exemplo, que estão há cinco anos fechados já valem mais que o dobro, pois o valor do metro quadrado só aumenta no centro de São Paulo.

Diante destes espaços e a necessidade OCUPAMOS por DIREITO o nosso teto provisório, Não temos lugar para esperar o nosso direito à moradia, somos inúmeros e não temos para onde ir. Quando chegamos nestes imóveis encontramos muita sujeira de pombo e ratos, entulho e danos. Para que o imóvel volte a funcionar, a primeira coisa a fazer é a limpeza do local –  nos organizamos e decidimos questões como regimento interno como, por exemplo, barulho permitido somente até as 22h. Iniciamos as tarefas para limpeza do local através de mutirões e os cuidados do prédio, inclusive com a portaria. É muito importante, por isso existe um revezamento dos moradores do local, doações e contribuição para ajuda do funcionamento do prédio como a ligação da energia e a recuperação do encanamento.

Melhoramos a cidade quando estamos morando aqui, não nos amontoamos em um só lugar, existem vários imóveis SEM FUNÇÃO SOCIAL, os comércios se beneficiam, pois podemos trabalhar e também consumir. Isto faz com que aumente o número de mercearias pequenas, os postos de saúde podem nos visitar e acompanhar o tratamento dentro de um teto, os vizinhos que já moravam podem comprovar menos insetos e pragas como ratos e pombos, e também o aumento da coleta seletiva do lixo.

A vida de inúmeras famílias que não tinha sequer onde ir e por consequência de não ter TETO perdia até seu emprego, hoje tem oportunidade de morar onde existe escola e universidade próximos, hospitais e trabalho perto. Isso faz com que não perdemos horas para ir e voltar do trabalho e existe a oportunidade de fazer cursos de capacitação, como vários companheiros já fizeram. As crianças não tem que perder escola devido à proximidade, além da possibilidade de acompanhamento dos estudos com os pais. Existe posto de saúde e hospitais onde podemos fazer exames e tratamento médico mais qualificados. Nós nos estimulamos e temos atividades culturais como teatro, cinema e aula de esporte toda semana para crianças proporcionando uma vida cultural mais ampla dentro das ocupações. Existem parques ao entorno onde podemos passear e ter lazer para crianças, jovens e idosos.

Morar em um prédio ocupado no centro de São Paulo não nos traz sossego. Enquanto estamos nestes imóveis nossas lideranças estão em negociações para termos nossa moradia digna e definitiva, além de sempre nos reunirmos em assembleias ordinárias e extraordinárias para trocar informações. Vamos para RUA protestar o nosso DIREITO, participamos das últimas conquistas como a posse de lideranças no CONSELHO MUNICIPAL DE HABITAÇÃO e a assinatura do PLANO DIRETOR.

Somos muitos companheiros sem teto, alguns que começaram antes já estão com seu teto. O atendimento que com esta luta foi conquistado, uma moradia popular digna e definitiva que mesmo com baixa renda consegue pagar as prestações. Há outros companheiros lutando pelo direito, nos unimos e fazemos nossa luta no coletivo, desde organizar nosso espaço interno e os ATOS nas ruas. Temos orgulho de ser sem-teto, pois sabemos que nosso direito junto será conquistado.

Sozinho e individual não conseguiríamos nem chegar à porta da Prefeitura para falar com o prefeito sobre esse direito. Até grades no entorno da porta existem, porém em um grupo organizado e unido temo resultados, acordos que serão cumpridos. Vamos morar onde também temos serviços para nossa sobrevivência, como equipamentos de saúde, trabalho, educação e também acesso ao lazer e a à cultura também. Esse direito será conquistado pela nossa LUTA.

 

 

NOTA

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