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Entrevista com as Pretas Bàs do Espaço Cultural Adebanke

Em três momentos marcantes, nós do jornal Empoderado, tivemos a honra de conversar  (online) com três rainhas-guerreiras: Angelina, Maria da Graça e Marlene que são conhecidas como as Pretas Bàs. Um momento cheio de afeto, conhecimento e resistência, essas mulheres pretas da periferia de São Paulo começaram sua trajetória a tempos atrás lutando, se fortalecendo e resistindo e hoje estão  à frente do Espaço Cultural Adebanke. Pegue seu chá para acompanhar sua leitura!

“Somos um tripé, uma dá  força para a outra. Acreditamos que a cultura salva vidas.” Pretas Bàs 

Jornal Empoderado – Como vocês se conheceram?

Pretas Bàs – Essa história começa na década de 80, onde elas participam do grupo de  União e Consciência Negra que trás a resistência e a luta do nosso povo negro.  Esse grupo tinha  núcleos de base em níveis regional, estadual e nacional.  Em um desses encontros a Angelina conhece a Graça, posteriormente, em outras reuniões regionais conhecem Marlene.

JE – Quais eram as atividades destes núcleos da União e Consciência Negra?

Pretas BàsTinham cursos de formação sobre as histórias que não foram contadas através da oralidade, teatro, dança, celebrações afros, musicalidade e conscientização e luta das mulheres negras. As comunicações que eram realizadas nos locais, foram feitas através de boletins e quem participava recebia os informativos através de cartas. As assembleias eram preparadas nos Estados, onde tiravam os delegados de cada núcleo e os mesmos   representavam a sua própria regional para poderem chegar no nacional, sempre fizeram parte da coordenação do Estado de São Paulo.

JE- Em quais espaços físicos se reuniam?

Pretas BàsReuniam-se em casas de diversas mulheres negras, onde estavam crescendo os núcleos. Podemos ressaltar Angelina, Dona Teresa e sua filha  Terezinha. A Dona Teresa Leite doa um terreno em nível nacional para o GRUCON, que fica localizado no Ermelino Matarazzo, para haver um lugar fixo para as reuniões e assembleias, nomeado Quilombo São Benedito. Sempre houve a necessidade de ter um espaço para se reunirem , diante desta falta nasceu o sonho e a espiritualidade , ancestralidade encarregou-se de encontrar…

JE- Como este Espaço Cultural Adebanke chegou até vocês?

Pretas BàsDentro do trabalho que já existia no GRUCON, criamos um Projeto chamado Cantinhos, outras lideranças de cultura se aproximam, como o grupo Babalotim.  Tivemos um convite desafiador do Supervisor de cultura da região, fixar seu coletivo debaixo do viaduto do lado do metrô Artur Alvim. O local tinha pessoas em situação de vulnerabilidade social e drogadição. 

JE – Como ocorreu assumir o local?

Pretas BàsO espaço era ocioso e a maioria dos conviventes não aderiram ao novo projeto. A vontade de transformar, revitalizar e dar um novo significado era grande. Ele chamava temporariamente de Espaço Babalotim, porque neste momento, era o coletivo que tinha a documentação.

Como tinham outros coletivos envolvidos, resolvemos batizar com um nome que representasse a todos que ali estavam,  nomeando como Espaço Cultural Abake (simbolizada com o logotipo dos pés, que significa o  caminhar entre  África e Brasil).Quando o outro grupo saiu da administração,  mudamos o nome para Espaço Cultural Adebanke, nome nigeriano feminino que significa: Deus está cuidando dela (dela no sentido de cultura, agora com o símbolo no logotipo das mãos como acolhimento).

JE – Como vocês apresentam o projeto para comunidade?

Pretas BàsO Coletivo Cantinhos, Babalotim e o supervisor de cultura se reuniram para realizar uma apresentação do projeto na Praça Juparanã no bairro do Jardim Nordeste, Zona Leste de São Paulo. Tivemos música, percussão, capoeira, barracas de artesanato, de beleza, uma praça de alimentação de comidas típicas. Houve a inauguração do Bloco Afro Abake, que foram recebidas por algumas pequenas agremiações, para nos fortalecermos mutuamente, sendo uma grande manifestação cultural para a região.

JE – Houve alguma situação que não foi positiva?

Pretas BàsTiveram diversas dificuldades e até pensamos que  não daria certo, porque poucas pessoas estavam nos eventos. A  dois anos atrás nós furtaram e isso nos trouxe muita tristeza, contudo, não desistimos , continuamos na luta e de uns tempos para cá a comunidade está acolhendo ,percebendo que este espaço de cultura é local de resistência e é deles  , onde respeitando e ajudando eles só têm a ganhar.  

JE -Nos fale sobre alguma parceria conseguida pelo Espaço Cultural Adebanke?

Pretas BàsA professora Vermelha entrou em contato com o projeto, para realizar  um seminário, cedemos o espaço, um dos convidados era o Mestre Pedro Peu. A Marlene, teve uma grata surpresa ao saber que o  Mestre, era o Pedrinho e que já se  conheciam através do Grupo União e Consciência Negra, posteriormente ele e Marlene fazem uma surpresa para a Angelina deste belo reencontro.  

JE- O que surgiu desta parceria?

Pretas BàsO Mestre Pedro Peu realizou um projeto de resgate chamado Batakerê gira com GROUPON, em um final de semana, que consistia em fazer um reencontro para falar como foi a sua experiência fora do país com tudo que aprendeu no núcleo. Enfeitamos o espaço com cartazes, um varal com as fotos, documentos e as camisetas de cada ano de quando se reuniam no grupo nível nacional, alegrado com muita música, dança e capoeira, posteriormente Pedro Peu começou a dar aulas de Capoeira de Angola.

JE- Existem outros coletivos parceiros?

Pretas BàsO Mestre Pedro Peu trouxe uma apresentação de jongo para Encontro de Mulheres da Periferia e ali estavam Douglas e Anelise que são responsáveis pelo coletivo Grupo Fragmento Urbano, a partir daí criamos alguns encontros, e posteriormente resolvemos fazer uma ação cultural com outros coletivos que chamamos de Fuziê. Através do boca a boca o pessoal foi chegando e tornando-se pertencentes e outros grupos se juntaram como: Grupo Batakerê, Fragmento Urbano, Núcleo Ximbra, Zumb.Boys Calcaneos e a partir destes, outros coletivos foram chegando. 

JE- Quais eram as atividades presenciais?

Pretas BàsJá tivemos oficina de percussão com a Mestra Marlene Santana, berimbau (confecção e oficina) com o Mestre Manganga, Xequerê (confecção e oficina) com Mestra Inaiá Araújo, Quadrilha de Herança Suldestina, Cachê Gestão, Diário de um Artista, Tango na periferia ,Yoga na Quebrada e a ação de Grafite na Quadra com a revitalização do espaço, com o grafiteiro Che. 

De apresentações: Tivemos O Cine na Quadra – Filme com convidados e debate (última sessão foi exibido  Sem Asa e Empoderadas, o Boteco das Pretas Bàs (periodicamente) e temos Chás das Pretas, o Boteco das PretasSarau  e Slam do Adebanke.

De aulas:  Capoeira  Angola Sim Sinhô, com Mestre Pedro Peu . Oficinas de Samba Rock e o evento Projeto Samba Rock di Quebrada. Alguns eventos são grátis , outros contam com contribuição voluntária e as oficinas têm valor fixo (precisa de consulta prévia). 

JE-  Quais das atividades vocês conseguiram dar andamento neste período de isolamento social?

Pretas BàsContinuamos realizando lives com o Chás das Pretas (aberto) com um data prévia e uma temática. Chá das Pretas (filhos), são as pessoas que apoiam e estão no coletivo. Chá das Pretas (individual), que é realizado com agendamento prévio, que consiste  em uma hora de conversa particular com as três, com escuta, respeito e sigilo. Acontecem cada um em uma data, todas as terças das 16h às 19h.

JE- Visitaram o local ultimamente?

Pretas Bàs O nosso último evento foi dia 15 março com uma festa para as crianças, no começo do isolamento os  alguns dos responsáveis  passaram para cuidar do espaço. Dias atrás estivemos pessoalmente no local (com todos os cuidados necessários) para limpar e houve uma ação, do posto de saúde do A.E Carvalho de vacinação com a comunidade, parceria que queremos manter futuramente.

JE- Como vocês se tornaram as Pretas Bàs?

Pretas BàsEm um dos eventos do Fuzuê pensamos em uma apresentação que trouxesse musicalidade e oralidade, fizemos uma performance da música da Clara Nunes que fala das Pretas Bàs, por coincidência, as três escolheram a mesma canção e concordaram que foi porque  a música fala de quanto ela construiu e multiplicou. 

No dia a Graça atuou como a Preta Bá, a Angelina cantou e Marlene tocou, para representar a continuidade da luta a jovem Manuela (que está com as Pretas Bás desde o início), participa da apresentação, junto com a Marilise. Todos que presenciaram ficaram impactados e emocionados e dali já surgiu o nome e posteriormente tornou-se definitivo através de Douglas e Anneliese do Coletivo Fragmento Urbano que faz um documentário conosco e já com o nome de Pretas Bàs.  

JE- O que é para você ser uma das Preta Bàs que todos respeitam e chamam de mãe?

Angelina – Ser mãe é acolher , dar o colo e quando precisar puxar a orelha. Somos mulheres de resistência que são firmes para ninguém passar por cima e respeito à ancestralidade.

Graça – Sou mãe de coração desses filhos do Espaço Cultural Adebanke , ser uma delas é receber  total carinho , respeito e amor. Que me traz mais experiência, vivência , sinto-me incluída e fortalecida em todo esse reconhecimento.

Marlene – Para mim é um presente divinos dos orixás…É levar esta bandeira de dignidade , honestidade , tudo que é colocado no espaço o sigilo, o respeito e ter sempre ativo a consciência negra. Ter dedicação , empenho frente a ancestralidade, de ter força de resistência, do que passou e passa neste país como mulher preta. Não é pelas que homenagem é por aqueles que não são vistos. 

JE- O que fazem vocês continuarem apesar de todas as dificuldades?

Angelina – “A ancestralidade a espiritualidade é forte dentro da gente e não tem como parar em 40 anos de luta, houve sempre uma junção de tudo. A bandeira de luta é grande e não dá para parar…Arrastando a bengala e enquanto houver com força na voz, vamos gritar essa liberdade, podendo não ser para nós, mas pode ser para as crianças. Continuaremos na resistência”. 

Graça – A luta é grande. A mulher negra sempre sofreu mais, desde os quilombos foram fortes e aguerridas e resistiam. Como no Candomblé que lutaram , libertaram muitos negros e são exemplos que hoje trazemos , pensamos em todas essas mulheres que libertam esse povo. Por isso repito:  A luta é grande!  A juventude,  deve continuar na luta, que sejam mordidos por ela e sejam sempre resistência.

Marlene – Tenho a identidade e a consciência que  me move vendo tantas mulheres que estavam iniciando, lutando, indo para cima em todos os campos da sociedade. Apesar das diferenças é importante a identidade e a luta. Temos uma consciência de classe, que algumas vezes é trabalhosa , desgastante e não precisava nada disso, contudo  toda hora temos que provar…A resistência ancestral também é através da música que ecoa o tambor e mesmo aqueles que não querem ouvir vão ouvir…

Embaixo do viaduto também nascem flores! Essa é uma frase grafitada no Espaço Cultural Adebanke, contudo, depois desta leitura agora sabemos que nasce cultura, conhecimento, afetividade, empoderamento e luta. 

Essas três rainhas-guerreiras resistem  motivam-nos a continuar , com sua luz da espiritualidade, caminhos da ancestralidade e  pedindo a benção das Pretas Bàs que terminamos essa conversa.

Odara!

Contato

Espaço Cultural Adebanke

Endereço: R. Durandé, 175 Metrô Artur Alvim

Facebook: Espaço Cultural Adebanke

Instagram: espacoculturaladebanke

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