A construção civil é a área mais emprega negros e nordestinos, em São Paulo e no Brasil. Mas quantos trabalhadores ocupam espaço de poder nesse setor? Por isso, hoje vamos falar com Jonas Fiuza, que abriu sua empresa, a Neri Martins, e presta serviço para grandes grupos no Brasil. Mas antes falemos do cenário da construção Civil.
O Jornal Empoderado falou com Carlos Silva de Jesus, do Sintracon/BA – Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Salvador, que disse conhecer poucos engenheiros negros. Mas a maioria da mão de obra pesada é feita por pessoas negras, – em Salvador são mais de 90% de pessoas negras -, e são poucas as mulheres negras no setor.
E Ana Georgina Dias, do Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos da Bahia, falou ao Empoderado que “não existem muitos dados sobre o setor da construção civil com recorte de raça/cor. Porém pode-se perceber que negros e negras estão em todas as atividades dentro do setor. Infelizmente, em menor número entre os engenheiros e maior número entre os serventes.” E continuou: “Além disso, os negros e negras também ocupam as posições mais precárias dentro do setor. Sendo maioria entre os trabalhadores informais e com menos direitos e proteção social.”
Existem melhoras no setor, mas…
Carlos Ojeda, engenheiro civil paulista, formado em 1976 na FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado, disse: “Olha, Anderson! No meu curso nós entrávamos em 200 alunos, – vestibular nosso tinha 200 vagas- e das 200 vagas que preencheram no vestibular, não tinha nenhum negro nessas salas de aulas. E durante meu curso não vi nenhum negro retinto, tinha apenas um colega que era pardo. E na minha vida profissional… eu trabalhei em muitos locais e tive uma empresa minha de engenharia (1996 a 2019). Eu nunca vi em encontros e reuniões na ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ou no Crea – Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, donos de construtora que fossem negros, pardos ou mulheres.”
A empresária carioca Geisa Garibaldi, da “Concreto Rosa”, participante da 12ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, falou que participa de grupos com profissionais negros (as) da área de construção civil, onde tem prestadores de serviços e alguns abriram empresa. E que a minoria são mulheres, em torno de 10.
A importância da Construção Civil
A construção civil tem importante peso na economia brasileira. Dados do IBGE apontam que a participação do setor no PIB nacional chegou a superar os 6%, entre 2011 e 2014. Em 2019, participou com apenas 3,7%, após redução sistemática de sua participação nos anos anteriores (Gráfico 2).
Em um país que tem 54% da população sendo negra, é inadmissível ter tão poucos profissionais negros e negras, periféricos e indígenas no topo. Leia matéria com o empresário baiano, Jonas Fiuza, que ousou sair da base da pirâmide e hoje está fazendo a diferença no mercado de construção civil.
Conversamos com Jonas Fiuza, da Construtora Neri Martins, que vai inaugurar mais uma loja amanhã (13/10), agora em Mogi Iguaçu!
Jornal Empoderado – Qual a importância de sua família na sua construção como ser humano?
Minha família é uma família típica do Brasil antigo, onde a mãe foi o pilar. E minha mãe foi essa base de tudo para mim. Como aprendizado, como formadora de caráter, como persistência de não desistir nunca. Isso é o que carrego de família. Tenho irmãos, tios, tias, mas meu espelho que levo para vida é minha mãe, Zina Fiuza é o nome dela. (Dona Zina não viu todo sucesso do filho, mas em vida pôde ver o nascimento da construtora).
Jornal Empoderado – Como foi o período na área rural em Feira de Santana? (Fale um pouco de Feira também).
Vivi na roça, nasci lá como a maioria no interior. Na roça mesmo. Muito bom, muito aprendizado, pois quem lida com a terra ganha muito (experiência). Fiquei basicamente até os 16 anos na roça. Mexia com lavoura. Aí (você) planta, colhe, vende e vai para a cidade vender. E ai de novo minha mãe na minha vida, sempre comercializando as coisas que a gente produzia. Comprava dos vizinhos, levava para feira e vendia. Essa foi minha infância na roça. diga-se de passagem: maravilhosa!
Jornal Empoderado – Fale da sua vinda a São Paulo e por que escolheu São Paulo? Como foi a vinda de um baiano de Feira de Santana para São Paulo?
Minha vinda para São Paulo aconteceu quando eu tinha 19 anos para 20. Mas isso já era meta desde sempre. Desde que me conheço por gente eu sonhava em vir para São Paulo. Por que? Pois quem via para São Paulo voltava melhor e eu sempre tive isso na cabeça, que São Paulo era a terra das oportunidades. Então, buscava ela sempre (meta de vir para São Paulo). Na primeira oportunidade que tive não pensei duas vezes, arrumei o que tinha e vim com um primo meu que aceitou me trazer. Não foi fácil, mas faria tudo de novo. Para mim, São Paulo é um passo que precisa ser dado por qualquer brasileiro. São Paulo é ímpar. Você se torna muito mais competitivo e tem-se a vencer.
Jornal Empoderado – Fala de como foi seu início profissional e como nasce a Construtora Neri Martins?
O (meu) início nas obras eu comecei como ajudante de encanador mesmo, em uma obra em São Caetano, na avenida Goiás, num Extra. Eu tinha trabalhado seis meses antes, mas de ajudante de encanador, em eventos. Eu tenho essa obra em São Caetano do Sul, que começo a me enxergar na profissão. Desde o primeiro dia de trabalho sempre corri atrás de melhorar, alcançar, me profissionalizar, aprender… por que a obra é assim: é um mundo de oportunidades. Você entra numa obra e para onde você girar o rosto vai ter uma oportunidade e possibilidade de se alavancar. E hoje não é diferente de antes. Eu sempre corri atrás e num determinado momento aprendi a profissão e sempre insistindo e buscando mais … sempre não me conformando.
Até que surgiu uma oportunidade para eu sair da empresa e abrir uma empresa de instalação de hidráulica, fazia só hidráulica. E no momento seguinte, viramos construtora por que a hidráulica, graças a Deus, ficou pequena e muita gente aprendeu* e cá estamos nós hoje. E agradecer muita gente no caminho que nem dá para citar.
*Jonas ensinava o ofício na área de hidráulica para os companheiros de profissão.
Jornal Empoderado – Quais as principais obras que estão tocando? A Neri Martins tem quantos colaboradores e quantas são mulheres?
A Neria Martins tem por volta de 300 colaboradores diretos e as principais obras hoje são Assaí Atacadista e recentemente fizemos uma loja em Feira de Santana na Bahia com 14 mil metros quadrados de área construída. E estamos concluindo agora outra loja, em Mogi das Cruzes, por volta de 14 mil metros também (do Grupo Assaí). E vai ser inaugurada agora dia 13/12/2022.
O outro cliente é a Sodimac Home Center e estamos fazendo duas lojas deles, uma em Campinas e outra em Praia Grande. Além de termos finalizado várias lojas da rede Home Center Carajás, no nordeste.
Dentro desses colaboradores, temos por volta de 300, entre gestão de escritórios, gestão técnica de segurança e administradores (as) que é composta por 80% de mulheres. Engenharia também. Nos demais campos ainda não temos muitas mulheres, mas precisamos crescer nessas áreas.
Jornal Empoderado – Como se inicia esse relacionamento com o Assaí? E como é o relacionamento de vocês?
A Neri Martins existe em dois momentos. O primeiro, para iniciar como construtora, ela começou pelo Pão de Açúcar, pois foi quem deu a primeira oportunidade, ou como sempre falo, “colocar o primeiro tijolo”. Quando iniciamos, fizemos muita loja do Pão de Açúcar, Minimercado Extra, reforma de Extra Hipermercado, fizemos Extra novo, Extra Super… Fizemos muita coisa no Pão de Açúcar.
Foi nesse momento que a gente começou a chegar no Assaí. Pois o Assaí fazia parte da bandeira do grupo Pão de Açúcar, mas em um determinado momento houve a separação das bandeiras. E foi aí que a gente começou uma história com o Assaí.
Jornal Empoderado – Como foi construir um Assai em Feira de Santana?
Com o Assaí começamos lá atrás e a primeira loja que fizemos foi em 2012, que foi uma reforma em um café, em Presidente Prudente/SP. Depois a gente teve a oportunidade de fazer uma loja, para o Assaí, recentemente em Feira de Santana/BA. Uma loja também de 14 mil metros e estamos fazendo uma segunda agora em Mogi, por volta de 14 mil metros também. Fizemos reforma no Ceará, em Fortaleza, com o Assaí.
Jornal Empoderado – Em um país onde o racismo é muito forte, como você vê a parceria com Assaí hoje?
O Assaí tem um time que é ímpar, eu diria. Desde o presidente, Belmiro Gomes, os coordenadores de obra de campo e vindo no meio (passando) entre todos os gerentes de cada setor das divisões de obras; todo mundo engajado e envolvido em entregar um produto de qualidade. Eles nos cobram e nos ensinam muito também. Estou muito satisfeito em prestar serviço para eles hoje, devido a essa sinergia boa. Essa igualdade com todos. Gosto muito disso.
Hoje parece existir só você como “construtora negra” no Assaí. Como você vê isso?
Hoje que eu conheço no Assaí só tem a gente, onde a diretoria de uma construtora é negra. Mas não é só no Assaí. Nos demais concorrentes eu não conheço ninguém. Eu tenho como construtora de varejo aproximadamente 20 anos. Há 25 anos que trabalho no ramo e não conheço outro diretor de construtora negro. Isso me faz falta. Poderia ter mais Jonas no carrinho de mão, no campo, pedreiro, encarregado, encanador, diretor… pois tem muita gente capacitada. Só precisava ter as oportunidades que eu tive. Que faria igual ou melhor que eu. Eu não tenho a menor dúvida. E precisa de mais. Seria muito bom. Ter uma concorrência mista e não somente no Assaí, mas em todos lugares.
Jornal Empoderado – Quais os projetos para o futuro da Neri Martins, já pensando em 2023?
Hoje a Neri tem um projeto para 2023 que é continuar essa parceria (com o Assaí) que vem dando muito certo. E eu não tenho dúvida que para as duas partes está sendo muito bom. E a Neri tem como projeto fazer quatro lojas no ano que vem. É isso que pretendemos. E não desistir nunca!
Conheça mais da Construtora Neri Martins, do empresário Jonas Fiuza, aqui!
https://construtoranerimartins.com.br/site/?s=quemsomos
A nova loja ficará na Rua Prof. Ismael Alves dos Santos, 455 – Parque Sr. do Bonfim, Mogi das Cruzes. – Foto: Divulgação.
Nota: Para que a matéria pudesse acontecer contamos com a colaboração da Cátia Dias, Carlão, Fausto coordenador do Dieese, o economista Victor do Dieese, Ana Georgina do Dieese da Bahia, Geisa Garibaldi, da Concreto Rosa, Carlos do Sintracon/BA e Edson França da Unegro/SP.
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Parabéns amigo pelo conteúdo