Para muitas pessoas que me conhecem, sabem o quanto é difícil o processo da escrita, sei que também para outras mulheres e homens pretos. Não fomos ensinados a escrever ou a ler, nossa história sempre foi contada por outras pessoas.
Hoje com o ciclo de traumas rompidos, me projeto para a academia, sou uma mulher preta que faz parte das estatísticas de superação.
Neste assunto deixamos para outro momento, quero hoje expressar sobre a minha “escrevivencia“, e não venham dizer que a minha forma de escrever é errado, a história é minha e falo dela como quero.
Resolvi compartilhar minhas experiências, para que outras mulheres saibam que não estão só e podem contar comigo.
Há aproximadamente 05 anos sofri racismo no ambiente de trabalho, naquela fase, eu não tinha o conhecimento e letramento racial que tenho hoje.
Vivi os piores momentos da minha vida, eu profissional da enfermagem, exercitava constantemente a empatia e o afeto.
No entanto, fui vítima de um crime perverso, não tive força para denunciar, passei pelas piores dores que uma mulher preta, gorda e mãe solo pudesse passar (falo aqui da minha dor ok), levei esta dor por alguns anos, quando não mais consegui suportar cai em depressão.
Fiquei afastada por 2 anos, e quando retornei, para minha surpresa, infelizmente as ofensas e o racismo continuaram, foi quando tomei forças para levar ao judiciário.
Esta força veio através das amizades verdadeiras.
Em 2019 para a minha alegria saiu a sentença, RACISMO, fechei este ciclo na minha vida.
Cresci como mulher preta e ativista, minha dor foi meu combustível.
Não tenho anos de militância, mais acúmulo vivências e ações concretas, participei de incidências que muito me orgulho, como:
Estava lá na primeira reunião da COALIZÃO NEGRA POR DIREITOS, fazer parte da construção efetiva, participar e ajudar criar os princípios que balizam esta Coalizão, isso é fazer parte da história do movimento negro.
Como me orgulho de contar a minha própria história.
Ficar acorrentada na Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo por 13 dias, foi um marco, hoje vejo pessoas pretas entrando em concursos públicos e isso só foi possível, pois tivemos este povo doido, que por lutas coletivas esquecem suas próprias dores e lutas, para que a lei 1.259/2015 fosse real, isso ninguém poderá apagar, mudamos a história.
Ao ver a reserva de 30% de vagas para mulheres negras nos partidos políticos, lembro a carta que entreguei juntamente com o frei David ao Ministro Barroso, que na época não era o presidente do TSE.
Foram muitas e muitas atuações e como me orgulho disso, de mencionar fatos que mudaram vidas de pessoas pretas.
Lembro da nossa luta pelas cotas no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) quantas cartas escritas, noites de sono perdidas, inúmeras noites sem estar com meu filho.
Hoje fundadora do Instituto Equânime Afro Brasil, instituto que foi “parido” com muita dor, porém estamos lutando por políticas públicas, visando a saúde da população negra.
Durante a pandemia, tive o prazer de estruturar um projeto, ao qual tenho muito orgulho, denominado Insurgência Periférica, sendo uma potência social.
Por fim, fui convidada pelo Frei David, a integrar a Frente Nacional Antirracista, a qual nem nome tinha.
Lembro muito bem como escolhemos o nome, sou muito grata por fazer parte deste projeto político emancipatório.
Quantas noites sem dormir, resolvendo demandas em prol do nosso povo preto, ser mulher preta em projetos de construções não é fácil, mas sem a mulher preta, nada versos nada tem forma.
Para cada lutas e vitórias potentes, vejo o suor de mulheres pretas, vejo mãos de mulheres pretas, vejo energia de mulheres pretas e a dedicação de mulheres pretas.
Poderia ficar aqui mencionando muitas e muitas coisas, mas quero falar principalmente da importância das mulheres…
Sobre a Priscila
Priscila é Fundadora do Instituto Equânime Mulherista, Mulher do Axé, Preta, gorda moradora da periferia da zona leste, antirracista, ativista e defensora contumaz dos direitos humanos, da política do sistema único de saúde, atuante contra a violência obstétrica e das políticas de ações afirmativas para pessoas negras .Estudante de direito, ativista, assessora de advocacy, educadora Direitos Humanos.