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Entrevistamos o artista João Nascimento, da Cia Treme Terra!

Empoderado conversou com João Nascimento criador, diretor e músico da Cia Treme Terra de dança que convocou os orixás para discutir racismo em peça inspirada na obra de Frantz Fanon: “Pele Negra, Máscaras Brancas (2016)”, no Sesc, de Santos (SP). 

Jornal Empoderado – Como nasce a companhia?
A Cia Treme Terra nasce em 2006 no Morro do Querosene, em 2009 resolvemos atuar mais pra dentro da quebrada e fomos para o Rio Pequeno, região onde nos encontramos alojados até hoje.

Jornal Empoderado – Quantos espetaculos vcs ja realizaram?
Nós já realizamos 04 espetáculos:
“Cultura de Resistência” produzido em 2009; o “Terreiro Urbano” que teve estreia em 2011, o “Pele Negra, Máscaras Brancas” criado em 2016; e o mais recente chamado “Anonimato – Orikís aos Mitos Pessoais Desaparecidos” o qual estreiamos em 2018.

Jornal Empoderado – Como, por que e quando vc inicia no mundo artístico?
Eu nasci em uma família de artistas, meu pai (Dinho Nascimento) é músico e Eu desde minha infância sempre acompanhava os seus ensaios, seus processos criativos na sala, suas composições e shows. Em minha casa no Morro do Querosene, há 36 anos acontecem anualmente uma festa de Carurú, em celebração aos Ibejis, então, as Engomas, as movimentações de capoeira, de samba de roda, as danças, os toques sempre fizeram parte do nosso imaginário das nossas vivências, memórias que hoje também podem servir de inspirações e referências para as nossas criações.

Jornal Empoderado – Quem é o João?  
Eu tenho 36 anos e nasci no Morro do Querosene, no entanto, há mais de 10 anos estou morando na região do Rio Pequeno.

Jornal Empoderado – Qual o perfil das pessoas que compoem a companhia? E quantas sao?
A Cia Treme Terra é formada por maioria negra. Uma média de 15 pessoas, entre músicos e artistas da dança. Grande parte são jovens formados nas oficinas que a própria companhia oferece na comunidade, existem também profissionais que advém de outras regiões com suas expertises e vivências que somam ao grupo.

Jornal Empoderado – Fale da sua última peça sobre o Fanon.
O espetáculo “Pele Negra Máscaras Brancas” é inspirado no livro homônimo de Frantz Fanon, inscrito em 1952. Em 2016 nós criamos esse espetáculo baseado em estudos sobre as relações étnico-raciais no Brasil entrelaçado com experiências pessoais relatadas em depoimentos pelos artistas do elenco. Neste trabalho, o livro é utilizado como principal material disparador para as composições coreográficas e musicais, as cenas foram construídas pensando os diversos processos de violência gerado pelo racismo diante da uma visão patalógica abordada por Frantz Fanon, imbricada aos rituais de cura associados ao universo mitológico dos orixás e ambientes de terreiros de candomblé. O processo criativo é coletivo, as dançarinas e dançarinos da Cia contribuem muito para compor cada cena. A direção do trabalho é assinada por mim e Firmino Pitanga.

Jornal Empoderado –  Qual o próximo trabalho?
Estamos pensando em algumas temáticas que ainda não podemos revelar, no entanto, acreditamos que faremos algo que dê continuidade na pesquisa estética, política e poética em dança negra contemporânea e sonora que a Cia vem desenvolvendo desde 2006.

Jornal Empoderado –  Durante a peça sobre o Fanon você citou um CD de música. Fale sobre ele.
Em 2016 nós produzimos nosso segundo álbum musical chamado “Terreiro Urbano”. Um disco com canções que retratam o universo mitológico dos orixás, em uma roupagem sonora que mistura os timbres dos tambores, com instrumentos de sopro, cordas e instrumentos eletrônicos. O CD é composto por canções autorais e de domínio público recolhidas de terreiros de candomblé.

Jornal Empoderado –  Como é fazer arte no atual momento do país?
Existe a arte conformista que é aquela acomodada nos formatos e modos de produção manobradas pela indústria cultural; e existe a arte subversiva, que propõe a quebra de paradigmas, uma ruptura nos padrões eurocentrados, que propicia reflexões profundas no modo de vida como a sociedade está organizada, essa arte também pode ter a função de denunciar violências sociais, de tirar o véu da ignorância ou até mesmo fortalecer a auto-estima de pessoas e culturas que são oprimidas cotidianamente na história de um Brasil escravocrata e colonialista. Venho percebendo que fazer arte libertária no atual momento do país, se tornou uma profissão de risco.

Jornal Empoderado –  Saiu um Ministro da Cultura que citou o nazismo, mas o Edital da Cultura deste governo ainda se mantém fieis aos ideiais conservadores. Isso te assusta? Ou para você a arte sempre foi resistência?

O que me assusta é o projeto governamental enviesado no extermínio, no genocídio, principalmente das memórias simbólicas atreladas as práticas culturais de matrizes negras, indígenas, quilombolas, identidade de gênero, bem como, as culturas caracterizadas em ideias libertárias que divergem do atual governo. O Alvim escancarou o pensamento nazista que está por detrás do projeto político do presidente, um discurso que muito se assemelha ao conteúdo proferido em campanha pelo próprio Bolsonaro no Clube Hebraica para a comunidade judaica: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais.” Lembram? Dito isso, ninguém foi exonerado, muito pelo contrário, o Brasil elege um racista que vai institucionalizar o racismo em todas as esferas do poder e isso inclui até mesmo quem achava que estava de fora desses grupos étnicos, culturais e sociais, como os próprios Judeus que agora vivem o drama de um retorno a era nazista.

Fotos: Joao Nascimento e Gabriel Soares

Ficha técnica do espetáculo “Pele Negra, Máscaras Brancas (2016)”
Direção geral e musical: João Nascimento
Direção coreográfica: Firmino Pitanga
Cenário digital: Achiles Luciano
Cenário: Julio Dojcsar
Figurino: Silvana Marcondes
Produção executiva: Fernanda Rodrigues
Produção operacional: Alexandre Alves e Pedro Henrique Dos Santos

Elenco em cena: Terená Bueno Kanouté, Thiago Dos Santos Bilieri, Luciano Virgilio, Tito Nascimento, Tiago Ferraz, Tamiris Zaco, João Nascimento, Pedro Henrique Dos Santos, Lucas Henrique Dos Santos, Karen Marçal, Flavio Rubens, Ubiratan Nascimento, Jotabe Arantes, Diógenes Cordeiro (Spike) e Thais Dias

LOCAL: SESC SANTOS

Próximo espetáculo:

NOTA

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