Vamos conhecer um pouco mais dessa linda trajetória do Mestre Pedro Peu, coordenador do Grupo Batakerê e do Centro de Capoeira Angola, preparador corporal (de alguns grupos artísticos), percussionista, pesquisador, arte educador professor, dançarino, cantor e compositor. Sempre atuante na periferia da zona leste de São Paulo levando a arte e cultura para a comunidade.
Jornal Empoderado – Conte-nos que caminhos andou para chegar até aqui.
Mestre Pedro Peu – Comecei a minha trajetória na Bahia, minha primeira lembrança é as festas que minha mãe, Eulália, juntamente com meus irmãos, íamos, nas folias de reis e nos sambas de roda. Tenho essa memória afetiva familiar de ter começado assim nas culturas populares. Quando foi em 1988 eu comecei a fazer capoeira em Feira de Santana, no ano seguinte vou para São Paulo e começo a participar de diversos grupos artísticos, posteriormente, como professor de capoeira no Grupo de União e Consciência Negra (GRUCON) onde também criamos grupo de percussão chamado de Bloco Consciência Negra e com o crescimento dos trabalho passei a ministrar aulas no Sindicato dos Químicos.
Em 1994, participo do grupo Okum de Dança Afro Brasileira, o Mestre Juvenal nos coordenava, com um olhar mais profissional cênico, onde senti a necessidade de me aprofundar nas pesquisas de ritmos e danças desta temática, daí vem as parcerias com o SESC, teatros, entre outros. Nesta época a Comunidade Santa Inês entra em minha vida onde exerço as atividades de Capoeira Angola e percussão. Então, junto com os jovens deste local e da (Comunidade União de Vila Nova) (Pantanal), montamos a (Banda) Juventude da Vila e realizamos apresentações (musicais em varias regiões de São Paulo).
No próximo ano, adentro no Centro de Capoeira Angola – Angoleiro Sim sinhô! Temos capoeira Angola, samba de roda, afoxé e por causa de todos esses históricos, começo a fazer parte de vários coletivos, podendo destacar o Núcleo de Dança Contemporânea Omstrab, onde nossa base de pesquisa era a capoeira Angola e algumas danças brasileiras.
Jornal Empoderado – Quais são as pessoas que são sua inspiração?
Mestre Pedro Peu – São muitas pessoas, vou citar algumas: Em primeiro lugar a minha mãe (Eulalia) e minhas irmãs, depois os meus mestres e mestras que tive ao longo da minha vida como o Tonho Gago, Delicado, Mestre Plínio, Pretas Bàs (Marlene, Maria da Graça e Angelina) e como inspiração: Mestre João Pequeno, Mestre João Grande, Mestre Moraes, Mestre Ananias, Mestre Jogo de Dentro, Mestra Janja, Mestre Álvaro, Mestre Dona Nicinha de Santo Amaro da Purificação que é do samba de roda, Zumbi dos Palmares, Mandela, Dandara e todas as comunidades que trabalho a Santa Inês, Sapolândia, (União de Vila Nova) Pantanal e, os coletivos da periferia.
Jornal Empoderado – Como surgiu a ideia de fundar os coletivos? Quais são eles e que ações realizam.
Mestre Pedro Peu – Eu sempre tive a vontade de iniciar algo com os jovens em um ideal que não fosse vista apenas para tirá-los da rua e do tráfico, mas sim, um coletivo onde a arte e a cultura fosse vistas como importantes para a comunidade, independente que seja para pessoas em situação de vulnerabilidade.
Lógico que também auxilia nesta questão, contudo a cultura é para todo mundo, independe da onde você vive. Sempre pensei na integração de música, dança, teatro e com o ser juvenil para que eles tivessem essa experiência e conseguíssemos ter um pensamento equilibrado com uma relação de troca entre gerações para montar o projeto.
O Grupo Batakerê, começa em 2003, surgiu como uma banda musical e depois, ao ganhou edital do VAI (Valorização de Iniciativas Culturais), onde começamos ministrar aulas de dança e música para outras locais da Zona Leste. Muitos destes jovens que estiveram na fundação deste projeto, cresceram e profissionalizaram como arte educadores e artistas permanecendo atuantes na sua região.
Jornal Empoderado – Qual o impacto que você acredita fazer dentro da comunidade Santa Inês? E em outras comunidades?
Mestre Pedro Peu – O impacto é muito forte, para a comunidade, ao ver a cultura popular e propaga-la através de cortejos e outras atividades artísticas em praças, vielas e becos.
As pessoas mais velhas têm falas de se reconhecerem por ter vivido estes festejos na infância, no Nordeste. Ficamos felizes de estarmos ampliando e reconectando a cultura e a memória.
Jornal Empoderado – Acredita que suas práticas empoderam as pessoas? Como?
Mestre Pedro Peu: Atuamos na comunidade Santo Inês, além da parte cultura, temos rodas de conversa, palestras onde abordamos sobre o território e as questões de classe social e racial, desta forma contribuímos nas reflexões das mesmas. Assim as pessoas se apropriam do seu discurso para poder combater as injustiças sociais.
Jornal Empoderado – As ações do grupo na comunidade são consideradas por vocês como antirracista?
Mestre Pedro Peu: O grupo atua como antirracista através dos nossos espetáculos, das aulas e as conversas das temáticas pretas.
Jornal Empoderado – Quais foram as adaptações que vocês realizaram para continuar suas atividades neste momento de isolamento social? Conseguiu manter seus rendimentos?
Mestre Pedro Peu: Tivemos que nos adaptar… As atividades e as reuniões passaram a ser em formato online, participamos de diversas lives de entrevistas, aulas de danças, apresentações artísticas, entre outros. Nosso rendimento diminuiu porque tínhamos eventos agendados e todos foram cancelados.
Jornal Empoderado – Vocês apoiam algum projeto social? (Cestas básicas, produtos de higiene, outros). Como se organizam?
Mestre Pedro Peu – Na pandemia realizamos campanhas (na internet e boca a boca) e parcerias com outras instituições como Centro de Educação Nossa Senhora Aparecida, Instituto NUA -União de Vila Nova (Comunidade Pantanal), Centro de Convivência Jardim Limpão (São Bernardo do Campos) e com amigos da capoeira, para arrecadar dinheiro e/ou cestas básicas, kit higiene, máscaras para doar nas comunidades. Paralelamente arrecadamos valores em dinheiro para auxiliar com ajuda de custo para alguns artistas do grupo que ficaram sem renda e também tivemos financiamento de um edital da benfeitoria onde conseguimos uma verba.
Jornal Empoderado – Deixe nos uma mensagem positiva para os nossos leitores.
Mestre Pedro Peu – Acreditar e continuar fazendo o que sempre fizemos que é propagar, cuidar e transmitir através da oralidade os ensinamentos que os mais velhos nos deixaram, dessa forma estaremos conectados com os nossos ancestrais.
Carnaval Comunidade Santo Inês – Grupo Batakerê -Pablo Araripe – 2020
Através de suas habilidades, estudo e dedicação, o Mestre Pedro Peu deixa um grande exemplo com suas atividades na comunidade. Demonstra que é atuando diariamente que podemos construir uma sociedade mais humana e igualitária a todos. Então vamos terminar com um trecho de umas de suas composições chamada Tambor Vai Tocar:
“Adebanke sempre lutou
Dandara, Zumbi, Acotirene chegou…”
Que não deixemos, como o Mestre e essas comunidades não deixaram de lutar através da cultura e da arte.
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Mestre Pedro Peu -Carnaval 2020 – Grupo Batakerê – Pablo Araripe