O Jornal Empoderado entrevistou Marina Inês do Nascimento, professora aposentada da rede estadual que continua lecionando na rede municipal. É membro da Executiva da APEOESP (Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, subsede/Diadema, reeleita a Presidente Municipal na (Comissão Consultiva Mista de Saúde dos Funcionários Públicos do estado de São Paulo) CCMS/IAMSPE, sempre na luta em defesa dos professores, participa de discussões em defesa da educação pública e de qualidade para os filhos dos trabalhadores defesos dos Direitos das Crianças e do Adolescente, em fim dos direitos Humanos. Não mede esforços e nem limite na militância em defesa dos professores da ativa e dos inativos, das mulheres pela Proleg (Promotoras Legais Populares). Colabora nas questões étnicas Raciais pela Educafro e Movimento Negro Unificado ((MNU). Foi homenageada com Prêmio Carolina Maria de Jesus“ em São Bernardo do Campo, pela trajetória de vida, contra o racismo por uma sociedade mais justa e igualitária.
JE: Você comentou que participou dos bailes da Chic Show, como eram os adolescentes e jovens pretos?
MARINA: Naquele tempo existiam um grupo de jovens que se chamava patota, que era o jeito de se vestir, de dançar, tinham batalhas, como hoje, só que naquele tempo eram dançando, e não recitando poemas, e dançavam ao estilo James Brown que era como o funk da época.
O funk é um estilo musical que surgiu através da música preta estadunidense no final da década de 1960, provenientes do soul music, tendo uma batida mais pronunciada e algumas influências do R&B, rock e da música gospel.
JE: Onde aconteciam esses bailes?
MARINA: A Chic Show acontecia no Palmeiras, Casa de Portugal, Democratas, na Rio Branco que não lembro o nome, e em outros vários lugares.
No documentário Chic Show, Jorge Ben, que tocou e cantou no Palmeiras, relata que foi a primeira vez que se apresentou para tanta gente preta. Nesse mesmo documentário descreve que esses bailes eram muito cheios e que James Brown veio ao Brasil através da Chic show.
ASSISTA O TRAILER DO DOCUMENTÁRIO:
JE: Como você acha que esses bailes da Chic Show influenciaram os jovens a lutarem pelos seus direitos?
MARINA: Esses jovens geralmente eram da periferia e trabalhavam como doméstica, as mulheres, e os homens nas metalúrgicas. E o pessoal colocavam cartazes sobre esses bailes como um baile importante e top. No momento que iam para esses encontros, os jovens, se produziam muito bem, pareciam até um concurso de beleza.
JE: Existia esses concursos nesses bailes?
MARINA: Depois eles criaram, eu acho que em Araraquara, que era um baile preto, que as pretas iam como rainhas, já que não tinha modelos pretas, e naquele momento era a hora de muitas destacarem e os homens também tinham esse concurso e eles iam lindos, como reis.
Éramos tratados como rainhas e reis e sentíamos muito lindas e lindos.
E todos os jovens se empoderavam se sentindo muito importantes, já que era difícil nos ver representado como pessoas bonitas e chiques. Naquela época não tínhamos consciência que éramos herdeiros de reis e rainhas, que nossos ancestrais eram reis lindos e rainhas lindas.
No passado, esse era o momento que nós jovens nos sentíamos importantes e empoderados sendo do jeito que somos.
JE: Você comentou que seu marido é Dj. Ele quis ser DJ por causa desses bailes?
MARINA: Meu marido era Dj pois amava os bailes que curtíamos em SP, principalmente os da Chic Show que nos enaltecia nos dando o prazer de termos um dia que nos sentíamos reis e rainhas. Ele dava baile com a equipe Bossa Nova Blues e também já tocou na equipe chamada Os Carlo’s , Zimbábue, Musicália e na Black Music. Hoje não é mais Dj, mas temos todos os vinis que tocavam na época.
O criador da equipe de bailes ‘Chic Show” é o Alberto da Silva, o Luizão, abaixo, e ele é o protagonista do documentário de Emílio Domingos e Felipe Giuntini — Foto: Divulgação / Globoplay.
Abaixo algumas fotos dos bailes da Chic Show e inclusive o grande cantor James Brown se apresentando no Palmeiras. São fotos divulgação.