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27 anos atrás, na noite de 22 para 23 de julho, mais precisamente próximo a meia noite, acontecia a chacina da Candelária! Uma ferida que nunca se fechará em nossa sociedade.

8 meninos entre 11 e 19 anos foram mortos, dormindo, sem nenhuma chance de defesa.

O FIM

Pouco antes da meia-noite, dois carros, um Táxi e um Chevette com placas cobertas pararam em frente à Igreja da Candelária e seus ocupantes abriram fogo contra um grupo de adolescentes, que costumava dormir nas proximidades da Igreja.
Os meninos pretos e “pardos” vinham de diversos locais  socialmente vulneráveis da região metropolitana do Rio de Janeiro.

As histórias de todos continham dores e abandonos que traduziam uma histórica negligência por parte do Estado, as crianças desses terrítórios.

A falta de políticas públicas efetivas nas comunidades mais vulneráveis, forjou o caminho daquelas famílias e de seus meninos até a noite de terror em que perderiam suas vidas.

Segundo estudos de algumas instituições ligadas a Anistia Internacional, das 70 pessoas que dormiam nas ruas daquela região na época, 44 perderam a vida de forma violenta. Todos pobres e negros.

Um sobrevivente da chacina, o adolescente Wagner dos Santos, apesar de ter sido atingido por quatro tiros, relatou o que viu e ouviu aquela noite. acredita-se que por essa razão Wagner, sofreu um segundo atentado em 12 de setembro de 1994 na Estação Central do Brasil e desde então, foi colocado pelo Ministério Público no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas.

O motivo da chacina dado como certo pela justiça, seria a prisão no dia anterior de dois meninos na região. Acarretando num protesto por parte dos outros meninos, que tacaram pedras numa viatura do 5° batalhão, quebrando um vidro do veículo.

A chacina teria sido uma espécie de vingança pelo vidro quebrado.

Wagner, o sobrevivente ajudou na construção de retratos falados que auxiliaram a identificação de 7 policiais suspeitos.

3 deles foram inocentados. 1 foi morto provavelmente por queima de arquivo durante o processo e os outros 3 foram acusados e culpados pelo crime. São eles, Nelson Oliveira dos Santos Cunha, Marcus Vinícius Emmanuel Borges e Marco Aurélio Dias de Alcântara.

Foram condenados a penas que variavam de 20 a 300 anos porém nenhum deles cumpriu o tempo mínimo de prisão. Todos foram soltos.

Como diz a canção, “A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”. 

Memória para preto, favelado, periférico é resistência. Nos matam todos os dias das mais variadas formas, antes e durante o tiro mas não nos fazem deixar de existir. Existiram, existimos. E são todos um pouco filhos de todas as mães de toda favela também, ou pelo menos poderiam ser. Por isso, aqui estão os nomes dos oito meninos negros mortos naquele dia:

Paulo Roberto de Oliveira, 11 anos

Anderson de Oliveira Pereira, 13 anos

Marcelo Cândido de Jesus, 14 anos

Valdevino Miguel de Almeida, 14 anos

“Gambazinho”, 17 anos

Leandro Santos da Conceição, 17 anos

Paulo José da Silva, 18 anos

Marcos Antônio Alves da Silva, 19 ano

 

A dor que não tem fim

27 anos depois ainda não conseguimos garantir a proteção integral de nossas crianças, como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente que completou 30 anos no pultimo dia 13. “Não asseguramos oportunidades e facilidades a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade”  como dizem o 1° e 2° artigos do ECA.

Nossas crianças ainda são classificadas por sua cor e cep como merecedoras de proteção ou de vigilância e punição.

Ainda e mais do que nunca a idéia de que o sujeito que comete algum crime pode e deve pagar com sua própria vida, é legitimada pelo Estado.

O bandido bom é bandido morto hoje figura status em redes sociais sem o menor constrangimento, tendo uma nitida relação com a criminalização da pobreza, que cria um Estado penal onde as maiores vítimas são as crianças e jovens,  pobres, negros e favelados.

A militarização das relações entre o Estado e territórios periféricos,  herança colonialista reafirmada pelo regime militar recente, dá o tom das inúmeras mortes de crianças e adolescentes no Rio de Janeiro e no Brasil.

Em agosto de 2019 a ong Rio de Paz, fincou 57 cruzes brancas com nomes de crianças vítimas de bala perdida de 2007 à 2019 no Aterro do Flamengo. Até novembro de 2019, 6 crianças haviam morrido dessa forma no Rio.

Em 2020, até junho, 5 crianças perderam suas vidas também por armas de fogo por aqui. Todas em territórios vulneráveis socialmente. Carentes da intervenção constitucional do Estado.

Como é injusto e dolorido ver a história de nossas crianças marcadas por balas que não sejam as de comer.

O barulho da paz é uma poesia minha, feita em um dia sem confrontos na minha comunidade (hoje não foi um deles)

Hoje o barulho dos tiros foi substituído pelo barulho da Paz!

Engana-se quem pensa que a paz é silenciosa,  não é não!

Ela possui o som das crianças brincando de bola na rua,

do samba do Arlindo Cruz em último volume na casa do vizinho,

do abrir das garrafas de cerveja geladas, findando a semana tão dura!

Só quem vive em meio a guerra entende o valor de um dia de Paz.

Só quem vive travado pelo barulho silenciador da guerra,

sabe dançar o barulho da Paz!

 

 

fonte: Wikipédia, chacina da Candelária.

título: trecho da música, “Pedaço de mim” de Chico Buarque, 1978.

imagem: flickr, manifestação em 2009 relembra as vítimas mortas na chacina

NOTA

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