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Esporte e Educação: Jogos Olímpicos e “Escola sem partido”

A cerimônia de abertura desses eventos promove, obviamente, o país anfitrião ao enfatizar o processo de desenvolvimento econômico e tecnológico e de transformação cultural ao longo da história conhecida. Foi assim em Londres, Pequim, Atenas, Sydney, Atlanta…. No Brasil, a festa foi muito elogiada pela opinião pública internacional e nacional. Um verdadeiro sucesso de visibilidade onde até mesmo os mais céticos e críticos, se orgulharam.

Os Jogos Olímpicos no Brasil marca mais um importante componente do processo de globalização. A expectativa é de alcançar mais de cinco bilhões de telespectadores, transmissão em Full HD para mais de duzentos e vinte países. O evento mais importante do Planeta possui, evidentemente, diversos interesses, dentre eles, econômicos, políticos, ideológicos, de marketing e militares, só para citar alguns. A temática política predominou por muito tempo, principalmente no contexto da Guerra Fria, por mais de cinco edições das festividades. Pensar e exteriorizar a política em momentos de confraternização não é um ato inoportuno nem deselegante, pelo contrário, essas temáticas podem contribuir para nossos estudantes, crianças, jovens e adultos, conhecerem melhor o mundo para se posicionarem frente a ele.

Mas afinal de contas, houve algum tipo de mensagem política na cerimônia de abertura no Rio? Foi orquestrado por quais personagens? Provavelmente elas possuem orientações políticas, partidárias ou não. Podem ter orientações conservadoras, progressistas, centralizadoras, liberais, esquerdistas, “coxinhas”, “mortadelas”, etc. Podemos considerar, anda, que a trajetória de formação dos realizadores podem ter influencias ideológicas diversas: marxista, fascista, apoiados por movimentos sociais populista, sexista, feminista, comunidades GLBT, religiosas – cristãos católicos ou evangélicos etc. Todos nós possuímos alguma formação ideológica para muito além dos partidos políticos, isso é inegável.

Um (a) cidadão (ã) comum, convicto (a) de sua preferencia ideológica conservadora, ao assistir a entrada dos representantes das delegações, de bicicletas, logo pensaria que isso é coisa do Haddad. Outro (a) cidadão (ã) poderia fazer referências às pedaladas fiscais. A surpresa maior foi, com certeza, a entrada da delegação brasileira, representada pela modelo transexual Lea T., filha do ex-jogador de futebol Toninho Cerezo, um dos grandes jogadores da Seleção Brasileira de futebol, de 1982 (imaginem se fosse filha do Dr.Sócrates Brasileiro! Logo diriam que foi de propósito, para enaltecer o movimento da Democracia Corintiana e movimentos sociais libertários). O fato é que ambos (as) não conhecem nada sobre temática ambiental.

Assuntos relacionados à defesa dos direitos humanos, das diversidades de gênero, orientação sexual e etnias (afros, migrantes e indígenas) não é o forte dos governos situacionistas, conservadores. Mas esses tiveram que assistir a linda homenagem às delegações de Refugiados, a presença da temática indígena, imigrante e afro, fortemente representadas naquela noite, para todo o Planeta.
Afinal, como um governo, defensor e defendido pelas elites urbanas, empresariais, de novos cristãos, do agronegócio, etc., pode fazer uma festa que enaltece a história dos vencidos, dando-os a possibilidade de reconhecimento? Não houve tempo hábil, provavelmente, para mudar o longo roteiro das temáticas do evento, cuidadosamente elaborada pelo governo anterior.

Fico a pensar o evento transmitido pela TV na cabeça de nossas crianças brasileiras, uma vez que o aprendizado é retido pela mente e alcançado pelo poder que a imagem tem. Essas crianças, mesmo não tendo a capacidade de compreender o contexto em sua real magnitude, em virtude do aprendizado ocorrer de acordo com a maturação, como diz Piajet, entretanto, como mencionado, a imagem é como magia que adentra a superfície do cérebro e lá são armazenadas na disposição de informação. Mais adiante essas informações servirão para a elaboração do pensamento dada pela ação do sujeito em harmonia com aprendizado. Nisso tudo, o papel do (a) educador (a) é fundamental para construir e desconstruir diversas ideias, sem, no entanto, ser partidário ou doutrinador. Esse é um importante momento para apresentarmos, então, o resultado final esperado, melhor representado pelo quadro de medalhas, com informações detalhadas sobre os dados geográficos dos primeiros colocados.

As informações contidas na tabela podem ser reveladoras. Reforça a hegemonia de um grupo seleto de países que aparecem como potência econômica e consequentemente, esportiva. Dos duzentos e seis países participantes, apenas setenta e oito conseguiram pelo menos uma medalha. Cento e vinte e oito países empataram em zero a zero, localizados no continente africano, Ásia continental e insular, Oriente Médio e alguns, nas periferias da Europa e Américas. A maioria possui sérios problemas de dominação, guerras e conflitos pretéritos e recentes, além do fato de serem colônias dos países metropolitanos, dos séculos XVI ao XX. Atualmente, as possibilidades de desenvolvimento de um ser humano nesses países são sofríveis. Se uma criança tivesse a sorte de escolher a nação onde pudesse nascer, com certeza não indicaria nenhum desses países.

A relação entre Índice de Desenvolvimento Humano e renda per capita pode ser um bom indicador de sucesso no desempenho esportivo dos países, mas só essas informações não são suficientes. A desenvoltura no atletismo, por exemplo, colocou Quênia e Jamaica ao lado de Espanha e Nova Zelândia no quadro de medalhas. Noruega e Finlândia, primeiras colocadas mundiais em qualidade de vida (IDH) são decepções no quadro de medalhas.
Oportunizar o estudo do desempenho esportivo dos países, acrescidos pelos dados geográficos, exige uma interpretação sistêmica cuidadosa, contribui em muito para pensarmos além das exceções. Nesse sentido, a escola precisa colocar as informações, colher opiniões dos alunos, orientar pesquisas coletivas para chegarmos às conclusões plausíveis e na maioria das vezes, o bom desempenho de uma nação depende de empenho e determinação política, em todos os aspectos. A discussão política está, portanto, contida em todo assunto, seja ele qual for.

As cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos no Brasil evidenciam escolhas políticas. A construção do Brasil enquanto nação no mundo não se constituiu como realidade histórica unitária e sim, na sua diversidade. Reconhecer e valorizar isso foi mostrar para o mundo que as nossas origens é diversificada e isso pode nos fortalecer, vai para além de encorajamentos, reforça as possibilidades de empoderamento de muitos movimentos sociais organizados pelas periferias do país. Para tal, fazem-se necessários espaços escolares reflexivos, onde a discussão política de quaisquer assuntos seja permeada pelo debate democrático. Os idealizadores da “Escola sem partido” sabem muito bem do que a escola reflexiva é capaz.

Eliseu é Professor na SMESP atua como Professor Orientador de Informática Educativa na Emef Dr. Sócrates Brasileiro e professor de Geografia na Emef Leonardo Villas Boas, trabalhou como Professor na Secretaria da Eduação do Estado de São Paulo SEESP, desenvolveu trabalhos como Assessor pedagógico na Urihi Saúde Yanomami atuando como alfabetizador na língua materna yanomami. Estudou Bacharelado e Licenciatura em Geografia na instituição de ensino FFLCH – USP e Graduação em Pedagogia, pela mesma instituição.

NOTA

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2 respostas

  1. Meu caro Elizeu!
    Em alguns parágrafos, você conseguiu , com maestria e originalidade, relacionar evento de tamanha magnitude (As Olimpíadas) com aspectos fundamentais do nosso momento sócio-político atual, ininteligível para muitos. Parabéns!

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