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FAKE NEWS COMO LIDAR?

Quem nunca repassou uma fake news ou um boato? Quem nunca se assustou com uma “notícia” que viu no em alguma rede social e depois descobriu que não era verdade?

No Brasil e no mundo o assunto tem sido discutido incansavelmente. Comissões vêm sendo criadas, leis vêm sendo sugeridas, estudos feitos, mas o fenômeno continua e não se sabe bem como lidar com ele. A solução passaria por leis e repressão, por filtros e check fact ou pelo leitor?

Quando veio a tona que nas eleições de Donald Trump as fake news poderiam ter influenciado os resultados e que elas tinham sido usadas intencionalmente com este propósito, discussões surgiram em todas as esferas.

 

Mas então como lidar com as fake news?

Isto não é uma pergunta fácil de ser respondida, a começar pelo conceito de verdade, quem é o dono da verdade, e quem tem autonomia para julgar a verdade. Na própria academia, o conceito de fake news é incerto. Um grupo de pesquisadores da Universidade Singapura estudou 34 artigos acadêmicos em busca de uma definição, e encontraram um conjunto complexo de práticas que de uma forma ou outra podem ser entendidas como fake news tais como: sátiras, paródias, notícias fabricadas, manipulações fotográficas, certas publicidades e propaganda no sentido de prática política.

Um estudo publicado pelo Conselho da Europa em Setembro de 2017, termina com um conjunto de 35 recomendações para setores distintos como Empresas de Tecnologia, Governos, Organizações de mídia, Sociedade Civil, Ministérios da Educação, e até para organizações que financiam pesquisas.

Citando algumas, para empresas de tecnologia como o Facebook, Google e outros, o primeiro passo é a criação de um conselho consultivo internacional para coordenar as diversas disciplinas relacionadas ao que os autores chamam de desordem informacional, dentre outras recomendações, impedir que sites relacionados aos contextos em destaque como site de política em período eleitoral, tenha rendas com publicidade.

Já para os governos eles recomendam práticas legislativas apenas com relação à regulamentação de publicidade online, requerer transparência e parceria de sites como o Facebook, Google e outros, também recomenda a criação de uma comissão de pesquisa para mapear a desordem informacional no país.

Para as Organizações de mídia, os autores recomendam colaboração com as empresas de checagem, estabelecimento de rígidas normas éticas, aumentar o cuidado com os títulos das matérias e evitar não só a publicação de conteúdo fabricado, como caracterizar de forma inquestionável conteúdos que forme informes publicitários.

Para a sociedade civil, os autores recomendam que sejam educados a respeito dos riscos da desordem informacional, incluindo práticas mínimas de checagem. Quanto aos Ministérios da Educação, os autores recomendam que trabalhem através de uma integração internacional para produzir padrões de competência crítica em informação voltada para notícias, incluindo valorização e aproximação com as bibliotecas, e mudanças no currículo dos cursos de jornalismo para incluir práticas de checagem e boas práticas para evitar a desordem informacional.

Por fim, para as organizações  que financiam pesquisas recomendam que estas apoiem mais projetos relacionados ao suporte tecnológico para tratar da desordem informacional e programas que fomente a educação para o desenvolvimento de competências críticas na pesquisa e informação.

Seria interessante que um grupo de pesquisadores Braslleiros em conjunto com os pesquisadores do estudo do Conselho da Europa desenvolvessem uma versão do Estudo para a realidade brasileira, que tem algumas particularidades. Por exemplo, para Yasodara Cordova, brasileira e atualmente research fellow na Universidade de Harvard, no Brasil temos a prática do “Zero Rating” como principal problema na disseminação de Fake News dentro das classes populares.  O Zero Rating, é o nome técnico dado à prática das operadoras de telefonia celular de oferecerem acesso à aplicativos tais como o WhastApp e Facebook, sem debitar dos créditos de dados. Por conta disto, o usuário raramente checa a informação, permanecendo dentro das redes que têm acesso gratuito.

Proteção ou censura?,

Na obra de ficção 1984, de George Orwell, existia o Ministério da Verdade, que controlava toda informação que os cidadãos da “Europa” – um país continental fictício – poderiam saber. Este controle se dava inclusive pelo apagamento de notícias e registros dos quais não era desejável o conhecimento público.

Não é só apagando notícias que o controle se dá. O excesso de notícias que se atropelam também causam um efeito de esquecimento ou embotamento, muitas vezes, em fatos relevantes. A superinformação é o maior mecanismo de censura na democracia de acordo com o autor Pascual Serrano em seu livro “Desinformação”.

Criar leis e punições para quem cria ou propaga fake news, pode ser uma solução perigosa. Se por um lado pode funcionar para reprimir a produção das fake news, por outro pode acabar facilitando a censura e perseguição de jornalistas, se estendendo a qualquer pessoa.

No artigo de João Carlos Caribé, intitulado  “Uma perspectiva rizomática da narrativa do combate às fake news no Brasil”, o pesquisador destaca que:

Para combater esta séria ameaça o Ministro Fux, que assumirá o TSE em Fevereiro de 2018, acredita ser necessário até bloqueio de bens e detenção de quem produzir e disseminar fake news(4). Já para a Polícia Federal, nas palavras do delegado Eugênio Ricas, poderá ser necessário usar a Lei de Segurança Nacional, editada em 1983, no último governo do regime militar, para coibir as chamadas fake news nas eleições deste ano caso não seja criada uma nova lei para combate-las(5).”

Certamente o apagamento das fake news não são a solução do problema. Primeiro porque a velocidade com que qualquer informação circula hoje é tão grande que não seria possível cercear as fake news antes que elas circulassem e já causassem alguma influência. Segundo porque um processo longo de prova e punição de quem gerou as fake news não apagariam o estrago já feito. Terceiro porque, se as fake news ameaçam a verdade e a democracia na medida que influenciam e manipulam opiniões, a criminalização delas abre as portas para acusações falsas que podem pousar sobre notícias, informações, jornalistas e até de cidadãos comuns, que seriam censurados, perseguidos e calados o que também fere a democracia. Além disso, criminalizar quem dissemina fake news é um caminho assustador para o indivíduo comum. Mais ainda assustador a mera citação da Lei de Segurança Nacional.

Sem minimizar o problema das fake news e dos boatos, que é realmente sério, é preciso pensar em soluções que possam inibir as fake news através da falta de credibilidade e da desconfiança, ou seja, é o leitor que, não propagando ou desacreditando a fake news que vai matá-la de inanição, ou ao menos deixá-la desnutrida a ponto de não ser mais interessante muito menos rentável. Matar o lobo mau de inanição.

Anna Brisola com colaboração de João Carlos Caribé.
Links para as notícias citadas:
2 https://noticias.r7.com/prisma/coluna-do-fraga/fake-news-passaram-a-ser-uma-das-maiores-ameacas-a-democracia-diz-senador-08012018
3 https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/12/12/quem-divulga-noticia-falsa-comete-crime-de-difamacao-diz-senador-sobre-fake-news.htm
https://oglobo.globo.com/brasil/contra-fake-news-fux-preve-ate-mesmo-bloqueio-de-bens-detencao-22206756
https://oglobo.globo.com/brasil/pf-cogita-uso-de-lei-da-ditadura-para-coibir-fake-news-nas-eleicoes-22257120

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