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ERRANTE, NÃO! TENHO PASSADO, PRESENTE E CONTINUIDADE.

Todo leitor deveria ter direito a ver um rascunho antes da publicação oficial, um solo fértil germinando várias idéias, conflitos, discordâncias, vários pensamentos e eis que nasce, o esforço é enorme, pelo menos para mim, Fabiana Silva. É um caso de amor jovem, intenso, delicado e vigoroso, consigo chegar ao êxtase e à exaustão mental. Tem pessoas que desvalorizam, talvez pelo fato de parecer fácil, escrever sobre o passado, presente e a continuidade.

A matéria CORPOS QUE TRANSITAM, começa assim: “Se existem dois momentos em que paramos para pensar em retrospectiva, fazer um balanço do que foi e do que está por vir, eles são os aniversários e as viradas de ano”. Desta vez, estamos dentro do contexto, aniversário.

Adoro aniversários. Meu, da família, dos amigos, dentre outros. Mas o parabéns vai pro Jornal Empoderado, mais um ano de vida. Espero sempre com ansiedade, cantar os parabéns, pois um ciclo termina e outro se inicia, os planos começam muito antes, até chegar à pauta desta matéria, óbvio, falaremos da passarela armada por onde desfilamos.

A ideia não é antecipar as tendências dos próximos dois anos,  não é lhe entregar um dossiê criativo e a cartela de cores ou lhe adiantar propostas que serão utilizadas nas próximas temporadas. Os estilistas já não produzem somente roupas para vestir, mas criam, a partir de códigos da própria moda, trajes repletos de mensagens, atitudes, conceitos que alargam os sentidos do que é o ato primordial do paraíso perdido: cobrir-se. Não nos limitemos a pensar para que serve a moda, a quem serve e com quem ela estabelece seu diálogo hoje.

Não se trata de inventar a pólvora, mas de alinhar e refletir sobre a geografia do corpo, onde a pele chega primeiro. Porque quando se fala da diáspora africana no Brasil, reflete a ideia de que os negros da diáspora são oriundos de um continente sem história antes do tráfico, ou seja, sua história começa com o tráfico, a escravidão e a colonização.

Releio a matéria “PENSAR ÁFRICA” e transcrevo : ” Não é possível falar sobre qualquer aspecto da história e da existência da população negra em suas várias facetas sem lembrar que a população negra que hoje caminha sobre a terra carrega, ainda, um fardo histórico que reverbera sobre o seu passado, o seu presente e o seu futuro e demarca os seus lugares e a sua possibilidade de ser e estar no mundo”.

No entanto, a história da África tem passado, presente e continuidade, temos memórias daqueles que antes de nós vieram e continuarão para além de nós. Os grandes oráculos – google e o dicionário de Língua Portuguesa definem errante como aquele ser que vaga, um nômade sem destino e, ainda, que se desvia do caminho da sensatez, do bom senso. Para o antropólogo Kabengele Munanga, atuante na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia das Populações Afro-Brasileiras, a historiografia tradicional quer transformar o negro num ser errante, “um povo sem história, isto é, sem passado, presente e futuro”. Pedimos um basta, não só pelo fim da morte do corpo físico, mas pelo fim da morte das nossas idéias e ideais. Como não falar desse momento, onde o dado foi lançado e determinou nosso deslocamento no tabuleiro, nos dando a sensação de que caímos numa casa, que nos mandou 40 casas para trás.

Segundo o antropólogo, Kabengele Munanga, para que a Lei 10.639/2003 seja cumprida integralmente, é preciso que a historiografia inclua a versão dos negros, já que o olhar eurocêntrico educou os próprios educadores e o imaginário coletivo. O negro não veio da África, ele foi deportado; ele não influenciou a cultura brasileira, ele trouxe cultura e fez cultura junto com as demais etnias.

Independentemente da mensagem que queremos passar com o que vestimos, ela chega ao nosso interlocutor através das referências dele. Criamos um canal de diálogo único onde a moda é usada como ferramenta de ação e comunicação social. A moda não apenas veste, mas fala da ancestralidade, afirma e contesta, além de ser uma fofoqueira porque mesmo que fechemos a boca ou os olhos, ela continua falando e falando e falando uma série de coisas para os nossos interlocutores.

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A roupa, uma extensão do corpo, acompanha nossas transições de personalidade, humor, valores, identidade e é usando-a como ferramenta, consciente ou inconscientemente, que declaramos a que grupo pertencemos dentro da sociedade. Hoje as possibilidades que a roupa representa são infinitas. Quando nos vestimos, colocamos sobre nossa pele mais do que tecido, colocamos um conjunto de símbolos que demonstra um modelo econômico, um momento histórico, uma história individual e como construímos nossa individualidade através deles.

Resultado de imagem para corpos negros na passarela

Estamos  exaustos e vivenciando um empobrecimento onde falas interrompidas, discursos rasos, deslegitimação, exclusão dos espaços de decisão e perseguições. Ao tal ponto que era comum pensar que toda pessoa negra era escrava até que se provasse livre. Falamos das ondas migratórias como inclusão, racismo, representatividade, tolerância, onde os problemas, as histórias, os entraves são os mesmos, apenas mudou-se o contexto.

Quando interrompem nossa fala alegando que poderemos nós manifestar em momento oportuno, estão reproduzindo mais um ato de violência, este se expressa de maneira gritante na sociedade. O que querem nós dizer, é que não podemos falar ou, quando puder, será porque nós foi concedida a palavra. É preciso lembrar que aqueles que ocupam e sempre ocuparam o poder não estão dispostos a abrir mão de seu lugar. Portanto, a fala não será concedida de bom grado e será sempre o objeto de constante disputa.

A moda e política se unem e se repelem quando convém. A disparidade na política e na moda, não é um fato isolado, mas reflexo de uma desigualdade, que exclui certos grupos e perpetua outros.

A consultora de estilo Paloma GS Botelho, relata que durante um curso – “A moda como estratégia de visibilidade étnico-racial”, ao ser questionada de como seria possível contribuir para reverter a situação da invisibilidade negra no mundo da moda, respondeu: “Contratando profissionais negros para atuarem no mercado. Somos diversos em ideias, pensamentos e capacitações para ocuparmos tais lugares. Até mesmo porque a moda sempre se apropriou das culturas africanas e afrobrasileiras sem nos dar os devidos méritos por isso. Enquanto a nossa história continuar sendo contada por pessoas não negras, a nossa ausência em toda a cadeia profissional do mercado da moda continuará sendo uma problemática, pois existem memórias e particularidades das nossas histórias conhecidas somente por nós”. E foi além, “quando falo da representatividade do corpo negro, não visualizo somente a passarela e o chão de fábrica, incluo também, produtor, consultor, stylist, pesquisador, criativo, jornalista, educador etc”.

NOTA

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