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A morte com asas de ferro sobre o Complexo da Penha

Da janela do quarto dá pra ver grande parte do Complexo da Penha. A vista dá para o local que antes hospedava o Baile da Gaiola que acabou por conta do tráfico de drogas, diz a polícia.

Acabando o baile, acabou também a possibilidade de ganho de uma porção de pessoas que moravam no entorno. Eram carrocinhas de cachorro quente, sanduíches diversos e bebida da melhor qualidade.

O baile era muito bem frequentado. Era bonito de se ver o tanto de carros importados que chegavam trazendo em seu interior os filhos dos bacanas da zona sul. Baile funk de responsa!

Aí prenderam o Renan. O Dj com o maior paredão do Brasil, foi preso por associação ao tráfico. O cara comprava material escolar pras crianças da comunidade. Galerinha ficou bem carente. O bom é que tem muita gente boa na comunidade e onde tem pra um, tem pra dois.

Impressionante é que pouco tempo depois abriram a maior balada na comunidade. Uma tal de Container. Só tendo muita grana pra bancar o naipe da balada.

Cravada no coração do complexo, só dá pra chegar lá de carro. E tem que conhecer muito bem a comunidade pra poder chegar. Tem que ter autorização. É proibido ter carrinho de cachorro quente e bebida da melhor qualidade sendo vendida do lado.de fora. Prejuízo pra galera…

Mas é preciso combater o tráfico. Os bandidos são muito perigosos. E depois que o baile acaba, os bacanas já em segurança, as missões de “pacificação” podem ser iniciadas.

O som dos helicópteros e os voos rasantes assustam. Da janela do quarto da pra ver o helicóptero parecendo um brinquedo de controle remoto e a vontade que eu tenho é de dar um jeito de tirar aquele objeto identificado dali. Sobrevoando as casas de tijolos aparentes que guardam pessoas apavoradas.

Os tiroteios começam do nada. Basta que o helicóptero apareça para que o barulho de estampidos comece. E são horas e horas de tiros. Penso nas pessoas que só querem sair pra trabalhar. Nas mães com seus filhos querendo ir à escola. Com as patroas que não estão nem aí para a realidade de suas funcionárias e que querem que elas deem seu jeito, mas que não as deixem.com a louça suja.

Foram 26 mortos. 26. Não vi comoção. Não ouvi bater de panelas. O ranger de dentes está lá na comunidade porque o medo de novo ataque do Estado não passa nunca.

São mais 26 homens negros na conta da polícia. São 26 mães. 26 famílias. Nada justifica esse massacre. Ainda não se tem o antecedente de todos os mortos. Já estou até vendo a polícia dizer que os mortos por bala perdida foram atingidos por armas dos bandidos. Será esse bandido fardado?

Cadê a comoção? O bater de panelas? A marcha? O grito? É por que foi na favela? Então pode?

Da janela do quarto da pra ver também a Igreja da Penha. Lá, bem no alto, Nossa Senhora da Penha busca proteger aqueles que nasceram a seus pés. Mas ela só pode acudir na passagem. Não há salvação diante do Caveirão.

 

Foto: Wanderlei Almeida

Texto: Eliane Almeida – Jornalista, Ativista Antirracista da Rede Quilombação, ativista independente por Direitos Humanos.

NOTA

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