A “mídia branca” tem ataques de conscientização racial que parecem bem intencionados, mas só escancara o racismo estrutural que vivemos, pois eles querem mostrar a história dos negros no Brasil da mesma forma que aprendíamos nos livros escolares, sempre na visão turva deles e com traços de piedade absoluta, o que só nos envergonha e nos destroem por dentro.
Na novela das 6 da Rede Globo “Nos Tempos do Imperador” que retrata a história do Brasil Império de Dom Pedro 2 um casal inter-racial totalmente inverossímil tem causado uma negatividade muito forte com o público, o ex-escravo que vira engenheiro Samuel (Michel Gomes) e a professorinha branca Pilar (Gabriela Medvedovski). Não contente com isso, a autora da novela Thereza Falcão criou uma cena absurda que causou polêmica em todo o país.
Na cena, Pilar conversa com o namorado sobre o fato de ter sido rejeitada na Pequena África, reduto de negros que buscam proteção. “Só porque você é branca não pode morar na Pequena África? Como queremos ter os mesmos direitos se fazemos com os brancos as mesmas coisas que eles fazem com a gente”, indagou Samuel.
A autora pediu imensas desculpas pelo “equivoco” e se retratou da seguinte forma:
“Na época não contávamos com uma assessoria especializada, o que só aconteceu no ano passado, com a entrada do [pesquisador de cultura afro-brasileira] Nei Lopes. Hoje assisto a muitas cenas com uma sensação muito longínqua.”
As cenas já foram gravadas entre 2018 e 2019 e sinceramente só depois de vários pensadores negros contestarem esse “racismo reverso” de uma maneira exemplar é que ela pede desculpas, se ela conseguiu a assessoria especializada, porque não passou pra ele as cenas para ele já apagar imediatamente e assim ela não passaria por essa vergonha alheia.
O livro infantil ABECE da Liberdade: A história de Luiz Gama, que mostra a infância do baluarte das causas negras Luiz Gama deveria ser um livro educativo, que mostraria para as crianças como Luiz teve a sua primeira idade conforme a realidade que os negros viviam num Brasil elitista e que os negros eram meros escravos que eram explorados e mortos.
Só que os escritores José Roberto Torero (que sempre tive boa estima pelos seus ótimos textos) e Marcus Auelius Pimenta criaram uma realidade fantasiosa e absurda, em que crianças negras no porão de um navio negreiro pulavam corda com correntes e achavam graça em brincar de escravos de Jó enquanto navegavam rumo à escravidão.
Segundo Isabela Santiago, da Divisão Infantil de Marketing da editora Companhia das Letras, na matéria feita pelo UOL agora os exemplares em consignação nas livrarias e distribuidoras de todo o país estão sendo recolhidos e a atual edição está em processo de avaliação e revisão pela editora.
E vocês sabem qual foi a justificativa do ilustríssimo Torero? De que não teve nenhuma assessoria de algum autor negro e pra completar que queria um tema leve das crianças estarem brincando para “aliviar a dor”.
Quanto alívio e despreparo de um escritor branco para falar de uma história que nunca aconteceu não? É de doer os olhos ver tacanha justificativa.
O Respeito Futebol Clube da qual sou diretor chefe, Jornal Empoderado, Alma Preta, Conceição Evaristo, Tarcila Oliveira, Silvio Almeida e tantos outros membros negros aqui no Brasil podem oferecer todo o suporte para os brancos elaborarem as suas histórias com autenticidade, no entanto eles preferem impor a velha máxima do “floreio branco”, onde ele se impõe diante do negro para fazer valer o seu lado da história.
Mas o negro jamais vai aceitar esse tipo de atitude torpe e queremos que Globo, Companhia das Letras e as outras mídias predominantemente brancas nos cedam seus nobres espaços para mostrarmos a verdadeira história, dessa forma seria um ato digno e de respeito, mas acreditar que elas dariam esse espaço seria como dar um tiro no escuro, ou estou enganado?
Reflitam sobre isso, cara “mídia branca”.